Capítulo 5

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• Fernando •

Sorocaba: Você fez o quê? — Sorocaba questiona, cuspindo de volta a bebida, quando lhe conto o que fiz por Maiara.

Tomo o restante do meu uísque e faço um gesto para que o bartender volte a encher meu copo.

Fernando: Exatamente isso que você ouviu — respondo, voltando a beber meu uísque que acaba de ser servido.

Sorocaba: Fernando, existe um limite, sabia?

Acabo rindo ironicamente. Não existe, não para mim, e ele sendo meu amigo de infância sabe bem disso.

Sorocaba continua seu sermão, mesmo sabendo que eu não estou ouvindo. Crescemos juntos, frequentamos as mesmas escolas e eventos da sociedade. E se tem algo que o poder aquisitivo nos ensinou desde cedo é que não existem limites em uma sociedade ditada pelo poder. E sim, nossas famílias dominam a elite de São Paulo.

Nosso primeiro encontro foi no campo de golfe, nossos pais são associados e, por amor ao esporte, nos tornamos grandes amigos. Apesar dele ser mais velho que eu apenas dois anos, isso não impediu que nos tornássemos inseparáveis. Na escola, ele me defendia dos alunos mais velhos que passavam seu tempo aterrorizando os mais fracos.

De todos os amigos que conquistei durante toda a minha vida, Sorocaba foi o único que permiti permanecer ao meu lado depois do que aconteceu com a minha querida Mikelly. Me afastei de todos e me tranquei em um lugar obscuro, afastando minha própria família. Ele cuidou de tudo e, pelo visto, bem até demais, já que está noivo da minha irmã caçula. Mas sendo sincero, não existe ninguém melhor que ele, sei disso. O amor é verdadeiro, é fácil ver quando olho nos olhos dos pombinhos. No entanto, eu perdi meu parceiro de farra, mas é o preço a ser pago.

Depois que assumi a presidência da agência, eu vivo apenas para meu trabalho, é o que me move, me faz bem, um escape. Me focar no crescimento da empresa e em toda grana que posso fazer em horas é tudo o que me importava, ao menos deixo transparecer. Mas Sorocaba sempre me conheceu melhor que ninguém. Feito um animal teimoso, ele ficava ao meu lado. E quando eu perdi Mikelly, meu amigo sempre teve esperança de que em algum momento eu iria voltar à minha vida. Ele não estava cem por cento errado, mas talvez não esperasse que eu retornasse um homem mais pervertido.

Depois de três anos em um celibato, amaldiçoando o mundo pela minha perda e luto, eu voltei para a minha merda de vida, não como ele esperava que fizesse. Foda sem compromisso te deixa livre de envolvimentos emocionais, e depois de tudo, ter alguém no meu coração é o que eu não preciso. E é fácil usar o dinheiro e a sedução para ter uma mulher na minha cama. Uma noite em uma suíte luxuosa de hotel, e pela manhã, esqueço a noite anterior e volto à caça novamente. Posso até repetir uma foda, se valer a pena. Mas sempre sem envolvimentos, esse é o meu lema. Já amei uma mulher uma vez, o destino a tirou de mim e isso me destruiu. Não vou cometer o mesmo erro novamente, não sabendo como é ir ao inferno.

Sorocaba: Não sei o que pretende, mas não está salvando a Milene, Fernando.

A menção de seu nome me traz de volta à conversa.

Fernando: Nunca tive essa intenção...

Sorocaba: Teve, você teve e se culpou muito por não ter estado lá, mas já repeti mil vezes, não foi sua culpa.

Fernando: Está falando asneiras... — Finjo não me importar.

Sorocaba: Então por que, Fernando?

Fernando: Vai à merda, Sorocaba. Essa conversa toda está me enchendo, porra! — Altero a voz.

