Cabala

Yr ymerawdwr

A noite nunca lhe pareceu tão aterradora, sentindo um suor frio lhe cobrir o corpo, Gene foi impelida a deixar o local com o corpo sobre seu carro, com a mente em branco suas pernas se moveram rapidamente enquanto seus olhos só viam cenas do passado.

O bosque que ficava atrás de sua antiga casa tinha má fama, muitas pessoas contavam histórias assustadoras sobre o local, diziam que duendes maus atacavam as pessoas quando elas ousavam entrar no bosque sem uma oferenda e que a maioria dos ataques culminava numa morte visceral.

Seu pé enroscou-se numa raiz tortuosa e ela resvalou pelo chão, sentiu o impacto com o solo rígido e úmido, rolou sobre gravetos e folhas secas que estalaram por conta de seu peso. Parou perto de uma grande árvore de copa larga e respirou fundo, sentiu o peito arder e então deu-se conta de que havia se embrenhado na floresta sem ao menos conhecê-la. Seu cérebro pensou em levantar-se, mas seu corpo não respondeu, Gene encolheu as mãos e as cruzou sobre o peito, e então sentiu os olhos ficarem turvos e logo lágrimas escorreram deles e desceram pelas laterais do rosto, o pranto soluçante fazia seu corpo se mover brevemente por conta dos espasmos involuntários, seu choro aumentou e logo ela própria pensou que poderia ser ouvida por algum animal selvagem.

Rolou para o lado e com muita dificuldade levantou-se, olhou ao redor e não conseguiu reconhecer onde estava, o lugar era macabro e repleto de névoa, parecia estar num pesadelo ou num recorte específico de um filme de terror. Ela não conseguia se lembrar por onde havia caminhado, seu coração acelerado enchia seu corpo de adrenalina, mas sem gastá-la acabava sendo transbordada de ansiedade crítica.

Pensou em gritar, mas sua garganta parecia inchada demais para emitir algum som, recostou-se à grande árvore e olhou para o céu; por entre as falhas das copas das árvores ela conseguia ver o céu estrelado com uma grande lua gibosa se destacando na imensidão repleta de diamantes voadores. Ela respirou fundo e rogou mentalmente por ajuda.

Deus, o que está acontecendo? Por que estou presa nesse pesadelo? O que o Senhor quer de mim? Sou sua filha e serva fiel, sempre trabalhei em sua obra e agora me sinto abandonada, por que, Senhor?

— Oi! Precisa de ajuda?

Ao ouvir a voz arrastada e fina ecoando pela noite, Genevieve saltou para o lado arfando assustada. Sentiu-se fria e trêmula, julgou rapidamente que suas pernas não aguentariam o peso de seu corpo por muito tempo, então , após ver uma moça parada a poucos metros dela, respirou aliviada.

A jovem vestia um moletom preto com capuz abaixado, calças de denim e em cada pé um all star de pares diferentes. Entre seus dedos a garota tinha um cigarro com aroma levemente doce e quando puxava o ar para dentro de seus pulmões a brasa se assemelhava à cor de seus cabelos.

Genevieve olhou ao redor e depois encarou a moça por alguns segundos, pensou que talvez pudesse ter visto o que aconteceu, ou talvez fosse um anjo enviado para ajudá-la, fosse como fosse, ela precisava sair daquele lugar.

— Sim, por favor, eu me perdi e preciso voltar.

— Saquei. Tu tá de carro ou moto?

— Não — disse Gene olhando para o chão.

— Belê! Te levo até a avenida, pode ser?

— Seria de grande ajuda — afirmou Gene olhando para suas roupas repletas de sangue, barro e fiapos de folhas secas e pensou no motivo que fazia aquela garota ignorar tudo aquilo.

A garota gesticulou chamando para segui-la, e Gene cautelosa caminhou atrás dela por alguns minutos, esporadicamente olhava ao redor para se certificar de que não estava entrando em uma armadilha.

Algum tempo depois elas saíram da mata e deram de frente com a estrada, havia ali um veículo antigo, estacionado num acostamento inclinado e o resto era névoa e breu. A garota desativou o alarme e entrou, Gene ainda hesitante abriu a porta do lado do passageiro e sentou-se mantendo a porta aberta. A garota deu partida e jogou o que restava do cigarro pela janela e a olhou com seriedade. Gene engoliu em seco e fechou a porta.