Eu gostaria de chorar livremente, sem as restrições que impus a mim mesma. Admiro aqueles que não guardam as lágrimas para si, aqueles que não sofrem com o orgulho de não deixar transparecer o que se passa em seu interior. Mas não consigo me permitir ser igual a eles. Tenho que exercer controle sobre as emoções, e enterrar as memórias dolorosas até que elas não passassem de uma indagação: "Aquilo realmente aconteceu?".
Pelo menos isso era o que eu sempre achei que tinha, controle. Enterrei as emoções e lembranças tão fundo que depois de alguns anos parecia que nunca haviam acontecido, nem mesmo a indagação existia mais. O que eu não esperava era que elas me alcançariam, eventualmente. As memórias encontrariam uma forma de escapar de sua prisão. E como fantasmas despertos de um sono profundo, de um passado escondido, me assombrariam.
Tudo começou no dia em que o mundo como conhecemos acabou. Quando a ordem deu lugar ao caos, e a vida deu lugar a morte. Quando a noite infinita teve seu início, e a luz deixou de existir. Nem mesmo a tecnologia conseguia sobrepujar a escuridão, o fogo não queimava tão ardentemente como antes, sendo sufocado pelas trevas. Ninguém sabia o que tinha acontecido, portanto chamavam de Apocalipse. Mas eu sabia a verdade por trás do enigma. E era algo pior do que os humanos imaginavam.
O pandemônio que surgiu nos primeiros dias durou por mais tempo do que qualquer um poderia ter imaginado. Inclusive eu. Até que algo ainda mais surpreendente aconteceu. Algo que não fazia parte dos planos.
Um exército se formara, e impôs a ordem em meio ao caos. Um exército que faria com que tudo o que eu havia enterrado em mim começasse a escavar seu caminho para a superfície. Mas não pela sua força, nem pela disciplina e ordem com que comandavam o que restou da civilização. E sim pelo que eram... e com toda a certeza do meu ser, eu soube, assim que os vi.
Eles não eram inteiramente humanos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Rebelião
خيال (فانتازيا)Ellen Russel estava longe de ser uma pessoa normal, não importa o quanto ela se esforçasse para ser. Adotada aos cinco anos, ninguém sabia de onde ela viera ou o que havia acontecido com ela, pois ela não se lembrava nem do próprio nome. Assombrada...