Lembranças Dolorosas

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Heizou andava um pouco mais a frente, abrindo espaço entre as pessoas, enquanto Shinobu o seguia observando suas costas encolhidas, provavelmente estava tenso.

Após a conversa que tiveram a alguns minutos atrás, nenhuma deles trocou uma palavra, a sacerdotisa ficava ainda mais preocupada com o detetive.

Passaram-se mais alguns minutos andando até que Heizou parou na ponte de madeira que havia no centro da cidade. Algumas pétalas de cerejeiras estavam caidas pelo chão da ponte, além de outras caírem na água cristalina que estava abaixo deles. Não haviam muitas pessoas passando pelo local - por estarem se preparando para verem os fogos -, as luzes amareladas passavam uma sensação de conforto, além do vento leve que era presente, acalmando seus nervos.

O Shikanoin se apoiou sobre as barras da ponte, observando seu reflexo na água, Kuki fez a mesma coisa, observando-o.

- Não precisa ter pressa, não vou a lugar algum - disse a garota num tom baixo para somente ele ouvir.

O rapaz levantou o olhar para observá-la, podia ver que ela estava tentando lhe confortar. Em sua mente, era irônico imaginar ser reconfortado por uma sacerdotisa que conhecia a poucos meses. Talvez Ogura estivesse certa, Shinobu consegui mudar sua postura. O rapaz fechou os olhos e respirou fundo para se concentrar no que viria a dizer.

- Eu... - suspirou - Sou de uma família humilde, meu pai foi um lutador de artes marciais no passado, foi ele quem me ensinou a lutar, mas ele se aposentou a muito tempo - suspirou - Na aldeia onde eu morava, desde sempre gostava de investigar e de descobrir os problemas que aconteciam por lá. Da pra ver que eu tenho jeito com isso desde pequeno - brincou.

- Consigo imaginar um mini Heizou com uma lupa andando por aí - disse imaginado a cena e achando fofo.

O comentário soltou uma pequena risada do detetive.

- Quando eu tinha uns 15 anos, conheci um garoto que se dizia ser filho de um mercador, ele era muito legal, sempre trazia presentes muito caros da loja dos seus pais - deu um sorriso de lado se lembrando daqueles velhos tempos - Ele se tornou o meu melhor amigo, sempre brincávamos juntos pela aldeia... E também sempre íamos a este festival... - aos pouco seu sorriso foi se desfazendo.

Shinobu então percebeu que este festival não era somente importante para ela, era importante para Heizou também, ela poderia perceber o peso na voz do mais velho.

- Mas... Nada é o que parece... Posso ser de família pobre, mas não sou idiota. Com o tempo, fui percebendo que mesmo ele dizendo ser de uma família de mercadores e supostamente ter muito dinheiro, ele sempre estava sujo, das roupas até a cara. Eu sabia que tinha algo errado, e de fato tinha.

- O que aconteceu?

- Ele estava mentindo pra mim, ele nunca foi de uma família de mercadores, na verdade ele era um batedor de carteiras - disse sério - Tudo que ele "comprou" pra mim, na verdade eram coisas que ele havia roubado e me dado...

A garota não conseguia dizer nada e mesmo que conseguisse, ela sentia que ainda não era a hora de dizer algo.

- Eu estava com tanta raiva que eu acabei ficando cego pela ira... Falei na cara dele como pode ter mentido pra mim, eu me sentia um cúmplice que escondia o que acabou de ser roubado... Eu odeio mentiras - sussurrou a última frase - Na mesma hora eu falei pra ele ir embora, que eu nunca mais queria vê-lo na minha vida. Pode parecer exagerado da minha parte, eu sei disso, mas eu não pude me conter, minhas emoções falaram mais alto - dizia triste.

- Foi... Bem forte - dizia num tom baixo.

- E ainda com muita raiva, eu acabei por... Queimar tudo que ele havia me dado - pos a mão no pescoço mostrando estar arrependido.

Uma Noite Por InazumaOnde histórias criam vida. Descubra agora