Acordei sobressaltada. Meu coração batia acelerado e meu corpo estava coberto pelo suor frio. Fazia anos que isso não acontecia. Quando era mais nova eu sempre tinha pesadelos, então a família que havia me acolhido no lar temporário me levou para fazer terapia. Aproximadamente dois meses depois disso, os Russells se tornaram minha família adotiva.
Estiquei o braço para poder acender a luz, utilizando o interruptor que ficava próximo à minha cama, e com grande alívio, vi a claridade preencher o quarto. Meus olhos arderam um pouco antes de se acostumarem com a luminosidade da lâmpada fluorescente que brilhava acima de mim. Me afundei de volta nos travesseiros. Havia sido apenas um pesadelo.
Alcancei o copo de água que eu mantinha ao meu lado, na mesinha de cabeceira, e notei que minha mão tremia. Sorvi uma boa quantidade de água, e depois me concentrei para voltar a respiração ao normal.
Olhei ao redor do pequeno quarto de meu apartamento. Era o lugar que eu mais gostava na casa. Uma suíte com sacada, então não havia uma janela, e sim uma porta de correr que fazia com que o ambiente ficasse bem iluminado até o sol se pôr. Escolhi esse apartamento por esse motivo, pois eu precisava saber que a luz iria penetrar totalmente ali.
Com um suspiro me levantei, mais uma vez faltava apenas meia hora para o despertador tocar. Eu sempre acordava quando o sol nascia. Já tinha tentado voltar a dormir várias vezes, como minha irmã adotiva Julie sempre fazia, mas nunca consegui, então eventualmente parei de tentar. Não conseguia abrir mão de ter o despertador programado, no entanto. Olhei para a penteadeira, onde jazia meu crachá do hospital. A foto de cinco anos atrás me olhava de maneira acusadora. Era para eu ter trabalhado na noite anterior, mas tive uma enxaqueca terrível. Um dos médicos com quem eu trabalhava, Dr. Richards, receitou uma medicação e me mandou embora para casa. Me sentia culpada por ter feito Caroline trabalhar por dois turnos seguidos.
Peguei o crachá por um instante, o nome Ellen Russell estava desbotado, juntamente com o número de identificação e a função, enfermeira. Eu deveria solicitar um novo, mas confesso que tinha apego a esse. Mesmo que na foto meus cabelos castanhos estivessem ligeiramente bagunçados, pois naquela época eu ainda não me importava muito com os cuidados de um cabelo cacheado, e que meus olhos escuros parecessem dois buracos negros. A pele cor de chocolate estava com borrões brancos, devido ao desgaste do pequeno cartão de identificação.
Coloquei o objeto de volta na penteadeira e fui tomar um banho. Não sentia energia para ir à aula de pilates nesse dia, portanto resolvi me arrumar mais cedo e tomar café da manhã fora. Eu amava Starbucks, era minha fraqueza. Já sabia o que queria pedir antes mesmo de ter saído de casa, um cappuccino grande, um muffin de chocolate com gotas de chocolate e um croissant de presunto e queijo. Sim, parece exagero, mas o expediente no hospital me deixava com pouco tempo para conseguir fazer pausas e me alimentar. Também levaria algo para Caroline, para compensar minha ausência na noite anterior.
Tomei uma ducha quente e demorada, e levei ainda mais tempo para cuidar das madeixas, hidratando e modelando os cachos para que ficassem bonitos e no lugar. Depois passei um batom rosado discreto e um rímel. Nunca tive muito apreço por maquiagem, e com a correria do trabalho, me perguntava como as mulheres conseguiam aguentar aquele sebo que se formava no rosto quando o expediente finalmente acabava. Sorri para meu reflexo enquanto me avaliava. Me sentia excelente, mesmo que o pesadelo ainda ecoasse no fundo da minha mente.
Após ter vestido o uniforme azul e passado um perfume de fragrância suave, saí do apartamento rumo ao elevador. Enquanto estava no corredor aguardando, a luz piscou e por um instante tudo ficou na mais completa escuridão, e embora tenha durado apenas poucos segundos, o medo que tomou meu coração durou pelo resto do dia com o que eu vi na penumbra. A figura enigmática que habitava meus pesadelos estava a apenas uma distância de um braço de mim.
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A Rebelião
FantasyEllen Russel estava longe de ser uma pessoa normal, não importa o quanto ela se esforçasse para ser. Adotada aos cinco anos, ninguém sabia de onde ela viera ou o que havia acontecido com ela, pois ela não se lembrava nem do próprio nome. Assombrada...