Capítulo 7

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• Fernando •

Um erro. Um pequeno equívoco do destino e cá estou eu, sendo estúpido novamente para cair em seu jogo. Houve um tempo em que eu me sentia satisfeito, levando minha vida regada a conquistas e sexo sem compromisso. Houve um tempo em que toda a extravagância que eu poderia realizar com meu dinheiro me fazia esquecer o grande buraco em meu peito, deixado pela perda da mulher com quem um dia sonhei construir uma família. E até então nada do que eu fazia parecia suprir a falta e a saudade que se instalou em minha alma, desde que Mikelly morreu. Nada até uma garota de sorriso fácil bater em meu carro.

***

Ouço uma leve batida à porta antes que ela seja aberta e Maiara, ou como meu amigo Sorocaba chama, meu erro diário, entre em minha sala. Ele afirma com tanta veemência que quero fodê-la, que isso me faz rir, claro. Eu não quero, não quis nem por um segundo, foi só o destino. Ela está usando um terno preto e justo ao corpo. O decote em leve v não mostra mais do que sua pele sedosa, no entanto, deixa muito para imaginar. Seu cabelo ruivo está preso em um coque, alguns fios teimosos caindo sobre seus ombros. A maquiagem é leve e os lábios estão perfeitamente pintados com tom rosa-claro. O olhar expressivo faz uma rápida varredura pela sala.

Maiara: Bom dia, sr. Zorzanello. Podemos repassar sua agenda — ela diz educadamente e me serve o café. A respiração um pouco ofegante indica que acabou de trazê-lo. Então, se inclina sobre a mesa, colocando o copo. O aroma suave do seu perfume chega até mim e, instintivamente, inspiro profundamente, desejando por um momento que ela se aproxime mais.

Fernando: Obrigado — digo, mantendo-me sério. Lógico que o agradecimento a pega de surpresa. Levo o copo à boca e a percebo observando tudo. Tem o quê? Duas semanas, talvez três, que ela surgiu na minha vida. Mas foram raras as vezes que estivemos aqui, com tempo o suficiente.

Maiara é esforçada, admito. Com sua vidinha sem um futuro brilhante à frente, ela parece levar bem o fato de ter que cuidar do pai, estar aqui ganhando seu dinheiro e aceitando o que a vida lhe dá.

Fernando: Sente-se. — Aponto a cadeira à minha frente.

Talvez ela tenha pensado que, como todos os outros dias, eu a dispensaria, mas não hoje.

Termino o café e puxo alguns papéis da gaveta. Mantenho meus olhos em qualquer coisa que não seja Maiara. Fitar seu rosto e suas curvas não é algo muito produtivo para alguém na minha posição. Não posso negar que me sinto atraído por ela, mas tenho princípios e quero manter o profissionalismo dentro do meu local de trabalho. E claro, contradizer meu amigo que insiste que não há nada de bom aqui, apenas uma foda, e quando a tiver, vou dispensar a garota.

Fernando: Está tudo bem com seu pai?

Seu rosto se ruboriza pela pergunta, agora mesmo ela encara a mesa.

Maiara: Sim, está... — diz rapidamente.

Fernando: Fico feliz por isso.

Seu rosto se fecha em uma postura séria. Desço o olhar para o pequeno decote, e se fosse em outra ocasião, já teria tentado arrancar suas roupas, mas essa não é uma delas.

Maiara: Podemos repassar sua agenda de hoje?

Ergo a mão e faço menção para que ela espere, então termino o café enquanto assino os papéis, voltando-os à gaveta.

Fernando: Você sempre foi assim tão ágil, ou está apenas tentando se livrar do tempo que tem comigo? — pergunto sem olhá-la.

Maiara: Estou apenas fazendo o meu trabalho — rebate sem rodeios.

Não se apaixone por mimOnde histórias criam vida. Descubra agora