Capítulo 31

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— Pera aí, o que?? E o que eu tenho haver com isso?? — Mei aumentou seu tom de voz, ouvindo Shinichiro praticamente sussurrar um "Eu vou conversar com o Manjiro", lhe entregando um selar rápido em seguida, sumindo pela entrada. — Meu deus, Ran, vê se me erra. Não me coloca nesse assunto do Rindou aí não, eu já tô cheia de coisa pra pensar. — Parecia realmente brava, talvez não com ele em si, mas tudo estava a fazendo jogar em cima de seu irmão, algo que provavelmente se arrependeria depois.

Ran olhou para ela, incrédulo. "Como ousa falar com seu irmão mais velho dessa forma??", perguntou aumentando seu tom de voz, virando completamente para a garota. O clima ficou completamente pesado, uma briga nunca jamais vista estava se formando. Ficaram mudos por um tempo apenas se encarando, fazendo com que qualquer um que entrasse no quarto se assustasse com a batalha silenciosa dos irmãos. Mei o encarava com seus olhos caídos, e Ran, nada orgulhoso, fazia o mesmo.

O rapaz então se virou novamente para a parede, ouvindo sua irmã começar a falar — "Como ousa"? Você nem ao menos me viu crescer, acha realmente que eu vou te respeitar como um Deus?? — Começou a falar da boca para fora, estressada com seus últimos dias. — Eu implorei pra me deixarem ficar aqui no Japão com você e o Rindou, mas não, os dois precisavam entrar no mundo das gangues aqui também. Sempre tem que ser o melhor, né? — Gesticulava minimamente com as mãos, sabendo o quão irritado seu irmão estava ficando. Querendo ou não, eles se conheciam muito bem.

Ran se virou novamente, se segurando para não falar o que não devia. — Pra sua informação, eu tentei fazer com que você ficasse aqui com a gente, mas não deixaram por motivos óbvios: como dois garotos que acabaram de entrar na maioridade iriam cuidar de uma menina de 12 anos?? — Começou a se exaltar cada vez mais, não se importando se seria daquela forma ou não — Além de que sempre foi só eu e ele, é difícil de se acostumar do nada com uma garota entrando na nossa casa sem mais nem menos depois que seu pai teve um caso com a secretária! — Disse da boca pra fora, se arrependendo rapidamente em seguida. Amava sua irmã e não a culparia nunca por isso, mas é inevitável não sentir raiva de seu pai após ele se separar de sua mãe e ainda trazer para casa uma nova mulher com uma criança em seus braços. "Meninos, essa é a Mei! A irmã mais nova de vocês", se lembraria dessas palavras até morrer.

Ela ficou em silêncio por um tempo enquanto digeria tudo, sentindo seu coração bater cada vez mais rápido. Queria entender o que estava acontecendo, precisava saber o que ele queria dizer com isso. Um pouco mais pé no chão, olhou fixo para Ran e perguntou "C-Como?", vendo este se levar para conseguir conversar melhor com sua "irmã" — Nossa mãe não é a mesma. Porque você acha que a gente foi embora tão rápido de Hong-Kong? — Parou por um tempo, rindo de canto, mesmo que não visse graça alguma — O Rindou vai me matar quando souber que eu te contei, mas sim, nosso pai trocou minha mãe pela sua. — Disse na lata, sentindo seu coração se apertar.

Só não doía mais que o de Mei, que se despedaçava aos poucos. Realmente nunca foi muito próxima de seus pais, eram seus irmãos que cuidavam de si. Sentiu muito quando eles faleceram, mas não por saudade, e sim pelo fato que teria que ficar todo esse tempo afastada de seus queridos irmãos. Agora Ran vem e simplesmente solta essa bomba? Ela não deixaria barato, mas antes, precisava se recompor. Com isso, levantou sua cabeça e segurou suas lágrimas, as quais evitava frequentemente com que caíssem. Raramente se veria Mei Haitani chorar.

— Porquê tá me contando tudo isso agora? — Perguntou séria, olhando diretamente nos olhos de seu irmão. Ran se sentia incomodado com isso, claramente se sentindo culpado por lhe contar dessa forma. "Você teria que saber cedo ou tarde, é só que-" — Você disse sem pensar como sempre, não é? É sempre assim, fala as coisas e depois se arrepende. Porque não tenta pensar pelo menos um pouco antes, em?? Quem sabe assim alguém não consegue te aturar por mais de uma semana. Ah não, esqueci que você fica muito ocupado DORMINDO O DIA TODO!! — Mei se levantou rapidamente e saiu batendo a porta atrás de si, tendo uma ideia de onde poderia encontrar conforto por agora, mesmo que mínimo. Odiava brigar com seu irmão, mas odiava mais ainda saber que foi praticamente enganada por toda sua vida. Não que fosse ruim ser apenas "meia-irmã", apenas não estava preparada para receber essa notícia, não do jeito que foi. Assim, quando se deu conta, já estava em frente a porta se Mikey, batendo repetidamente.

Ouviu um "Entra" baixo, vendo o de cabelos brancos deitado enquanto Shinichiro, sentado também na cama, olhava preocupado para ela. Mei adentrou o quarto e permaneceu em silêncio, mantendo sua cabeça baixa. Não queria responder nada naquele momento, mesmo escutando o Sano mais velho perguntar "Tá tudo bem?". — Shin, a gente pode conversar mais tarde? — Abraçava seus braços com força, tentando de alguma forma fazer com que todo aquele sentimento fosse embora. "Mas Mei-", ele continuava, recebendo como resposta: — Shinichiro, por favor. Eu te mando mensagem mais tarde, tá? — Com isso, a garota viu Mikey sussurrar alguma coisa para o irmão, que logo saiu em seguida. Antes, deu um beijo na testa da Haitani, evitando olhar para trás. Não queria envergonhá-la ou algo do tipo.

Manjiro ficou um tempo em silêncio, apenas a encarando de pé, totalmente vulnerável. Assim, levantou minimamente sua coberta, o que deu abertura a Mei para ir se deitar junto do mais baixo, não conseguindo mais segurar suas lágrimas enquanto o abraçava. Toda a briga na cozinha; Shinichiro falando sobre Hana; Ran lhe contando verdades; não conseguia digerir tudo isso em um dia só, até mesmo menos de um. Querendo ou não, ela ainda tinha só 20 anos, ainda era uma menina. Era como se estivessem pedindo muito de si, como se tivesse vivido o mesmo tanto que eles. Ran e Shinichiro são cinco anos mais velhos, e querendo ou não, era uma grande diferença de idade, mas nenhum dos dois pareciam notar isso.

Mas Mikey, Mikey era diferente. De certa forma, ele sabia como Mei se sentia, o sentimento de ser enganado na maior parte de sua vida. Os casos eram diferentes, mas mentes perturbadas conseguem se entender melhor do que quando uma é saudável. Querendo ou não, Manjiro sentia uma certa pena de vê-la assim, mesmo não sabendo o motivo. E se ela não quisesse contar, não a pressionaria. Às vezes ela só quisesse ficar quieta, em seu canto por um tempo, com talvez um ombro amigo. E querendo ou não, ele seria esse ombro, ele lhe daria a força que precisava.

Passava seus dedos magros pelos longos fios negros de Mei, sentindo essa soluçar cada vez mais contra seu peito, algo que, como mecanismo de defesa, acabou acontecendo com Mikey também. Sentia seu rosto se molhar pouco a pouco, mesmo sem querer realmente. Acontecia às vezes, principalmente quando alguém falava mais alto naquela casa, mesmo que não fosse com o rapaz. Não sentia mais os efeitos de uma "choradeira": sua cabeça não doía mais e nem seu nariz entupia, mas seu coração sempre era afetado, principalmente quando alguém que considerava, mais que outros pelo menos, se mostrava fraco.

Continuou apenas a confortando como podia, e mesmo que fosse pouco, faria de tudo para que Mei se sentisse melhor. Assim, puxou minimamente os cabelos de sua testa para trás, tendo certeza de que esta lhe olharia. Precisou de mais um tempo para conseguir coragem e finalmente dizer algo. Simples, porém significativo para si, e provavelmente para ela também. — Quer me contar o que aconteceu? — Perguntou sério, não se importando quando está pareceu surpresa por suas lágrimas, acenando positivamente em seguida.

Em outro quarto, Ran permanecia estático em cima da cama, olhando em um ponto fixo para pensar realmente no que havia feito. Rindou ficaria furioso com si, não havia dúvidas, mas na hora pareceu tão...certo, como se fosse o momento perfeito para soltar e simplesmente falar que foi no calor do momento. Quem sabe Ran realmente não quis falar aquilo e só tirar um peso enorme de suas costas? Amava sua irmã e tinha plena consciência de que ela não possuía culpa de nada, mas como continuar vivendo ao seu lado se escondia esse segredo? Talvez ela nem mesmo ligasse para a mãe dos rapazes, mas eles sim. E querendo ou não, foram os que mais sentiram a mudança naquela época.

Rindou apareceu no quarto depois de um tempo, estranhando o clima. Olhou para os lados, notando coisas que, mesmo normais, pareciam suspeitas, como: roupas jogadas; cama bagunçada; porta fechada. Se fosse em qualquer outro dia, falaria que era apenas mais um dia em que Mei saiu em um encontro com Shinichiro e Ran ficou dormindo em casa, mas tinha certeza de que não era isso, e caso não tivesse entrado e perguntado ele mesmo o que havia acontecido, seu irmão provavelmente não lhe contaria.

Ran então lhe encarou com seus olhos mais caídos que antes, seu rosto estava pálido e sem expressão, como se tivesse acabado de presenciar um assassinato. Talvez realmente fosse, quem sabe o que Mei estaria pensando nesse exato momento? E mesmo sem fazer a mínima ideia do que se passava em sua mente, Ran tomou coragem e disse — Eu fudi tudo.

あBᴜʙʙʟᴇɢᴜᴍ Bɪᴛᴄʜ - Sʜɪɴɪᴄʜɪʀᴏ Sᴀɴᴏ +18Onde histórias criam vida. Descubra agora