Sorocaba: O socorro não chegou a tempo para Mikelly, mas chegou para essa garota. Você ficou lá o tempo todo, e até entendo arcar com as despesas do hospital, mas nada justifica a quitação da dívida. E, por Deus, contratar a garota para sua assistente... já tem a Anna, que é perfeita no que faz — volta a perguntar, dessa vez usando seu tom de reprovação.

Fernando: Anna está sobrecarregada e precisa de ajuda.

Sorocaba: Mas ela não pediu por isso.

Fernando: Bom, eu me adiantei, e outra, qual o problema? Apenas ajudei uma garota que não tem onde cair morta. O destino a trouxe, jogou-a bem no meu carro. Não são sinais que dá para serem ignorados — respondo com desdém, enquanto levo o copo até os lábios e bebo um pouco do meu bourbon.

Sorocaba: Você me fez investigar a vida dessa pobre moça porque quer levá-la para cama, e tem um ego grande demais para admitir isso — afirma sem tirar os olhos repreensivos de mim.

Rio diante das suas palavras, voltando meu olhar para ele.

Fernando: Nunca precisei disso para comer uma mulher. Sabe bem, e outra, não é porque você é meu melhor amigo e está com minha irmã que isso te dá o direito de se meter na minha vida.

Sorocaba respira fundo, mostrando toda a sua impaciência antes de beber a sua cerveja.

Sorocaba: Você é um cretino, Fernando! Está pensando com o pau agora, é? Quando você vai se cansar de brincar com todas essas garotas?

Fernando: Em primeiro lugar, eu não brinco com elas... Quero dizer... De certa forma, sim. Mas todas abrem as pernas para mim sabendo que quero apenas fodê-las — explico, como se essa fosse a primeira vez que tocamos nesse assunto.

Sorocaba inspira novamente, voltando-se para mim com os olhos semicerrados. Sei que ele está prestes a fazer mais um dos seus discursos entediantes sobre a vida e em como eu deveria ter coração, então falo antes que ele tenha a oportunidade.

Fernando: Não estou com intenção de levar a senhorita Maiara para a cama. Ela é uma garota bonita, admito, mas não faz o meu tipo. Estou fazendo isso sem nenhuma intenção a mais do que simplesmente ajudar. Ofende saber que pensa o pior de mim.

Sorocaba me encara por alguns segundos em silêncio, como se estivesse se decidindo se acredita ou não em minhas palavras, antes de enfim desistir.

Sorocaba: Quer saber, eu preciso ir... fiquei de encontrar a Tatiana para jantar. Temos alguns assuntos a respeito do noivado e... — ele diz, enquanto verifica a hora no relógio do seu pulso.

Assinto, não querendo me envolver nisso.

Sorocaba: Te vejo depois — ele se despede e eu aceno sem muita enrolação.
Ele bate nas minhas costas, antes de deixar uma nota sobre o balcão e ir embora.

Sorocaba se vai, deixando o gosto amargo da verdade. Não estou fazendo isso só porque minha noiva não teve uma chance, vai além. Qual o problema em ajudar uma garota com a vida toda fodida? Ela ter entrado em minha vida da mesma forma que minha noiva saiu é só a merda de uma coincidência, nada mais...

Viro mais dois copos, querendo tirar essa merda de névoa que Sorocaba deixou. E não demora muito até que uma garota loira, usando um vestido justo ao corpo, ocupe o banco que outrora meu amigo esteve sentado. Seu perfume adocicado chega até mim e eu sou obrigado a olhar em sua direção. Ela não aparenta mais de vinte anos, mas seus grandes olhos castanhos estão sobre mim, analisando-me com interesse.

Hoje não, sussurro a mim mesmo, mas contrariando minha repreensão, ela vem até mim.

Não estava em meus planos tirar a roupa de nenhuma mulher hoje, mas se a caça veio até o predador, quem sou eu para negar uma boa e inesquecível noite de foda?

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Oi gente 🥰.
Estão gostando da fic? Devo continuar?

Não se apaixone por mimOnde histórias criam vida. Descubra agora