Capítulo bônus.

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Os relógios continuavam fazendo aquele barulho insuportável, que Eunbi tentava ignorar com todas as suas forças. A sala não estava completamente escura porque uma grande lareira ocupava a parede principal, dividindo espaço com as ampulhetas, quadros abstratos e uma roseira.

Tudo era anormal, desde a tonalidade das paredes até as pétalas negras das rosas. Portanto, a dona do local não seria diferente.

Kang Seulgi carregava no topo de sua cabeça uma coroa negra de espinhos, mesclada com um vermelho tinto... Sob a luz da lareira, as pontas dos espinhos brilhavam como as chamas. Seu rosto era impassível.

O tempo naquele local era como um deus sagrado; os minutos eram contados por diversos tipos de instrumentos.

Kwon Eunbi sabia exatamente que o demônio argumentaria da melhor forma possível sobre a situação, só que ainda assim, seus superiores só ficariam satisfeitos se ela fosse até lá:

— Acho que não precisamos de apresentações e todo o resto, não é? — Seulgi ergueu seu rosto e a encarou por longos segundos. — Eu entendo que seus amiguinhos estão bravos com tudo que vem acontecendo, só que minhas criações equilibraram até agora aquele inferno que vocês chamam de terra.

— Você tem razão. — Eunbi soltou a fala e chegou a rir baixo com a expressão de confusão da outra. — Apesar da minha posição, senhorita Kang, eu nunca negaria que, apesar de seus métodos não se encaixarem no que chamo de atos éticos... Eles foram exímios e dignos de admiração.

— Isso me surpreende muito, você foi a primeira conselheira a reclamar quando eu disse que criaria as sete desgraças.

— Porque eu sempre vou ser contra sete pessoas inocentes sendo jogadas em um destino de dor e solidão.

A risada de Seulgi fez Eunbi estremecer. Um misto de ódio e curiosidade tomou conta de seu humor:

— O que é tão engraçado?

— Dor e solidão? Eles se tornaram uma família mais fiel do que qualquer outra...

— Eles mataram inocentes e...

— Ah, me poupe, sua egocêntrica do caralho. — Os olhos de Seulgi brilhavam agora. — Essa merda que vocês chamam de dogmas, mandamentos e etc., matou mais inocentes do que os demônios. Mulheres e crianças foram queimadas simplesmente por uma crença cega e absurda que VOCÊS implantaram.

Os relógios da sala pararam abruptamente, deixando a finalização da última frase muito mais intensa.

Seulgi se moveu calmamente, ficando próxima o suficiente para que Eunbi sentisse sua respiração:

— Se o mundo acabar, a culpa é sua e da sua trupe de anjinhos que ficam assistindo ele cair cada vez mais em desgraça. Eu e minhas criações estamos fazendo mais pela terra do que vocês e suas nobres intenções. — A última frase foi dita em um sussurro. — E outra coisa, fiquem bem longe de Jimin. Ela tem total capacidade de consertar as coisas agora e, mesmo sendo um demônio, ela parece conhecer mais sobre lealdade do que todo o céu junto.

Eunbi sentiu a sala escurecer e entendeu que havia sido expulsa do local. Realmente não havia argumentos contra Seulgi, e ela estava bem com isso.

Os relógios voltaram a funcionar normalmente, e Seulgi soltou um suspiro alto:

— Pode sair das sombras agora.

Soojin surgiu lentamente, tomando forma apenas próxima à mesa de Seulgi:

— Não sabia que tinha tanto orgulho assim de nós.

— Não fique se achando. — Seulgi bufou, sentando-se em uma grande poltrona de couro. — Minha parte está feita, eles não vão interferir em nada. O resto é com vocês.

— Acho que você deveria conversar pessoalmente com Jimin. O peso que ela tem carregado...

— Eu não me importo com o peso que ela tem carregado. Não me importo se os portões do inferno se abrirem e a humanidade seja extinta. Eu já fiz tudo que poderia fazer com o destino que foi traçado. Eu não gosto de vocês. Nunca senti nada além do desconforto do vazio.

— Com todo o respeito, senhorita Kang. — Soojin sentia o medo correr por cada parte do seu corpo, mas não ia se calar diante de tudo que já havia visto. — Eu já tive visões passadas e futuras. Em uma dessas visões, eu me lembro muito bem de ver você auxiliando Jimin em cada passo que ela dava quando estavam em terra.

A dona da sala estremeceu diante da revelação. Seus lábios formaram uma linha reta e dura.

Soojin se encostou na grande mesa de mármore negro e suspirou baixo:

— Eu nunca contei isso para ninguém, nem para Jisun. Eu não quero que você me explique, só que se ela foi tão importante em algum ponto de sua existência, acho interessante não virar as costas para isso.

— Yoo Jimin é meu maior pecado.

Os olhos de Soojin brilharam intensamente, procurando ligações:

— Eu acompanhei todas as vidas de Jimin. Ela teve mortes traumáticas em todas. Mesmo sendo completamente fiel aos seus princípios e obedecendo todas as ordens divinas de ser uma boa pessoa... Ela só recebeu o sofrimento em troca. — Seulgi levantou o olhar, finalmente observando Soojin. — Jimin é meu desafio vivo contra quem quer que tenha criado o bem e o mal. Por isso, ela é tão diferente de vocês.

— Eu sinto muito por me intrometer assim.

— Eu sei. Você sempre foi muito boa em tudo que faz e extremamente injustiçada em suas vidas por isso. Eu não fiz escolhas em vão. — Só que eu imaginei que vocês se voltariam contra a humanidade uma hora.

A sala novamente ficou em silêncio, Seulgi tocou sua coroa e encarou Soojin por segundos que pareciam intermináveis:

— Volte agora e ajude os outros. Não posso me envolver diretamente. Só diga a todos que eles são muito mais capazes do que imaginam.


Sim. Eu disse que voltaria uma hora e vou postar o capítulo novo em breve. Esse foi só uma pequena explicação para que os próximos fatos fiquem mais claros.
Perdao pelo sumiço, mas bloqueio criativo é realmente algo horrível.
Espero que vocês não me abandonem.

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⏰ Última atualização: Oct 25, 2023 ⏰

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