capítulo sete

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TRILHANDO AO MAL


1

Gabriel e Lorraine correram pelo centro até entrar numa loja de sapatos. O lugar dava acesso para outra rua, do outro lado da butique. Os dois saíram pela outra parte e então viram que o céu começava a enegrecer. Parte do medo de Gabriel despertou e ele se sentiu enjoado para prosseguir.

— Pronto — disse ela. — Chega! Eu vou embora!

— Lorraine, não!

Ele a puxou pela gola da camisa dela e Lorraine quase caiu no chão. Cambaleou para trás, e por sorte se equilibrou num poste redondo ao lado. Os primeiros pingos de chuva começaram a descer e tocar em suas faces.

Gabriel pensou: Chuva ácida. Chuva da premonição. Chuva do perigo.

— Não o que, cacete? — questionou ela. — Isso já foi demais pra mim!

Você precisa me ajudar! — Trovão. — Ela te escolheu!

Lorraine expressava pura descrença. Estava nervosa. Aquilo que aconteceu no celular se repetia na sua mente até agora. Mas depois que viu que isso era um caso de polícia, decidiu desistir. Não valia nem um pouco a pena.

— Como ela poderia ter me escolhido? Qual a minha utilidade nisso tudo?!

Pensativo, Gabriel tentou achar uma solução. Não encontrou. Penélope lhe entregou uma menina adolescente para... o quê? Já nem pensava mais naquela ideia de anjo da guarda. Completo delírio devido à dor na perna, que a essa altura já nem aparecia mais.

— Eu não sei, mas...

Lorraine revirou os olhos.

— Eu vou embora.

Com passos leves, ela deu as costas para ele.

— Você vai me deixar desse jeito? Com a polícia e tudo mais?

Só que ela não lhe deu ouvidos. Continuou a caminhar para o além, como se o garoto lunático que tinha acabado de conhecer e toda aquelas experiências loucas e a histeria da assombração não passassem de um... de um...

Sonho, pensou ela. E sonho é no que estou mergulhando agora. Literalmente, nadando. O mar é escuro, sombrio... Não tem cheiro e não consigo respirar, meu Deus. Estou vendo que a profundidade desse oceano é imensa. IMENSA! Pois lá embaixo tem uma penumbra ainda maior do que meus sensos de alerta e perigo podem aguentar. O que poderá ter lá embaixo? Eu não consigo subir, nem nadar para outras direções. Apenas cair. O peso do meu corpo está me empurrando para baixo, para aquela dimensão espectral do MAR. Eu irei ver alguma coisa lá no fundo, algo que eu não vou compreender, e se eu o ver é capaz que eu morra ou enlouqueça... Como sei disso? Porque a COISA está dizendo para mim! Ela está...

— Lorraine?

Ela foi despertada de seu devaneio, sem fôlego. Estava vermelha. Respirou uma boa quantia de ar e levou as mãos à boca. Quando notou, estava molhada, e repentinamente ficou amedrontada, pensando que o sonho, afinal, tinha sido real. Mas não passava da aterradora tempestade.

— Lorraine? — perguntou Gabriel novamente.

— Oi.

— O que aconteceu?

Desencadeando uma sequência de prantos, Lorraine andou até a entrada da loja de sapatos, onde poderia ficar protegida da chuva graças ao teto. Gabriel foi ao seu encalço, sem saber por qual motivo ela chorava. Ele é quem devia estar! Se não fizesse aquela porra — e ele não queria fazer —, ia acabar indo pra cadeia. E adivinha? Ele também não queria passar alguns meses ou anos de sua vida trancafiado.

Reflexo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora