HELPLESS

Epílogo

Suas mãos mal conseguiram colocar a xícara abaixo da máquina para fazer chá. Tremiam tanto que Yunho quase derrubou o objeto umas três vezes, a porcelana fazendo barulho ao ser posicionada finalmente. Ele deixou que o aparelho fizesse seu trabalho, e prendendo a respiração, se virou para a caixa ainda disposta sobre a mesa, se aproximando para fechá-la e evitar que continuasse olhando para seu conteúdo.

Ele andou apressadamente até seu quarto com a encomenda bizarra, a colocando no chão antes de resgatar sua mochila preta de debaixo da cama. Passou a enchê-la com as roupas que mais usava, equipamentos importantes e até mesmo a caixa recebida. Não podia simplesmente deixá-la pelo castelo. Quando arrumada, a mochila foi novamente colocada sob a cama, pronta para ser resgatada quando chegasse a hora.

Em seu bolso, uma seringa esperava para ser injetada no príncipe assim que o Jeong tivesse a oportunidade. Ele a conferiu mais uma vez, apalpando a calça e observando no espelho se estava visível. De fato, estava, e ele a moveu para o bolso interno do paletó, onde poderia ser mais dificilmente localizada.

Retornando para a cozinha, observou que a bebida quente já estava pronta, fumegando, seu conteúdo girando lentamente na xícara. O assassino respirou fundo algumas vezes com as mãos apoiadas no balcão, tentando se acalmar. Se aparecesse naquele estado, teria que responder muitas perguntas.

Seus passos estavam lentos tanto pelo cuidado em não deixar que o líquido quente derramasse, quanto pelo seu nervosismo. O aroma calmante do chá fazia seu corpo querer relaxar, mas ele não conseguiria fazer isso agora, empenhado demais em pensar o que diria para Mingi, o que faria dali por diante, o que seria da sua vida assim que tomasse uma decisão.

Convenientemente, quando pisou no corredor, pôde ver os homens deixarem o escritório, conversando entre si. Wooyoung, San e o rapaz com quem Mingi fazia negócios estavam lhe fazendo o favor de deixar o príncipe sozinho, passando por si sem fazerem questão de olharem para ele. Yunho tinha conseguido fazer todos se virarem contra ele e aquilo poderia até ser uma coisa boa para a missão, mas lhe incomodava brevemente.

Segurou a asa da xícara com uma mão só, arriscando derramar o conteúdo com a tremedeira que ainda estava um pouco presente, e girou a maçaneta para poder adentrar o cômodo. Não se lembrou de ter batido e sabia que Mingi não se importaria com isso, mas pensou que devia tê-lo feito quando o garoto se assustou com sua aparição e passou as mãos pelo rosto de forma rápida. Seus olhos não negavam que ele havia chorado naquele breve momento, e o coração do guarda-costas quebrou em mil pedacinhos.

– Trouxe chá pra você. – Disse, escolhendo não perguntar o que havia acontecido por saber que ele falaria algo se quisesse.

Ele sorriu fraco, e Yunho teve uma vontade incontrolável de se aproximar, colocando a xícara sobre a mesa e resgatando seu rosto com ambas as mãos. Ele se abaixou para poder deixar um beijo nos lábios grossos do futuro rei, se demorando ali por saber que sentiria falta disso.

– Suas mãos estão geladas. – Mingi comentou assim que eles se separaram, agora sorrindo um pouco mais verdadeiramente. – Obrigado.

– Disponha.

O loiro apoiou a cintura na mesa onde o garoto trabalhava, não precisando olhar para mais nada além dele. Cruzou os braços, ignorando a pontada fraca em seu ombro, e observou quando ele levou a xícara à boca, sorvendo o líquido e fazendo uma careta segundos depois.

– Eu devia ter assoprado. – Comentou, colocando a mão em frente aos lábios.

Yunho riu, querendo beijá-lo mais uma vez. Se atendesse aos seus desejos, não se separaria do garoto nem por um segundo, e pensar aquilo lhe causou uma melancolia que ele fez questão de empurrar para o fundo de seu âmago. Não podia deixar que ela se apossasse de si e o fizesse desistir logo agora.