capítulo seis

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A MISSÃO


1

Antonieta entrou no carro com o livro na mão. Tinha uma capa marrom e dura, um pouco empoeirada. Ela chegou a cheirá-lo, embora aquilo não tivesse odor de nada. A bibliotecária pediu para que ela trouxesse na outra semana, se quisesse continuar lendo ou devolvê-lo. Antonieta respondeu que tudo bem, até porque aquilo não duraria nem mesmo um dia. Recuperaria sua mãe e mataria alguém. Nada demais.

— Você voltou mais cedo do que o esperado — disse o policial da viatura. — Que livro é esse aí?

Ela segurou o livro com mais pressão, sentindo-se levemente tensionada por uma dor enclausurada no peito.

— Terror — respondeu. — Eu amo terror. Assistia filmes com a minha...

O policial girou a chave do veículo. O motor rangeu.

— Sorvete? — indagou ele.

— Sim, por favor.

Ela estava se esforçando para não chorar. Cada vez que a viatura atravessava uma rua, engolia ainda mais o sufoco. A única coisa que a mantinha em pé agora era saber que havia uma chance. Se recusava a aceitar a morte fatal — se Penélope lhe prometera, então porque era verdade. Queria acreditar nisso.

Seu motorista nada falou durante todo o percurso. Assim que chegaram, ele fez questão de que ela permanecesse no carro enquanto ele ia buscar o doce. Antonieta assentiu, sem energias, de qualquer forma, para até mesmo abrir a porta.

— Muito bem — disse. — Eu já volto.

Então, ele saiu do carro e sumiu para dentro da loja. Antonieta acompanhou seus passos, e ao fim deles posicionou as mãos delicadas contra os olhos e derramou seu extenso fluxo de água salgada nas mãos. Chorou como uma verdadeira condenada.

Ela está morta, ela tá morta, ela morreu... Fungou e expeliu um grito suprimido pelo vento, em que nenhum berro foi audível, sendo apenas sentindo pelas vibrações do ar. Havia catarro escorrendo pelo seu nariz e lágrimas entrando em sua boca. Senhor, e se eu não conseguir? E se ela estiver mentindo? Eu perdi minha mãe? Aaaah, céus, por favor, diga que não! Diga que não! Digaquenão!

Antonieta chutou o assento do carro e depois socou com as mãos a parte dianteira interna dele. Tentou buzinar, mesmo que não fosse possível. Seu descontrole chegou a um limite que ela quis quebrar o retrovisor e acabar de vez com ela.

— Eu te odeio! — disse Antonieta, lutando contra a cadeira. — Nossa, como eu te odeio, sua filha da puta!

— Uau, como você tá estressadinha hoje.

Penélope apareceu no retrovisor da viatura. Antonieta, ao invés de pular para trás, assustada, na verdade se jogou para frente, em fúria, e bramiu um berro de queimar fones de ouvido.

Por um momento, o espírito ficou desequilibrado, como se não estivesse esperando por aquilo. O seu rosto juvenil deixou mostrar uma verruga de ressentimento, ao qual Antonieta gostou muito. Estou te pegando, sua vaca. Não te peguei ainda, mas vou pegar.

Com a voz calma, Penélope questionou:

— Pensei que trabalhássemos juntas.

— Vou fazer o que você manda — vociferou Antonieta. — Mas não porque eu gosto de você. Quero minha mãe de volta. — Fechou os olhos, lembrando-se da vez em que ela e Anastácia foram ao cinema pela primeira vez. E não tinha sido por causa daquele mesmo cinema que todo aquele inferno começou? Pois bem, Antonieta queria queimar aquele lugar. Colocar fogo em tudo. — Eu... — Então, chorou novamente.

Reflexo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora