Capítulo 18

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• Maiara •

Fernando segue para a reunião, deixando uma Anna abobalhada em minha sala. Ainda estou digerindo tudo isso, pensando quando foi que me tornei essa idiota que aceita e se contenta com migalhas. Me sento à minha mesa e vejo Anna vir sentar-se à minha frente, lendo os documentos.

Anna: Eu sabia que um dia seria recompensada pelo meu esforço, mas um Range? Tem ideia de como estou, Maiara?

Me forço a sorrir, me sentindo péssima. Espero a euforia dela passar, e quando ela vai para a sua sala, posso desabar, correndo para o banheiro e chorando de soluçar. Por quê? Por que dói tanto se eu não sinto nada por ele?

Volto à sala ainda secando as lágrimas e dou de cara com Anna. Antes que ela deduza que estou assim pelo carro, invento a primeira coisa que me vem à mente.

Maiara: João... — sussurro, não conseguindo conter as lágrimas.

Anna: Ah, coitadinha. Ele sofreu um acidente? — Nego. — Terminou com você?

Merda! Levo a mão ao rosto e confirmo, então ela vem até mim e me abraça.

Anna: Ah, querida, não fique assim, nenhum babaca merece nossas lágrimas. — Tenta me consolar. — Olha, eu já passei por isso e...

Maiara: Já se apaixonou? — pergunto rapidamente. Ela confirma, então voltamos à minha mesa. Assim que ela se senta à minha frente, toca minha mão. — Então, sabe a diferença de um homem que só quer se aproveitar ou alguém que...

Anna: Que te ama? — ela completa. — Você percebe, e se está com dúvida é sinal de que João não sente nada por você.

Droga, tento não chorar, mas acontece o oposto.

Maiara: E intimamente, tem diferença?

Anna: Fala no sexo? — Confirmo. — Ah, querida — coça a cabeça —, amor é repleto de sentimento, cheio de sintonia, carinho, é muito mais sobre dar prazer do que receber. O sexo é químico, físico, carnal, mais egoísta também. — Suspiro. — Fodas você dispensa sem remorso, Maiara, e digo mais, quando fizer amor com alguém, nunca mais vai se contentar com uma foda. Mas o essencial se quer evitar decepções, diminua as expectativas, é clichê, eu sei, mas não deixa de ser verdade. Agora, Maiara, não pense que estou alheia ao seu sofrimento, mas quero ter a chance de esfregar meu carrão na cara do pessoal do rh — diz, sorrindo. Ela é tão sincera que não consigo não rir e acenar positivamente.

Maiara: Obrigada, Anna.

Ela toca minha mão em uma carícia rápida e deixa a sala.

Penso sobre isso e me dou conta de que nunca houve um beijo cheio de amor, nem promessas, sempre é sobre prazer e foda. Está claro que com Fernando eu nunca vou ter um relacionamento de verdade. Sua voz ao telefone dizendo que todos têm um preço me faz quase vomitar, porque, no fundo, acho que foi tudo sobre isso. Eu entrei em sua vida, e após investigar a minha, ele estipulou meu preço.

A tarde passa e eu não consigo me concentrar em mais nada. Até mesmo a proeza de me fazer afogar em meus pensamentos Fernando consegue. E se Anna já não se aguentava pelo coquetel de lançamento da campanha da Freedom que será amanhã, agora, com o carro, a mulher só sabe falar disso.

A volta para casa parece ainda mais solitária do que normalmente costuma ser. Pela janela do ônibus, vejo um casal de mãos dadas e isso só me confirma que nunca, em hipótese alguma, seremos assim. E toda essa contradição me leva à próxima pergunta. Por que continuar com isso se no final só vou me machucar?

Não se apaixone por mimOnde histórias criam vida. Descubra agora