A união irrita a homofobia

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     Feng Xin poderia ter pedido rato recheado de barata, e Mu Qing só teria percebido quando o garçom bonitão colocasse o prato sobre a mesa. Ele estava muito ocupado colocando sua atenção no calor e na voz do namorado.

     Para sua sorte, focar em Feng Xin evitou que tivesse um ataque de ansiedade. E, para sua dupla sorte, o prato foi caranguejo e camarão, não rato recheado de barata.

— Pelo visto, esses caranguejos são do mangue. — falou o castanho, um pouco sem-graça com toda a atenção recebida — Eles costumam ter o sabor mais forte que os do mar que a gente comeu na praia.

     Assentiu, piscando repetidas vezes para amenizar a intensidade de seu olhar. Feng Hui riu.

— Já mencionei o quanto vocês são doces?

— Já mencionei o quanto você corta qualquer clima romântico com esses seus comentários, Mãe?

— Azar o de vocês. Eu sou a shipper número um de "fengqing". — deu de ombros, sorridente, ao beber de sua taça de vinho — Me aguentem.

     Mu Qing não conseguiu evitar imaginar a reação da sogra ao descobrir que o relacionamento deles era de mentira. Seu peito doeu, e não foi pouco.

, pede p'ra ela deixar a gente? — pediu, choroso — Ela gosta mais de você do que de mim.

— Blasfêmia! — bateu a mão espalmada sobre a mesa, indignada — Não conhece a tua mãe, não?

     Era para ser uma piada, mas o clima pesou mais que um tanque militar pilotado por elefantes. Foi a vez de Feng Xin apertar o agarre na mão do namorado.

     E, então, uma risada muito gostosa de ouvir ecoou pelo salão. A voz era grave, mas nem tanto. Era jovial e despreocupada.

     Quando Mu Qing olhou para a entrada do salão, quase caiu da cadeira.

— Lan Zhan, me defenda! Cheng-Cheng quer me bater. Socorro!

      O homem, apesar do que disse, não parecia nada preocupado. Ele exibia um sorriso de orelha a orelha, os olhos azul-acinzentados brilhando à luz do lustre. O cabelo preto como a noite estava amarrado no rabo-de-cavalo que inspirou o penteado do platinado, e balançava com seus movimentos como num comercial de shampoo de rico. Os membros longos e a curva da cintura davam muita fluidez aos seus movimentos, principalmente aqueles onde brincava com a flauta preta que tinha em mãos.

     Logo atrás dele, com um esboço microscópico de sorriso, outro homem apareceu. Este era mais largo na composição corpórea, o cabelo preto comprido o suficiente apenas para repartir de lado. Ele possuía um tipo diferente de graciosidade, parecendo até etéreo. A roupa branca contrastava com o estojo preto de instrumento que carregava nos braços, que devia ter um metro de comprimento.

— Faça a merda do seu trabalho ou eu quebro as tuas pernas, Wei Ying.

     Por fim, Jiang Wanyin apareceu. Mesmo de longe e com sua indiscutível beleza, ele pareceu exausto. Mu Qing, no entanto, estava ocupado demais analisando cada respiração do flautista para notar qualquer coisa ao seu redor.

— Não é aquele flautista que você gostava de escutar uns anos atrás, ?

     "Ele notou. Ele lembrou que eu gostava desse cara. Ele reconheceu o rosto dele. Ele ... AAAAAAAAH-"

Ainda gosto. — corrigiu, abismado, acompanhando o trajeto da dupla com uma atenção quase perturbadora

— Do Wei Wuxian? — Feng Hui questionou, surpresa — Você é da época que ele tinha canal no YouTube?

Finge Que (NÃO) QuerOnde histórias criam vida. Descubra agora