Prólogo

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115 d.c.

A guerra nos Degraus não foi fácil, nem rápida, e a falta de recursos e ajuda da Coroa não melhoraram a situação. Já era a segunda vez que Daemon estava ali, na primeira tendo saído vitorioso e coroado Rei dos Degraus e Mar Estreito por Corlys Velaryon, a Serpente Marinha. Mas sua volta para Porto Real acarretou em rumores que fizeram com que o rei o exilasse novamente, mesmo após Daemon ter oferecido sua coroa a ele. Mas a Triarquia atacava novamente e lá estava ele, com seus irmãos de batalha.

Mesmo com os homens que Daemon havia conseguido com os mestres da Tríade de Volantis, após dois meses em negociação, o embate parecia não ter fim. O príncipe, já cansado de estar ali, começando a ficar entediado e bem irritado com as provocações de Vaemond Velaryon, decidiu fazer uma última jogada para finalmente encerrar essa disputa por territórios de uma vez por todas. E sem o seu dragão, apenas com sua coragem e sua espada, Irmã Sombria, ele conseguiu.

Foram algumas noites de comemoração antes de finalmente o acampamento começar a se desfazer e em meio a tantas festas ninguém poderia notar o que acontecia na tenda do príncipe naquela última noite. Não quando a pessoa que entrou escondida por entre os tecidos deixou um pacote misterioso, e também não quando Daemon Targaryen finalmente viu o que ali fora deixado.

Quando ele entrou em seu alojamento logo notou algo diferente, ele não era de deixar passar os detalhes, mesmo que os menores deles. Um cesto, em cima da mesa perto da cama, parecia um pequeno cesto de pães pelo tamanho, mas Daemon, intrigado, se aproximou pensando ser algum presente pela guerra vencida há pouco. Quando algo dentro do cesto se mexeu, ele parou sua aproximação por um breve momento, antes de finalmente encontrar o que mudaria seu destino para sempre. Uma criança, com certeza com não mais do que poucos meses de idade, dois ou três, talvez. Seu coração bateu mais forte no peito, quem teria deixado aquele pequeno ser em sua tenda e fugido?

Ele deu uma boa olhada na criança e constatou o óbvio, ela era dele. Cabelos tão prateados quanto os seus próprios e os traços, mesmo que quase imperceptíveis, tão parecidos com... Ele temeu o pior. O bebê dormia tão serenamente que ele só constatou que ainda vivia pelo movimento de seu pequeno peito e dos bracinhos se movendo, como se estivesse tendo um sonho naquele exato momento, ele sorriu com a imagem, mas ainda com um aperto em seu coração recentemente descoberto.

Daemon vasculhou o cesto, sem acordar o pequeno ser, e como esperava, encontrou uma carta, na verdade duas. Uma com seu nome escrito em uma caligrafia exagerada e outra que dizia "Para ela". Uma garotinha. Daemon imediatamente abriu a sua e se sentou na cama para ler e descobrir de onde vinha essa criança, mesmo que em seu coração ele já soubesse. Ele leu a carta com atenção, e releu, e releu, até que as lágrimas invadissem o rosto do príncipe rebelde.

Daemon sentiu a dor e o luto o invadindo em um piscar de olhos. Ele sabia quem era a mãe, ele suspeitou assim que olhou para o seu pequeno rosto, e não era uma meretriz qualquer, ele amava a mulher que havia gerado aquele bebê. Como ele poderia cuidar de algo que causou a morte de seu amor? Amor este que ele nem havia tido a chance de... Como ele poderia amar essa criança? Ele sentiu a raiva o invadir e foi em direção ao cesto novamente.

Ele encarou a criança dormindo por vários minutos, ódio emanando de seu corpo, e até cogitou acordar ela e acabar com aquilo. Ele seria capaz de machucar uma criança? Daemon pensou, talvez. Mas quando sua mão se aproximou para tocá-la, a pequena adormecida agarrou sua mão em seu sono e deu um sorriso tão lindo em seus sonhos que Daemon caiu de joelhos ao seu lado. O que ele estava pensando? Aquela era sua filha, a única memória que teria de sua amada. Ele soube o que tinha de fazer, sua mãe havia feito seu último desejo, estava escrito naquela mensagem e ele cumpriria, nem que fosse a última coisa que fizesse.

Com o movimento rápido do príncipe, a pequena bastarda acordou de seu sono e começou um choro alto. Ele pegou a bebê no colo de um modo desajeitado e a encarou com um sorriso triste.

— Eu acordei você, não foi? Pequena sonhadora, acho que tenho o nome perfeito para você. — Ele acariciou a bochecha daquela que passaria ser o motivo de sua mera existência, sua filha. Seu coração derreteu quando o choro cessou e a pequena olhou para ele com os olhos bem abertos. Violeta. Se existia alguma dúvida, aquela foi descartada naquele momento. Ele encara a menina de volta antes de continuar. — Minha Daenys, minha garota.

✷✷✷

Daemon voltou para Porto Real imediatamente com a filha em seus braços e solicitou uma audiência sozinho com o rei Viserys. Ele apresentou ao mesmo sua sobrinha, que mesmo que surpreso e até um pouco irritado pelas circunstâncias de seu nascimento, ficou feliz por seu irmão, talvez esse fosse o incentivo que Daemon precisava para se tornar uma pessoa decente e responsável. Mas essa felicidade logo se esvaiu quando o príncipe pediu que o rei fizesse de Daenys sua filha legítima, uma Targaryen.

— Certamente você não espera que eu reconheça ela sem o conhecimento de sua esposa. — Claro, a Vaca de Bronze, Daemon pensou. Seu desgosto por aquela mulher era tamanho que, de vez em quando, esquecia que ela existia. — Volte para o Vale, Daemon. Se Rhea aprovar isso, volte e conversaremos.

— Viserys, você ouviu quando eu disse quem é a mãe dela? Quem é a avó dela? — Daemon pergunta com raiva, mas não alto para não assustar o bebê em seus braços.

— Ela poderia ser filha do próprio Conquistador, mas não seria legitimada sem o conhecimento de suas esposas, Daemon. — Mentira, o príncipe pensou. Viserys não sabia nada sobre conquistar coisa alguma.

O príncipe rebelde tentou contestar com seu irmão, mas não surtiu efeito algum. Ele sabia o que teria que fazer a partir dali. Ele viajou mesmo para o Vale, sua pequena ficou escondida com um amigo de confiança enquanto ele fazia o que havia esperado fazer por muitos anos. Viserys nunca quis anular o casamento com Rhea, mas agora não seria mais necessário. A Vaca de Bronze não seria mais problema, ele até tentou reivindicar as terras de sua falecida esposa, mas os residentes de Pedrarruna o expulsaram, algo que não o deixou triste, ele não gostava daquele lugar de qualquer forma.

Ele decidiu então fazer uma visita ao seu amigo e irmão de batalha, Corlys Velaryon, já que não poderia aparecer em Porto Real por algum tempo e Corlys e Rhaenys nunca deixariam de receber Daemon ou sua filha recém-nascida. Derivamarca era um lugar que ele conhecia muito bem e não foi um voo longo até lá, estariam seguros até que a poeira da morte de sua esposa baixasse.

Sua filha já ficava muito entretida voando em Caraxes, ele pode perceber. Mesmo sem entender, seus olhos fitavam o pai enquanto o vento batia por seus cabelos. Daemon não teve a chance de roubar um ovo de dragão dessa vez, mas sua filha era digna e reivindicaria um em pouco tempo, ele tinha certeza. Ele seria o melhor pai que pudesse para sua pequena Daenys.

Ice and Fire || Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora