Yr ymerodres - parte 2

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Acordou com o som do celular vibrando, sonolenta ela tateou a mesa de cabeceira a pegou o aparelho, com os olhos semicerrados leu a mensagem e tapou a face com a mão. Ruiva-galesa seus expectadores estão com saudade.

Levantou-se ainda tropeçando nos próprios pés e tomou um banho para espantar o sono, depois fez um café e sentou-se para degustar sua refeição. Estranhamente não sentia desejo de ingerir nada, seu interior parecia cheio; cheio de si, de vida, de angustia, de solidão e de culpa. Ela largou os braços sobre a mesa e apoiou a testa sobre eles, respirou fundo tentando encontrar um significado para seus sentimentos e sensações, mas tudo acabava caindo num estranho e crescente limbo.

Ela tinha uma casa, mas nem de longe aquele era seu lar, a casa em si nem mesmo era dela, era apenas alugada, estava à deriva sem um espaço para chamar de seu. Tinha comprado um veículo, com o qual poderia explorar a cidade, mas isso não lhe conferia liberdade, estava empregada, porém, não tinha estabilidade; Genevieve sentia-se no meio de uma régua dicotômica que pendia para a negatividade, sentia-se perdendo cada uma de suas conquistas, era como se tudo o que conquistasse virasse cinzas na sua frente. Por mais que quisesse ou tentasse, não conseguia se sentir realizada, ao invés disso, sentia-se refém de um sistema injusto, de uma decisão judicial, de um país estrangeiro, de relações pautadas em interesses escusos e principalmente...refém de si mesma.

Ela comeu um pouco, mas não sentia prazer em degustar aquela refeição, o sabor de tudo o que provava era insipido. Saiu pela porta e parou na varanda, o sol brilhava através das copas das árvores e lançava sobre ela seus dardos dourados, Gene cobriu os olhos com a mão e comprimiu os lábios por conta do incômodo.

— Sol forte, né vizinha?

Ela engoliu em seco e virou o rosto lentamente para o lado. Viu Pietro sentado no último degrau na entrada de sua casa, ele estava com bermuda e regata, o cão estava correndo pelo quintal afastando os passarinhos que tentavam pousar perto da grama ou da cerca. Ela acenou sorridente e disfarço o embaraço desviando o olhar para as árvores.

— É...de onde venho não é tão quente.

Ele concordou com a cabeça e levantou-se espreguiçando-se, cada músculo trabalhado ficou evidente através da camiseta colada no corpo, o rapaz sorriu e caminhou na direção da cerca que separava os quintais e debruçou-se sobre ela.

— Tem ficado bastante tempo longe de casa...

— Eu? Não, é que... Tenho um monte de coisas para resolver, então eu acabo me concentrando no trabalho e...

— Tudo bem, Gene, tudo bem. Foi só um comentário, não tenho motivos para te pedir explicação.

Ela sorriu desconcertada e aproximou-se da cerca caminhando devagar e com os passos hesitantes. Ele a olhou de cima a baixo e projetou o lábio inferior para frente, depois a fitou e sorriu.

— Olha, sobre aquele dia... Não precisa me mostrar nada.

— Não, mas eu quero. Quero mesmo.

— Tá. Eu ia dizer que fico feliz em continuar te mostrando tudo o que essa cidade tem para oferecer — explicou ele com um sorriso malicioso.

Ela tapou a face com as mãos e riu encabulada. Depois de se recompor ela o olhou e vendo o semblante galante de Pietro, sentiu um estranho arrepio na coluna, o coração disparou e sentiu as mãos suando.

— Eu...eu...eu comprei um carro.

— Ual! Aí sim. E qual possante escolheu?

— Não foi nada de extravagante, um sedan simples e discreto, não gosto de chamar a atenção.

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