capítulo cinco

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A FUGA


1

Thiago não foi ao trabalho naquela manhã. Era o segundo dia em que ele faltava, mas não estava se importando muito. Sabia que algo iria acontecer em breve — uma coisa muito ruim para o seu filho, que envolvia polícia e tudo mais, e ele não via a hora de ver o desgraçado se fuder.

Tomando uma xícara de café e vendo a aurora surgir, ele soltou uma leve risada.

2

Os exames do corpo de Lorenna Martins confirmaram a hipótese da polícia de que a menina estava sob efeito de drogas. Não apenas uma qualquer, como maconha, porém pela cocaína. A perícia concluiu que o garoto que estava junto dela no cinema a entregou o pacote antes da entrada no Realeza. Em seguida, a menina correu para o banheiro, cheirou uma quantidade absurda, jogou os sacos pela privada e caiu no chão, vomitando e sufocando.

Quando saiu a notícia sobre a morte de Anastácia, uma viatura foi enviada ao Carrezul com o mandato de verificação das câmeras. Viram por lá que o garoto (Gabriel) se encontrou com a moça (Anastácia) no estacionamento do mercado. As suspeitas aumentaram ainda mais, e como a morte da mulher era idêntica à de Lorenna, não restaram mais dúvidas.

A polícia chegou na casa de Gabriel próxima do meio-dia. Eram duas viaturas com um mandado de apreensão. Embora as câmeras de segurança não mostrassem o garoto entregando alguma coisa para Anastácia, os dois poderiam ter estado em um ângulo conveniente, e de qualquer forma alguém precisava pagar pelos crimes do tráfico.

Para todos, não restavam dúvidas de que Gabriel era um traficante em Uara. O jeito que ele se vestia, os lugares para onde ia... tudo isso influenciou a mentalidade do povo.

Até mesmo de Thiago, que, ao abrir a porta, ficou contente em ver os policiais ali. Escancarou ainda mais e solicitou que eles entrassem. Quatro fardados, então, adentraram na sala. Após isso, ele ouviu Bianca perguntar o que estava acontecendo e se aproximando.

Quando ela chegou, Thiago lançou-lhe um sorriso vencedor, e então ela arregalou os olhos, espantada.

— O-o-o... o que significa isso, senhores? — perguntou ela. — Por que estão na minha casa? — Ela estava arrumada para sair e com as chaves do carro na mão, pois pretendia comprar roupas.

Um dos policiais, um sujeito alto e bigodudo, respondeu:

— Viemos em busca do seu filho, madame. Há provas de que ele é responsável pelas drogas que mataram Lorenna Martins e Anastácia Flormendes.

— Que provas?

— Câmeras de segurança, falta álibi e entre outras coisas. O fato é que estamos com um mandado de apreensão e precisamos levá-lo.

Bianca olhou para Thiago, pedindo socorro, mas ele apenas balançou a cabeça, o sorriso ainda crispado no canto da boca.

— Eu me lembro de você — disse um dos guardas com a voz mais fina que o comum. Era magro e um pouco calvo. — Bianca, não é? Foi o seu filho que viu o amigo morrer de overdose no passado?

Todos o encararam. Bianca assentiu em um suspiro.

— Sim, foi ele. O pobrezinho estava na escola, aí quando foi encontrar o amigo lá naquela casa, chegou aqui desesperado. Ele é um menino bom, e por causa desse acidente sabe o que as drogas podem fazer com as pessoas. Não conseguem ver, senhores, que há um engano nisso tudo?

Ela olhou para os policiais com um semblante de desespero. Thiago balançava a cabeça, como se reprovando sua mulher. O homem calvo crispou o olhar, desconfiado.

Reflexo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora