Dean está morando na sua antiga casa em São Paulo e ele é vizinho da nossa mocinha mais uma vez. O reencontro é doloroso.
Apesar de que na rua as únicas que se pudesse ouvir fossem os plof's dos meus saltos, o homem não deu nenhum sinal de que reconhecia minha presença. Ele ainda estava de costas, parecendo bastante determinado a colocar todos os sacos dentro da lixeira quase cheia.
― Olá. ― Cumprimentei, tentando soar o mais sóbria possível, mas minha língua ainda estava um pouco embolada, e meu cheiro era facilmente sentido a metros.
Soltei um suspiro alto, ao perceber que o cara não se viraria para devolver a saudação. Seus movimentos ainda consistiam em empurrar o último saco na lixeira, que por sinal, estava completamente cheia.
― Oi! ― tentei um pouco mais alto dessa vez.
Foi quando o cara finalmente notou minha presença e olhou pra cima, arrancando os fones de ouvido. Senti meu sangue gelar e as pernas fraquejarem.
Aquilo não podia estar acontecendo...
Procurei palavras, mas não fui capaz de formá-las. Senti a boca secar e me senti completamente impossibilitada de se mexer.
Ele também parecia surpreso. Ou era isso, ou o cara estava vendo um fantasma.
Pisquei algumas vezes esperando que fosse uma alucinação por causa do excesso de álcool no meu organismo, mas aquela coisa não queria sumir.
― Você não está aqui de verdade, então suma! ― gritei, sentindo as lágrimas a caminho.
E o homem continuou a me encarar com o olhar confuso.
― Vá embora!! ― gritei de novo, esperando que ele desaparecesse como fez das outras vezes.
― Estou bêbada demais, é isso. Você não está aqui. ― resmunguei, girando sobre os calcanhares decidida a entrar em casa e esquecer aquela maldita alucinação.
Dean não está aqui.
― Anna Lis! ― A alucinação chamou, mas o ignorei.
Você bebeu demais, apenas isso.
― Scott! ― o ouvi outra vez, no entanto continuei a ignorá-lo.
― SCOTT!!!!
Congelei na minha calçada. Ele não está aqui de verdade, continuei a repetir em minha cabeça como se esse fato pudesse me salvar.
Mas não iria...
Passei o dorso da mão pelo rosto, livrando-o das lágrimas que insistiam em descer. E no segundo em que escutei seus passos pesados se aproximando, eu soube que Dean Stone estava tão presente naquela rua deserta quanto eu.
Tomando coragem o suficiente, me virei em sua direção. Uma súbita onda de eletricidade passou pelo meu corpo quando o vi ali tão perto. Apenas um passo e eu estaria em seus braços. Mas não era assim tão fácil... Não quando havia tantas coisas em jogo. Quando meus sentimentos estavam se embolando em uma confusão sem fim até virar uma bola de neve gigantesca. A mágoa e a raiva me inundaram de uma forma insana, destruído qualquer autocontrole que estivesse pela frente. Não sabia o que fazer ou falar.
Eu devia mesmo dizer alguma coisa?
Fechei as mãos em punho para que as mesmas parassem de tremer. Ainda atônita pisquei algumas dezenas de vezes, esperando que aquela cena horrível fosse somente um dos meus pesadelos constantes. No entanto, Dean Stone ainda se encontrava a minha frente, parecendo estar tão paralisado quanto eu, no entanto, sua face se encontrava inexpressiva. Seu olhar vazio como se o nosso reencontro não fosse nada... Como se nada do que estava acontecendo o afetasse de alguma forma. E subitamente comecei a me sentir uma idiota por ter derrubado as barreiras quando mais precisei delas.
Por que eu não podia, simplesmente, ser como ele?
― Você está bêbada? ― perguntou quebrando o silêncio constrangedor. Contudo, não gostei da forma que as palavras foram ditas. Como se eu fosse um estorvo que estivesse atrapalhando.
― Não. ― E por incrível que pareça, eu estava mais sóbria naquele momento.
Stone franziu a testa fazendo com que um vezinho se formasse entre suas sobrancelhas.
― Então o que está fazendo aqui?
― Como? ― perguntei confusa.
― O que veio fazer aqui? Como descobriu o meu endereço? ― seu tom de voz acusador me deixou irritada.
― Eu não vim te procurar. ― Soltei incrédula com o que escutava. ― E eu que deveria perguntar o que diabos você está fazendo aqui...
― Estou morando aqui novamente. ― Dean apontou para a casa atrás dele, e meu coração errou uma batida.
Então, ele era mesmo o vizinho misterioso?
O encarei nos olhos pela primeira vez naquela noite, e só então reparei no quanto havia sentido falta daquilo. Olhá-lo nos olhos sempre foi algo que me acalmou, apesar de qualquer ocasião. E aquela não foi uma exceção. Reparei também no quanto o tempo lhe tinha sido generoso. O garoto desde criança nunca precisou de esforços para chamar atenção por onde passava, mas agora ele estava de tirar o fôlego. O menino que eu conhecia, agora carregava traços fortes de um homem e usava uma barba rala. O seu porte também havia melhorado, não tinha virado um saco de hormônios, no entanto, parecia bem mais forte e mais alto. Nada exagerado, mas ainda sim um homem sem defeitos algum. Se não estivermos incluindo o caráter, claro.
― Por que voltou, Stone? ― Questionei confusa. ― E no que diabos estava pensando quando decidiu voltar a ser meu vizinho?
― Não escolhi nada disso, Scott. ― declarou rispidamente. ― Eu pensei que estivesse morando com o seu pai no Rio... e achei que a minha casa em São Paulo seria o melhor lugar pra ficar.
Pisquei algumas vezes, incrédula.
Não dava pra acreditar que aquela conversa estava realmente acontecendo.
― Você é um idiota.
― Por que ficou morando sozinha? ― disse, ignorando meu comentário.
― Realmente acha que lhe devo alguma satisfação depois de tanto tempo sem notícias suas? ― cuspi com desgosto.
― Não ligo para o que você faz ou deixa de fazer, Anna Lis. Foi apenas uma pergunta. ― Dean revirou os olhos e botou as mãos dentro dos bolsos do moletom que usava.
― Surpreendente seria se você dissesse que ligava, já que deixou bem claro o quanto se importa comigo a cinco anos atrás. ― mordi os lábios tentando afastar as lágrimas.
O homem parado à minha frente desviou o olhar para os próprios sapatos, visivelmente incomodado.
― Não consigo entender o porquê de você só não ter ido e pronto. Mas teve que deixar aquela maldita carta pra me atormentar por todos esses anos.
Stone levantou o olhar amargurado e me encarou.
― Deixei a carta para me despedir, Scott... queria que soubesse que precisei ir embora para te manter longe de qualquer sofrimento que eu pudesse vir a causar. Você já estava sofrendo o suficiente.
Sorri afetada com essas palavras.
― Deve me achar uma idiota, não é mesmo? ― desviei o olhar rapidamente para um carro parado na calçada da vizinha. ― O único motivo de ter deixar aquela carta foi pra você mesmo acreditar nessa mentira. Foi embora porque é uma das poucas coisas que você faz bem. Só espero que não tenha voltado pra brincar comigo, outra vez. ― Girei sobre os calcanhares e comecei a caminhar até a porta de casa. E uma vez atrás dela, tinha certeza de que desabaria e soltaria as malditas lágrimas.
― Não estou aqui por você, Scott. Há outras coisas em jogo. ― o ouvi gritar.
― Vai se fuder, seu cretino! ― gritei de volta, sem interromper meus passos.
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Sempre | Melhores momentos
RomancePara aqueles que vivem me perguntando sobre a volta do casal mais odiado e amado do universo literário.