capítulo um

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O FRACASSO DO ENCONTRO


1

Tudo começou quando ela se olhou no espelho.

Antes disso, Lorenna tinha um encontro. Quando recebeu o pedido do garoto para ir ao cinema, a primeira coisa que fez foi contar para a mãe. Dona Regina adorava saber da vida da filha. E Lorenna amava contar as coisas para a mãe. Por isso, a relação das duas sempre foi descrita como a mais bela do mundo. Isso, pelo menos, era o que o pai dizia. Ele era o cara que ficava de fora dessas conversas. Lorenna nem falava direito com ele.

Hoje em dia, o Sr. Octávio sente tristeza ao pensar no assunto. Diz que queria ter tido mais tempo com ela. Se soubesse que, bem nesse dia em que Lorenna estava a mil, aquilo fosse acontecer, ele não teria hesitado em dizer que a amava.

No entanto, a única coisa que fizera naquele dia foi ficar tomando café, observando ao longe a esposa e a filha baterem um papo. Ele nem estava escutando o que as duas falavam. Só bebericava da xícara e fingia que elas eram meras paisagens.

Lorenna, que não parava de se enrolar, sentiu pela primeira vez vergonha de contar algo à mãe.

— É que, tipo, eu vou no cinema, mãe, e...

Sem demora, Regina matou a charada.

— Você vai sair com um garoto, filha?

Lorenna engoliu em seco nesse momento. Ficou até vermelha.

— Ah... sim.

A mãe estendeu os braços e abraçou.

— Meu Deus, isso sim é novidade! Como ele é? Tem foto? Trabalha?

— Trabalha, sim. Ele faz estágio num supermercado. Acho que no Carrezul, não sei.

— E a foto?

— Calma.

Lorenna pôs as mãos no bolso, mas percebeu que o celular não estava lá. Deixou no quarto. Pediu licença à mãe, se retirou e foi lá buscar. Adentrou um cômodo escuro, com uma cama na extrema-esquerda, um guarda-roupa na parede da frente e uma grande escrivaninha ao lado direito. Ela procurou iluminar o quarto, porém, bem quando apertou o botão, as luzes piscaram, falharam e não queriam acender mais do que a fraca luminosidade que a lâmpada aguentava.

Eita, acho que queimou, ela pensou, e em seguida tateou a cama na procura do telefone. Não encontrou nada. Partiu para o guarda-roupa, abrindo as portas, onde possuía um espelho redondo, as roupas na parte debaixo e perfumes na de cima. Deparou-se com o celular ali, de frente ao espelho. Seu reflexo nele, em meio ao breu que estava o quarto, ficava um pouco esquisito. Lembrava aquele monstro do filme O Chamado. Contudo, isso também podia se dar ao fato dela não ter tomado sol nos últimos dias e da preguiça de (senhor, eu ainda tenho que lavar isso pra ir no encontro!) lavar o cabelo.

Ela aproveitou que estava se vendo e ajeitou a franja. Por um milésimo de segundo, ela pensou ter visto sua imagem refletida se atrasar. Todavia, nem ligou. Devia ser apenas impressão. Não tinha nenhum tipo de explicação natural para aquilo.

Ao menos, foi o que imaginou.

Com o telefone, foi-se embora. Entrou na cozinha. O pai não estava mais lá, e sim no banheiro, tomando banho. Por isso, sua mãe ficou sentada ao redor da mesa de madeira retangular, com uma jarra cheia de frutas falsas no meio, ocupando o lugar do marido. Lorenna caminhou até ela e se sentou ao lado. Regina ergueu o rosto e soltou uma risadinha irônica.

Reflexo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora