Naquela mesma tarde, de repente, a luz do dia se foi à medida que uma tempestade se aproximava. Ventos fortes arrastavam a decoração de flores delicadas preparada no jardim para o cumprimento dos noivos. Os forros de cetim se erguiam, derrubando os talheres de prata. Com a chegada da polícia, Fernando foi socorrido e levado para um dos quartos, não o que fora dele durante sua estadia como hóspede, pois ali, o corpo de Daniel era coberto por lençóis por seus empregados enquanto a polícia analisava tudo que tinha acontecido. Antonia conseguiu que um servo a levasse atrás do médico. Rodrigo Maia era um dos convidados que já tinha ido embora. A caminho da cidade, foi interceptado pelos servos dos Antunes e Antônia com a notícia da grande tragédia. Conhecia bem os Valenças, ele próprio cuidou de Jorge Valença quando caiu de seu cavalo num acidente. O senhor Menezes estava logo à frente em sua carruagem com sua família, e viu quando Antônia abordou o médico em desespero, saltando da carruagem dos Antunes.
— Senhorita, Valença... Céus, o que houve? — Menezes perguntou ao se aproximar.
A jovem estava suja de sangue e parecia apavorada.
— Senhor Menezes... Meu irmão Manuel atirou em Fernando, ele está morrendo !— gritou em meio ao choro e todo nervosismo. — Preciso do senhor Rodrigo.
— Aqueles dois nunca se deram bem... Mas chegar a este ponto! — o médico ainda lamentou.
As mulheres, esposas e servas, se esgueiravam pela cabine curiosas sobre o que teria acontecido. Todos os convidados comentavam a respeito do cancelamento do casamento.
Antonia o apressou.
— O senhor precisa vir agora, senhor Rodrigo. Por favor!
— Sim, senhorita, vamos!
O senhor Menezes se manteve solícito.
— Vou com vocês para ajudar no que for preciso.
Rapidamente, eles dispensaram seus servos para que levassem as mulheres de volta para casa e seguiram Antônia na carruagem dos Antunes. No caminho, Antônia contou tudo que tinha acontecido e os dois homens ficaram chocados ao saber do surto de Manuel, sua fuga e a morte de Daniel. Logo chegaram à fazenda. O clima era o mais pesado possível. Foram direto ao quarto onde Fernando estava sobre os braços de Elisa, que chorava em meio aos soluços. O médico achou aquela cena estranha, afinal, Elisa era esposa de Manuel. No entanto, era discreto e detestava falatórios, por isso, não fez nenhuma pergunta. Menezes, que já estava ciente do relacionamento de Elisa e Fernando, sentiu pena da jovem, era nítido o seu sofrimento. Ficou pensando se o estado de Fernando não fosse por causa da esposa de seu irmão.
— Preciso extrair o chumbo. Me consigam toalhas limpas, cachaça, faca, tesouras e uma pinça — pediu o doutor aos servos. — Também vou precisar de cordas.
Elisa ficou assustada com o último pedido. Ela estava despenteada e coberta pelo sangue de Fernando, seus nervos estavam à flor da pele, os olhos inchados pelo choro, pele vermelha pela exaustão. Em silêncio, fazia uma prece pedindo aos céus que Fernando ficasse bem.
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RAZÕES PARA NÃO TE AMAR(✅COMPLETO)
Roman d'amourApós a morte de seus pais, Elisa foi obrigada a se casar para pagar uma dívida com os Valença. O então marido, Manuel, não consegue disfarçar nem um pouco seu asco por ela e nem por qualquer outra mulher, tratando-a mal, de forma violenta e agressi...