Yr offeiriades - parte 2

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Gene despertou com um estalo ecoando em seu quarto. Olhou para a janela e viu um vulto ocupando quase toda a extensão da mesma. Encolheu-se frígida e trêmula, não conseguiu gritar, mas desejava de todo coração pedir socorro.

O vulto atirou algo sobre a escrivaninha que ficava perto da cama e afastou-se devagar indo em direção ao vão da janela, parou repentinamente e com uma voz rouca, claramente manipulada por algum instrumento tecnológico, disse:

— Desperte! — E desapareceu.

Ela esperou alguns minutos e depois que o coração desacelerou seu corpo voltou a aquecer-se e só então ela conseguiu se mover. Jogou o lençol de lado e acendeu a luz, olhou sobre a escrivaninha e viu apenas uma estranha carta de baralho sobre ela. No topo havia o número dois em algarismos romanos, no centro tinha uma figura estranha, parecia uma mulher com um manto negro, numa das mãos segurava um cetro e na outra um globo dourado, ao redor dela havia raios dourados simulando uma iluminação celestial, ela virou a carta e o verso era vermelho com desenhos de ramos de flores em dourado.

O que isso quer dizer?

Na manhã seguinte ela pegou a carta e a levou até a loja de produtos esotéricos, assim que passou pela porta ouvia a sineta tocar acima dela. A loja parecia exatamente igual a vez anterior, nada havia mudado, até a atendente estava na mesma posição com o mesmo livro. Ela aproximou-se do balcão sentindo o cheiro de incenso de baunilha ficar mais intenso conforme chegava mais perto da atendente.

— Bom dia, Suzi.

A moça fechou o livro e a olhou com frieza, depois de alguns segundos sorriu brevemente e a cumprimentou.

— Bom dia para você também, Genevieve. O que a traz de volta à loja?

— Bem, é que... Eu recebi isso e gostaria de saber o que significa — explicou colocando a carta sobre o balcão.

Suzi avaliou a carta por algum tempo e depois a colocou no exato lugar onde estava, coçou a orelha esquerda e disse:

— É uma carta de tarot, rara por sinal. Essa coleção não existe mais, foi totalmente desenhada à mão por um cartunista que participava de um culto da ayahuasca, e morreu há alguns anos. Essas cartas valem algum dinheiro na internet, mas o jogo completo vale uma fortuna.

— Dinheiro? É só isso? Quer dizer...essa carta tem algum significado?

— Tudo tem significado. No tarot, A sacerdotisa representa a voz interior, mistério, intuição...

— Voz interior — atalhou Genevieve segurando pulso da loura. — Minha mãe me disse para sempre ouvir minha voz interior.

— Aham... Ela deveria ser uma bruxa muito sábia. Posso te perguntar quem te deu essa carta?

— Ah, foi um estranho. Não conheço, nem sequer conversamos. — Genevieve apoiou os cotovelos no balcão e pousou o queixo sobre as mãos em v. — O que significa despertar?

Suzi respirou fundo e colocou um braço sobre o balcão, paralelo a ele mas na frente de seu corpo, o outro ela usou para apoiar o rosto, tal como Genevieve.

— Tem muitas formas de despertar. Pode ser despertar do sono, despertar para uma intuição ou despertar espiritualmente. Geralmente o despertar espiritual está envolvido com fortes crenças e rituais específicos, mesmo que sejam ritos caseiros...

— Suzi — atalhou ela com um pulo —, existe mágico no tarot?

— Mago existe, mágico não.

Genevieve sentiu um arrepio percorrer sua coluna, então olhou ao redor e vendo a loja vazia tornou a encarar os olhos azuis de Suzi.

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