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Eu estou sentada observando meus pais que, entretidos e rindo, cozinham alguma coisa,ou tentam cozinhar. O sorriso não saí do meu rosto, é tão bom ver que mesmo depois de todo esse tempo eles dois ainda parecem um casal de adolescentes apaixonados. Meus pais sempre foram o modelo de relacionamento que eu queria ter no futuro. Será que meu casamento com Simone era assim?

Mas o que... Eu não deveria estar pensando nisso, deveria?

Volto a realidade ao sentir alguém puxando a barra de minha blusa, afasto-me um pouco da mesa e olho para baixo me deparando com aquele pequeno fofo. Ele é a minha cara... E tem alguns traços dela.

— Oi, pequeno.

Eu o pego no colo e coloco-o sobre a mesa, sentado de frente para mim. A mesa é de madeira aparentemente sólida, não corre riscos dela quebrar.

— Sente, mommy, eu estou cheiroso!

Estica as mãozinhas em direção ao meu rosto, seguro-as e as cheiro, estão com um cheiro realmente delicioso de... coco e aveia? Parece que sim. Vou subindo o nariz por seus braços e logo chego em seu pescoço, ele gargalha e tenta me parar. Eu rio, enfiando mais ainda meu nariz na curva entre seu ombro e o pescoço. O cheiro dele me lembra alguma coisa, parece o perfume que eu usava... Antigamente. Era o meu favorito.

— Mmmm, está cheiroso mesmo.

— Eu estou com seu cheiro, mama comprou aquele perfume que você amava.

Levanto as sobrancelhas surpresa, como ela sabe disso? Ah, claro... Nós somos casadas. Pelo menos ela parece me conhecer, até que Simone não é tão inútil quanto pensei que fosse.

— Boa escolha.

Olho para Simone que está de pé ao nosso lado, um pouco distante. Ela sorri timidamente enquanto me observa interagir com Bernardo. É estranho pensar nele como meu filho, porque tecnicamente falando eu me sinto como uma garota de dezesseis anos. Isso é tão...

Volto a conversar com Bernardo, ele me contava animado sobre seu dia na escola e o quanto estava ansioso para as férias de verão. Eu o ouço atentamente, acho que seguirei o conselho do Dr. Antônio e tentarei viver minha antiga rotina, mesmo que eu não saiba nada sobre ela ainda. Simone se junta a meus pais e os ajuda a terminar o jantar.

Tudo ocorreu perfeitamente bem, quem olhasse de fora diria que erámos uma família grande e feliz. Entre termos nós realmente somos uma, mas... Vocês entendem, né? Eu não me sinto totalmente ligada a eles. Quer dizer... Ligada a ela.

O jantar foi perfeito, mamãe fez questão de dizer que o arroz foi mérito de Simone, assim como a salada de tomate. Dona Gisele não poupou elogios a ela, o que só me fez crer mais ainda que ela e meu pai admiram e amam Simone. Eles parecem tão íntimos, eu só queria saber quando exatamente isso aconteceu.

Eu só quero entender como viemos parar aqui. Como chegamos à esse ponto...

/ /

Infelizmente meus pais tiveram que ir embora, alegaram ter que trabalhar cedo amanhã de manhã, embora eles parecessem estar mentindo. Mas eu não sei nada sobre a vida deles agora, quem sabe eles tenham um trabalho realmente. Levei-os até a porta e antes de irem, os dois disseram a mesma coisa: "não seja rude com Simone, ela não tem culpa de nada, vocês não estão mais no colegial e você não a odeia mais".

Legal família, agora expliquem isso para a minha memória defeituosa.

Claro que eu não falei isso, vai que eles resolvem me punir de alguma forma? Além do mais eu não perdi o respeito por eles, e responde-los ironicamente seria faltar com o respeito. Enfim... Focando na minha nada convencional rotina normal, ou quase normal.

Stupid Wife - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora