Eu ainda estava pensando no que a Dra. White havia falado, em como ela havia me instigado a pensar de uma forma diferente. Durante todos os anos em que nos conhecíamos, ela sempre tentou me fazer encarar as coisas de forma prática e realista. Não fazia sentido que ela tivesse sugerido algo tão... místico. Ou sobrenatural, talvez.
Quando me dei por mim, já estava estacionando na entrada da garagem da casa de minha mãe, atrás do Toyota Yaris azul de minha irmã. Ela tinha um amor um tanto quanto intenso por automóveis, diferentemente de mim. Algo que nos fizera ter várias discussões ao longo dos anos.
A chuva havia parado por completo enquanto eu ainda estava no consultorio da Dra. White, algo pelo qual me sentia grata. Fui para a traseira do veículo, observando as gotículas de água na superfície do carro. Minha mão direita ficou úmida com essas gotículas quando abri o porta-malas. Por algum motivo, me senti incomodada com isso.
Retirei a mala de dentro do carro e o fechei, acionando o alarme enquanto me dirigia para a porta da frente. Abri a bolsa para procurar pelo molho de chaves da casa de minha mãe, mas não consegui encontrá-las antes de alguém abrir a porta com um entusiástico grito de boas-vindas.
- Ellen, você veio mesmo! – Exclamou Julie, enquanto me envolvia em um abraço apertado.
- Mas é claro que eu vim, Juju. Por que achou que eu não viria?
- Não sei, talvez porque não tem exatamente cumprido com o que diz ultimamente. – Ok, ela ainda estava brava por eu não ter dado notícias. Estava prestes a replicar quando vi minha mãe vindo em nossa direção.
- Olá, mãe. – Disse enquanto adentrava a casa e envolvia minha mãe em um abraço. Ela havia perdido peso, e estava com uma aparência frágil que eu nunca imaginei que ela teria. Nem mesmo quando estava lutando contra o câncer ela ficara tão abatida.
- Ellen, querida. Sentimos muita saudade de você. – Disse ela, com a voz embargada. – Não deixe Julie pegar muito no seu pé, ela apenas sentiu mais sua falta do que quer admitir.
- Mãe! – Exclamou Julie, em tom de reclamação por nossa mãe estar revelando algo que ela não queria que eu soubesse ainda. Mas ela logo acrescentou: - Tudo bem, ela está certa.
Nós três sorrimos umas para as outras e então Julie me acompanhou até meu quarto para que eu guardasse a mala. Ela aguardou pacientemente enquanto eu trocava as roupas mais sociais por um conjunto de moletom cinza que eu adorava. O tecido era macio, leve, e fazia com que eu me sentisse abraçada. Também substituí as sapatilhas por pantufas.
Dei uma boa olhada no quarto no qual passei a maior parte da infância e adolescência. A cama de solteiro havia sido substituída por uma de casal quando eu tinha aproximadamente quinze anos, pois havia decidido que uma cama de solteiro era muito pequena para mim. Minha mãe não queria aceitar, mas meu pai, por algum motivo, bateu o pé e ficou do meu lado. Sorri ao me lembrar dessa memória, mesmo que me causasse dor, ao pensar em como as coisas estavam diferentes agora.
Julie realmente havia trocado as roupas de cama, que exalavam um cheiro maravilhoso de amaciante. Ela escolhera o conjunto roxo escuro, que era um dos meus favoritos. Havia uma mesinha de cabeceira ao lado direito da cama, e uma mesa de estudos ao lado esquerdo, ainda ocupada com livros, fichários e canetas que eu havia usado durante os últimos anos do ensino médio e alguns livros do curso de enfermagem. A janela ficava na parede adjacente à mesa de estudos, com pesadas cortinas blackout de tom cinza escuro. Eu nunca as utilizara, pois tinha pavor de ficar no escuro total. Pelo menos hoje eu conseguia dormir sem deixar um abajur ligado.
O guarda-roupas ficava de frente para a cama, e foi para lá que me dirigi depois de me trocar e dar uma olhada nostálgica pelo quarto. Transferi as coisas que estavam dentro da mala para o guarda-roupas e guardei a mala embaixo da cama. Foi só quando estava pronta para descer que Julie se manifestou.
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A Rebelião
FantasyEllen Russel estava longe de ser uma pessoa normal, não importa o quanto ela se esforçasse para ser. Adotada aos cinco anos, ninguém sabia de onde ela viera ou o que havia acontecido com ela, pois ela não se lembrava nem do próprio nome. Assombrada...