Casal VS companhia aérea

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     Mu Qing não tinha nada contra os podres de rico – até tinha amigos que o eram!

     Mas, sinceramente, para quê pegar um avião para ir ao litoral? Não dariam nem seis horas de viagem se fossem de ônibus. Aquela passagem por si só custava todas as possessões materias que Mu Qing acumularia por toda a sua existência indigna.

     Ele sentia-se verdadeiramente deslocado naquele aeroporto enorme e chique.

— Não se preocupem. — Xie Lian deu um de seus sorrisos brilhantes — Voos nacionais são bem de boa, e meus pais pegaram um avião ontem.

— Se Gege diz ... — Hua Cheng deu de ombros na sua típica pose "vou agir descolado na frente do amor da minha vida".

— Odeio casais felizes. — revirou os olhos, e Feng Xin fingiu vomitar.

— Oh, mas a gente não é o único casal feliz aqui. — alfinetou, abraçando ao menor pela cintura (o que arrancou um "Sang Lan" deveras sem-graça).

     O platinado e o castanho trocaram olhares arregalados, enrubescendo.

— Quer ... dar as mãos ou algo do tipo?

     Mu Qing, em situações normais e se estivessem de fato namorando, negaria por pura vergonha e orgulho. No entanto, queria provar que sabia ser um bom namorado – mesmo que a relação fosse de mentira.

     Ignorou o fato de estarem na fila do check-in, no meio de milhares de desconhecidos. Tinha um sorrisinho debochado ao entrelaçar seus dedos.

     Tentou não pensar em como suas mãos se encaixavam tão bem quanto duas peças de um quebra-cabeça.

— Mas é claro, paixão.

— Que surpresa agradável, gatinho.

— Tudo por você, amoreco.

— Me sinto tocado pelo seu amor, razão do meu viver.

— O amor não é lindo, Gege? — Hua Cheng sussurrou ao pé do ouvido do namorado, que teve que segurar uma risadinha.

— Esse é o ponto do contato físico, luz do meu dia.

— Você entendeu bem o que eu quis dizer, queijo da minha goiabada.

— Oh, assim você fere os meus sentimentos, praguinha do meu coração-

— Interrompemos algo?

     De todas as formas que imaginou conhecer seus sogros de uma semana, ser pêgo sendo carinhosamente passivo-agressivo com seu suposto namorado não estavam entre elas. Mu Qing não conseguiu evitar corar desde a raiz de seus cabelos.

     O casal Feng era, sem dúvidas, a definição de "tanto faz".

     A mãe tinha um sorriso encantador que definitivamente passou para o filho. Seus cabelos eram salpicados por fios grisalhos, caindo como cascatas de chocolate. Tinha as mesmas covinhas de Feng Xin, e ruguinhas nos cantos dos olhos. Seu vestido azul celeste rodado definitivamente passou pela aprovação de Mu Qing.

     O pai tinha toda uma aura autoritária que enviou calafrios pela espinha do quarteto. Sua pele oliva ornava perfeitamente com a camisa de botão azulada que usava. Seus olhos eram idênticos aos do filho, mas muito menos gentis, e o nariz protuberante e sobrancelhas grossas também lhes era comum.

     A visão de duas pessoas tão diferentes de mãos dadas e puxando malas gigantes seria até cômica, mas não podia falar nada, porque (tecnicamente) ele e Feng Xin também eram um casal formado por polos opostos.

Finge Que (NÃO) QuerOnde histórias criam vida. Descubra agora