7- Se sentindo culpada

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Assim que amanheceu, Elisa olhou em direção à janela, observando os raios de sol por sobre as cortinas. Havia dormido mal, na verdade fazia tempos que não dormia bem. Sua noite era agitada com pesadelos, sonhava com Jaoquim sendo atingido em combate, acordava assustada e angustiada. O pobre do seu irmão talvez nem soubesse da morte dos pais e nem que ela havia sido submetida a este casamento. Também sentia tanta falta dos pais, não tinha vivido o luto da forma apropriada. 

Se levantou, pediu à serva que lhe preparasse um banho. Antes que entrassem com os baldes de água quente,  precisava fazer o que Manuel havia lhe pedido, era sua única garantia de que ele a deixaria em paz por um tempo.

Logo no desjejum, soube que o clima naquela casa andava de mal a pior. Manuel tinha olheiras, como se também não dormisse a noite toda, foi difícil encará-lo depois do que havia acontecido na noite anterior. Elisa sentia medo daquele homem, o que era terrível, pois precisaria se acostumar a viver ao lado dele para o resto de sua vida.

Então, a senhora Francesca se aproximou e fez uma mesura, desejando falar com Edna. Ela ouviu atentamente o que a seva dizia ao seu ouvido. Elisa percebeu o olhar malicioso que Edna lhe lançara de canto. Quando a senhora Francesca se afastou, a mulher não se conteve:

– Fico feliz que finalmente tenham se tornado marido e mulher. – Manuel, que estava concentrado em seu prato, olhou rapidamente para Edna e depois para Elisa. 

Então, souberam que o plano havia dado certo. Os servos haviam avisado sobre os lençóis sujos. O rosto de Eliza queimou de vergonha por ter sua intimidade exposta daquela forma, mesmo que de forma mentirosa. Porém, sabia que teria uma trégua não somente com o marido, mas também com Edna.

– Mamãe, não vamos falar da nossa intimidade. Seja discreta!– Manuel ordenou da mesma forma rude de sempre.

Logo ele retomou ao seu prato como se nada de importante estivesse acontecendo.

– Não vejo a hora de me encomendarem um neto! Espero que trabalhem nisso incansavelmente.

Elisa sentiu nojo daquela hipótese, e imediatamente Manuel bateu os talheres na mesa com violência, era nítido seu incômodo com o comentário da mãe.

– Chega, mamãe!

As duas que estavam à mesa se assustaram. Porém, Elisa ficou satisfeita em saber que Manuel não havia gostado daquela ideia.

Uma serva aproximou-se para servir o leite. Manuel aproveitou para encerrar aquele assunto.

– Maria, tem notícias de Fernando?

Elisa sentiu uma estranha ansiedade para saber a resposta da serva. 

– Ele partiu logo cedo. Levou as bagagens.

– Ótimo, certamente irá para longe, assim ganho tempo – falou Manuel antes de sair da mesa sem ao menos dar um bom dia.

Felizmente, Edna o seguiu e Eliza respirou aliviada por estar sozinha. Porém, tinha planos de procurar pelas meninas. Anseava pela companhia delas.

*

Os dias naquela casa eram angustiantes, Elisa sentia tanta falta de sua antiga vida, entretanto, ao menos tinha as meninas que sempre  conseguiam uma forma de vê-la. Manuel a deixou em paz, mas todas as noites temia que ele fosse lhe visitar, no entanto, felizmente não acontecia. 

Naquela manhã, Elisa chegou à mesa do café e ficou surpresa quando viu as meninas. Antônia usava aqueles laços infantis na cor verde, combinando com as fitas do vestido apropriado para uma menina de doze anos. Era nítido que ela se sentia desconfortável com sua aparência, talvez por este motivo fosse tão tímida. Joana quase pulou da cadeira para abraçar Elisa, mas a senhora Mazé a impediu com um olhar recriminatório, o que fez a garota não se mover mais no lugar. No entanto, ela não poupou sorrisos e pulinhos mesmo sentada. Mesmo de forma severa, era visível que a senhora Mazé não as tratava com o mesmo rigor que os demais, e que as meninas a amavam.

RAZÕES PARA NÃO TE AMAR(✅COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora