Capítulo 23

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Mei voltou a se deitar na cama, vendo Sanzu praticamente correr para fora do quarto, provavelmente na intenção de terminar o que haviam começado. Sem se importar, ela virou de frente para Mikey e notou que este parecia estar na mesma posição de antes: encolhido enquanto abraçava sua coberta, sua feição sendo praticamente a de um bebê que dormia tranquilo sem preocupação alguma. Ela então levou calmamente sua mão até os cabelos esbranquiçados do rapaz, o vendo abrir seus olhos lentamente, como se estivesse ligado a qualquer toque considerado estranho que recebesse. Tinha medo do que poderia acontecer enquanto adormecido, por isso sempre se encontrava atento ao seu exterior.

Manjiro encarou ela por alguns minutos, virando bruscamente para o outro lado. Dormir era a única coisa que gostaria de fazer no momento, não receber afeto ou algo do tipo. Percebendo isso, Mei pensou por um tempo, pegando seu celular e finalmente lendo as mensagens de Shinichiro. Sentiu seu coração se apertar quando leu "Você já chegou?", enviada alguns minutos depois de ir embora de sua casa no dia anterior. Deixar o rapaz conversando sozinho era algo que não queria que acontecesse nunca mais.

Assim, apressada, disse que estava tudo bem, e óbvio, pediu desculpas pela grande espera que o fez passar em busca de um sinal. Incrivelmente, o Sano respondeu em questões de segundos, como se estivesse esperando no momento certo. A Haitani sorriu, não notando quando Mikey, novamente acordado, a encarava com seu olhar morto, sabendo exatamente com quem ela estava conversando. Assim, ele se levantou e sentou na cama, olhando para o outro lado prestes a levantar. - Olha, eu não vou mais me meter nisso, mas fique sabendo que: se você quebrar o coração dele, você vai se ver comigo. Mas se ele quebrar o seu, aí a coisa vai ficar feia. Pretendo deixá-lo bem ciente disso também, então não precisa se sentir pressionada.

Mei permaneceu estática por um tempo, sorrindo ao acompanhar com os olhos Mikey entrar no banheiro. Achava engraçado como o rapaz tentava se mostrar durão na frente de todo mundo, principalmente após vê-lo dormir agarrado em seu paninho. Mas também possuía pena, talvez esse fosse o único jeito que encontrou para se esquecer tudo de ruim que acontecia em sua vida. A Haitani até que entendia um pouco como ele se sentia, mas claro que não o suficiente, pelo menos ela pensava que não.

Com isso, levantou novamente e saiu do quarto, indo em direção até o de seus irmãos para finalmente retirar seu pijama, e talvez quem sabe, se encontrar com Shinichiro. Queria sim encontrá-lo, sentia que devia uma desculpa ou algo do tipo por não responder suas mensagens no dia anterior, mesmo que isso fosse perfeitamente normal. Ela estava sem tempo, e era isso o que iria falar. Mesmo que estivesse com saudades, não possuíam nada sério, ela não poderia se apegar de forma alguma. Talvez fosse até mesmo por isso que se "permitiu" ficar com Haruchiyo no dia anterior, mesmo que fosse algo considerado o "fundo do poço".

Chegando finalmente no local, abriu a porta sem mais, vendo Rindou dormir estranhamente bem enquanto Ran permanecia sentado com enormes olheiras embaixo de seus olhos. Mei foi se aproximando lentamente, se assustando quando viu os olhos de peixe morto de seu irmão mais velho se virar rapidamente em sua direção. Ele então tomou o maior cuidado para se levantar da cama e não acordar Rindou, correndo em direção da garota quando estava "seguro". - Mei!! Meu deus, Mei! Como foi ontem?? Ele fez alguma coisa com você?? Ele te bateu?? - Ran segurava firme nas bochechas de sua irmã, que, por outro lado, agarrou seus pulsos em busca de acabar se soltando.

