O habitat dos "chuta pobre"

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     Há pouco que valha a pena ser descrito entre o decolar do avião e a chegada do grupo no hotel. Talvez apenas o fato de que as calças de Feng Xin permaneceram perfeitamente secas até o fim.

     O calor atingiu o platinado como um taco de basebol no momento em que saíram do aeroporto. Isso fez com que reconsiderasse sua reposta positiva para toda aquela palhaçada – não pela primeira vez e com certeza não pela última.

     Havia nada mais nada menos do que uma limosine esperando por eles na porta. Sentiu-se uma madame chata de filmes pretenciosos da sessão da tarde, principalmente quando um cara forte tomou sua mala para colocá-la no porta-malas.

     Feng Xin abriu a porta para si. Tinha um sorrisinho canalha.

— Primeiro os idosos.

— Xie Lian, você escutou. — brincou.

— Eu não posso com vocês dois ... — suspirou, entrando logo depois do casal Feng.

— Você está desprezando o meu cavalheirismo e gentileza, brabuletinha? — fez um bico deveras dramático.

— Me chame de "brabuletinha" de novo e eu te castro. — ameaçou, entrando de uma vez.

— Coitada da nossa futura barriga de aluguel. Só vai poder carregar uma miniatura de você ...

     Mu Qing nunca sentiu-se entrar em combustão espontânea como naquele momento. Deu um tapão no namorado, exclamando um "sem-vergonha" fino demais. Hua Cheng e Xie Lian seguraram o riso, mas Feng Hui estava literalmente chorando de dar risada e apoiada no marido – o dono da pior "cara de cú" da história das "caras de cú".

     (Mu Qing jamais admitiria que já havia criado um filho deles no The Sims num momento de fraqueza. Seria humilhação demais. Sua mãe ter decoberto sem querer já era castigo o suficiente.)

     A viagem até o hotel foi relativamente rápida. Não houve muito trânsito, e a vista era agradável.

     Pier Lótus era simplesmente o maior hotel que Mu Qing já viu em toda a sua existência.

     Haviam plameiras, grama fofinha e várias lagoas cheias de lótus e carpas coloridas. A construção gigantesca tinha um aspecto rústico, a fachada de madeira escura, as janelas e porta amplas. Se prestasse atenção, conseguia escutar as ondas do mar se quebrando ao fundo.

     Mu Qing sentiu-se com quatro anos de novo, entrando numa casa gigantesca e chique que não era sua e tendo que se comportar ridiculamente bem para não irritar aos donos idiotas e elitistas.

     Uma mão quente tomou as suas, que se contorciam em seu colo. Ela separou-as, tomando a direita.

— Pode apertar se precisar. — sussurrou a voz de Feng Xin.

     Comprimiu os lábios, assentindo de leve. Tentou não corar, e esperava que o castanho não conseguisse escutar o quão acelerado estava seu pulso. Ele aproveitou aquelas migalhinhas enquanto pôde.

     Mal saíram da limosine e suas malas já estavam sendo carregadas para dentro por funcionários de uniforme roxo.

— Que pessoal diligente! — Feng Hui bateu duas palminhas, ainda sorrindo — Espero que sejam bem remunerados, coitadinhos ...

     Qualquer estranhamento para com essa fala foi para o fundo da cabeça do platinado quando de fato entraram no hotel.

     O chão era feito de longas (longas!) tábuas de madeira escura, que tinham flores de lótus entalhadas aqui e ali direto na superfície. Havia uma fonte de pedras naturais (por onde a água caía feito uma minicachoeira) com sutis luzes coloridas, e grandes carpas nadavam graciosamente por entre as lótus. Poltronas confortáveis com um estilo puxado para o barroco estavam dispostas ao redor dela, e namoradeiras com almofadas de crochê debaixo das janelas e cortinas de algodão suave.

Finge Que (NÃO) QuerOnde histórias criam vida. Descubra agora