Lovely

Capítulo XXIX: Abelhinha

A chaleira foi colocada sobre o fogo para que a água fervesse. Enquanto esperava, Belle tratou de abrir a porta do armário onde continha as caixinhas de chá, escolhendo o chá preto e retirando um dos saquinhos. Colocou-o na mesa e foi em direção ao banheiro, retirando a toalha do cabelo, secando mais um pouco antes de pendurar em um gancho ao lado do box. Parou em frente ao espelho do banheiro, abriu o armário embutido e retirou a escova de cabelo, penteando calmamente antes de voltar a guardar o objeto.

Era sexta e estava sozinha em casa. Fleur havia ido passar o fim de semana com os Weasley, deixando o apartamento inteiro apenas para Belle e Trocinho, a coruja irritada que agora habitava seu quarto. Voltou para a cozinha e foi até a geladeira, pegando a geleia de morangos que comeria com as torradas velhas. Havia chegado há menos de meia hora do ensaio e não estava nem um pouco afim de preparar algum jantar para si. Em momentos como aquele ela odiava a Lei da Transfiguração Elemental de Gamp por não conseguir criar comida com sua varinha.

Havia se passado apenas uma semana desde o incidente na loja dos Weasley. Passara o tempo todo em silêncio no trabalho naquele dia e, na volta, não falou muito com Fleur, apenas explicou por alto e se recolheu, querendo ficar sozinha com seus pensamentos. Achava que era uma forma melhor para colocar seus pensamentos em ordem, sem ninguém tentando lhe consolar ou falando qualquer coisa para que ela se sentisse melhor. Ela não sentia, mas queria descobrir isso sozinha. Usou a semana para tentar colocar seus pensamentos em ordem.

Claro que não havia envelhecido tanto em poucos meses. Tinha apenas 19 anos. Mas agora tinha um emprego, precisava ajudar nas contas, responsabilidades como dançarina e uma possível guerra rondando sua porta, onde possuía amigos envolvidos - Fleur e Bill trabalhando ativamente - e outros que sofreriam demais com a ascensão de Você-sabe-quem. Não poderia mais ficar agindo feito uma menina e agora se policiava para não fazer com tanta frequência.

É claro, havia chorado bastante nos últimos dia enquanto ia para o trabalho, precisou de muita concentração para conseguir se recompor e parecer o mais decente possível. Mas durante a noite apenas ficava encarando a lua por sua janela, abraçando o travesseiro e pensando.

Será que seria sempre aquilo enquanto estivesse ali? Sendo assombrada pelas questões? "E se nós tivéssemos ficado juntos?" "E se pudéssemos voltar?" "E se..." Essas perguntas rondavam sempre a sua cabeça, a sombra de Fred Weasley a cercaria enquanto estivesse ali, com poucos passos de distância da maldita loja. Morar tão perto de onde ele morava não estava lhe fazendo bem. Até cogitava ir para a França viver com sua mãe, algo que sempre quis, mas deixou de sonhar com isso ao perceber que as coisas não eram tão simples.

Sempre fora seu sonho viver em um lugar quente e ensolarado, poderia até mesmo entrar em alguma academia de dança na região onde viviam seus parentes. O que havia mudado para ter ficado na fria e nublada Inglaterra? Ela nem era dali, era escocesa e morava em um vilarejo distante.

Sua vida havia mudado de diversas formas em tão pouco tempo. A morte de seu melhor amigo tirou sua vida dos eixos, fazendo-a ficar sem chão. A pressa em sair de casa a levou para Londres, onde agora vivia com Fleur. Gostava da companhia dela, mas logo ela se casaria e Belle ficaria sozinha mais uma vez. O que faria então? Teria que aprender a conviver com a existência de Fred Weasley em sua vida. Eles eram praticamente vizinhos e Belle era presente na vida de Fleur, que em breve seria parente dele. Como seria todas as vezes que tivesse que encontrar o rapaz por estar indo visitar Fleur e Bill?

Sentia raiva dele. E mágoa. Na verdade ela se sentia triste. Triste por amar tanto o rapaz que até bolava planos em sua mente para tentar evitar o problema ruivo. Bufou e massageou as têmporas. Iria amaldiçoar George por lhe fazer passar por aquilo mais uma vez. Ela estava progredindo de uma forma louvável e agora tudo parecia ter descarrilhado. Deveria ter se esforçado mais.