- Ranran, eu tô bem!! Não se preocupa. Acha mesmo que o Manjiro teria coragem de fazer alguma coisa comigo? - Mei sorria, conseguindo abaixar as mãos do rapaz, que tentava entender o que ela estava querendo dizer - Ele é uma "criancinha" ainda, não vai mexer nem em um fio do meu cabelo. Além de que, qual é Ran, eu sou uma Haitani, sei me virar muito bem. - Ela se desprendeu completamente e foi até suas malas, sentando no chão em busca de ficar mais próxima de suas roupas, porém acabou pegando seu celular antes de qualquer coisa. "Aaaaah, Meimei, você sabe. O Rindou tem muito medo dele, então eu pensei que-"

- "Rindou" meu pau. - O citado disse espontâneo, se levantando em seguida para observar ambos - Mei, a verdade é que esse aqui - Apontou para Ran - Não conseguiu dormir a noite toda porque ficou preocupadinho com a irmã dele, tá? Então trate de dar atenção pro pobre coitado. - Ficou totalmente de pé enquanto ia em direção ao banheiro - Aliás!! Minha querida irmã, se prepare pois o seu "Ranran" perdeu a aposta da festa, então já vai decidindo sua fantasia pro 150. - Fechou a porta do cômodo sem mais nem menos, deixando uma Mei extremamente confusa para trás enquanto ligava o chuveiro.

- Ãh? Mas a festa do 150 já não era a fantasia?? - A garota perguntou olhando para o irmão mais velho, que balançou a cabeça positivamente - Do que esse maluco biruta tá falando então? - Voltou a mexer no celular, sorrindo minimamente ao lembra que se encontraria com Shinichiro mais tarde. E Ran claramente percebeu isso. "Sim...já era. Ele pensou que eu não havia aprovado, mas mal sabe ele que os convites foram distribuídos com isso escrito", o rapaz foi parando de falar aos poucos conforme percebia que Mei nem ao menos estava mais naquele mundo, abrindo um mínimo sorriso por isso.

Ela deixou o celular de lado e se levantou em um pulo, retirando uma roupa básica de sua mala. Como seu passeio era uma volta de moto e, quem sabe, uma parada na casa de Shinichiro, achou melhor não ir de salto dessa vez. Por isso, escolheu uma blusa larga, uma calça legging e um tênis, todas da mesma coloração escura. Não estava nem aí para o que iriam fazer, o importante era que iria se encontrar com o rapaz, o qual não via faz tempo. Nem maquiagem fez questão de colocar. Vai que, por um acaso, as coisas acabassem apimentando por lá.

- Ran!! Eu já te mostrei minha fantasia?? - Perguntava apressada enquanto calçava seus sapatos, ouvindo um "Hmhm" vindo do irmão - Calma, da pra mostrar rapidinho. - Correndo novamente até sua mala, retirando um colã preto e logo em seguida uma capa arroxeada, arrumando em cima da cama. Ran olhou, olhou, até finalmente se lembrar de quem era. "Ravena??", perguntou surpreso, recebendo um aceno positivo como resposta. "Garota, não quer deixar mais fácil pra ela tirar, não?", o sorriso no rosto do rapaz saiu rapidamente enquanto via Mei guardar sua fantasia, com a feição de questionamento. - Ela...quem? Ran? Tem algo que queira me contar?

Ambos ouviram o barulho de alguém saindo do banheiro acompanhado de uma buzina distante, porém que claramente estava em frente a casa. Ainda um pouco receosa, tentando entender o que seu irmão queria dizer, Mei guardou novamente sua roupa na mala e deu um beijo na bochecha de ambos os rapazes, olhando especialmente para o mais velho enquanto ia em direção às escadas. Rindou, por outro lado, olhava para Ran, sabendo claramente que alguma coisa havia acontecido. O segundo então se levantou e foi até a janela cruzando os braços, vendo sua irmã sorrir ao subir em cima da moto de Shinichiro. - Tá com medo de perder a aposta? - O de óculos levou levemente o canto de seus lábios, vendo seu irmão sorrir debochado.

- Nunca. Elas só se reencontraram, e a festa no 150 nem aconteceu. A Mei pode beijar quantas bocas forem, mas eu confio que ela sempre volta na primeira. Até você é assim, Rindou, sempre acaba voltando pro "você sabe quem".

- Já chega, Ran! O Haruchiyo não tem nada haver com essa história, não bota ele nisso. - Firme, o rapaz deu uma última olhada pela janela, vendo aquela moto finalmente sumir de vista - Você sabe que o que eu tenho com ele é passageiro, foi só um lance, igual a Mei com a Hana. Ela tá apaixonada pelo cara, isso é óbvio. Elas podem até ficar de novo, mas não vão terminar juntas, escuta o que eu tô te falando. - Rindou se afastou e voltou ao banheiro, ligando o secador para finalmente arrumar seu cabelo.

Mais ao fundo, ainda na mesma posição, Ran balbuciava: - Não vão terminar juntas, né? Veremos.

あBᴜʙʙʟᴇɢᴜᴍ Bɪᴛᴄʜ - Sʜɪɴɪᴄʜɪʀᴏ Sᴀɴᴏ +18Onde histórias criam vida. Descubra agora