capítulo oito

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A CABANA


1

Às 12h00, os três se encontraram.

A viatura policial parou a poucos metros de distância de Antonieta, que observou com curiosidade enquanto as portas se abriam. Seu receio rapidamente aumentou. E se eles vissem o corpo de César? O que pensariam que teria acontecido?

Mas, em meio à chuva densa, dois adolescentes surgiram. Um era alto, magro, branco e bonito. Tinha olhos verdes e usava o uniforme da escola. Estuara. A outra, uma menina ainda maior que ele, tinha um cabelo liso, castanho e charmoso.

Eles vieram até ela, que estava acabada e segurava um livro ensanguentado. Pararam, então, e disseram alguma coisa que ela não conseguiu ouvir por conta da carga d'água.

Acenou para que se aproximassem.

— Quem é você? — perguntou o garoto, por fim, quando os dois haviam lhe alcançado. — Vi que estava nos encarando, quase como se estivesse nos esperando...

— Eu sou Antonieta, e vocês?

— Gabriel.

— Lorraine.

— Estão aqui a mando de quem?

— Penélope, e você?

— Também.

Ficaram mudos por alguns segundos. Antonieta fixava seu olhar em Gabriel, perguntando-se se era aquele menino que ela teria que matar depois.

— Que livro é esse? — perguntou Lorraine, finalmente.

— Chama-se Esterco Paralelo, e até onde eu sei fala sobre a podridão do outro mundo. Penélope pediu que eu o pegasse, porque aqui diz como libertá-la. Até onde eu acho, esse livro também foi usado para amaldiçoá-la.

Gabriel pareceu interessado.

— Já leu alguma coisa? Sabe como desaprisionar ela?

— Só a parte que ela mandou. É simples, mas depende. Precisamos que alguém cruel ou tão cruel quanto a pessoa que a matou esteja no local do crime. Então, essa pessoa precisa confessar seus atos ruins. Depois, é só matá-la. O sangue precisa estar fresco e deve ser passado no objeto em que a alma de Penélope está atrelada.

— Qual o local do crime?

— Penélope diz que fica dentro da floresta.

Encararam Gabriel. Ele parecia querer dizer algo.

— Sei onde fica — admitiu. — Tenho quase certeza que é lá, e ainda sei o caminho, acho. Bem, sendo assim, ainda faltaria a pessoa cruel. Quem é ela? Alguma de vocês?

— Penélope trata essa pessoa como sendo um homem...

— Meu pai? Acho que pode ser ele. É uma pessoa horrível.

— Onde ele está?

Foram até a viatura. Lá, abriram as portas. Em meio ao odor da terra molhada, Antonieta também sentiu a carniça que era o interior daquele carro. Lá dentro, constatou, havia dois mortos e um homem inconsciente.

Uma cena digna de um pesadelo.

— Por favor — disse Antonieta —, não me diga que é um desses policiais. O sangue precisa estar fresco...

— Não, não é. É esse aqui.

Ele arrancou o adulto adormecido do veículo e o jogou na rua. Seu rosto e suas roupas começaram a umedecer. Os olhos do homem se contraíram, e em seguida foram abertos. Ele respirou profundamente e, afogado, tossiu por dez segundos.

Reflexo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora