31- Fuga na noite

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Aquela se tratava de uma noite relativamente quente. Elisa estava com dificuldades para dormir, como em todas as noites desde que chegou aquela casa. Felizmente estava em um quarto somente seu, depois que se impôs a Manuel, ele a deixou em paz, e não se colocou contra quando pediu que os servos arrumassem o quarto que era dela quando havia chegado na casa. Na verdade, tudo estava tranquilo demais, o que era inquietante. Elisa sabia que Manuel estava empenhado em alguma coisa para tentar virar o jogo ao seu favor novamente, e aquela suposição a deixava mais assustada do que antes. Ele mal parava em casa, saía muito cedo e chegava pela madrugada. Os criados começavam a falar sobre algumas questões administrativas dos negócios que não andavam bem. Manuel não era como Fernando, que andava pelos campos, conversava com os trabalhadores e às vezes até colocava a mão no arado. Além do mais, Manuel havia deixado de assinar papéis importantes, se recusava a aceitar suprimentos de cargas encomendadas anteriormente por Fernando, e aquilo estava atrasando o plantio.

Elisa ouviu um tilintar suave na janela. Remexeu-se entre os lençóis, até que ouviu pela segunda vez. Ela se sentou na beirada da cama e acendeu a lamparina no móvel ao lado, alguém estava jogando pedras em sua janela. Então, se ergueu, calçou as sandálias e se aproximou. Seu coração bateu de forma acelerada quando viu a figura de Fernando lá embaixo, precisou de alguns segundos para ter certeza de que não se tratava de um sonho. Elisa abriu a armação de madeira e sentiu o vento delicioso tocar seu rosto, entretanto a sensação mais gostosa era a de vê-lo bem ali. Fernando usava apenas camisa por baixo do colete, não vestia casaco e nem sobrecasaco, seus cabelos também estavam levemente desalinhados e o vento brincava com os fios de forma divertida.

— Venha! — ele sussurrou baixinho enquanto a chamava com um gesto para que ninguém o ouvisse.

Ela engoliu seco, estar com ele era tudo que mais desejava, então não pensou duas vezes. Se afastou da janela numa ansiedade absurda e vestiu seu penhoar, amarrando a fita em sua cintura apressada. Segurou sua lamparina e saiu pelos corredores da casa vazia e silenciosa, temendo que as batidas enlouquecidas de seu coração fossem ouvidas e ecoassem, acordando os moradores da casa.

Desceu as escadas devagar, praticamente na ponta dos pés, deixou a lamparina sobre um móvel e abriu a porta. Assim que saiu para fora, sentiu a brisa refrescante brincar com suas roupas nada adequadas para sair para fora, e notou o quanto estava refrescante ali. Então o viu, estava parado à sua espera, tão ansioso quanto ela.

— Fernando! — Falou, se lançando sobre ele com sua voz desesperada.

Ela envolveu seus braços no pescoço dele e o apertou forte. Fernando colou seu corpo sobre o dela, sentindo cada milímetro, e um alívio imediato o aquietou. Ele a ergueu de leve do chão e logo seus lábios também estavam colados, unidos numa paixão desenfreada, eram uma mistura de saudade e desejo. Foi apenas um beijo rápido, pois ficar ali poderia ser muito perigoso, ser visto por algum criado ou até mesmo por Edna.

Quando ele a soltou, segurou sua mão delicadamente num convite.

— Venha, vou te levar a outro lugar.

Ela obedeceu veementemente e sem pestanejar.

Próximo dali, Elisa viu um belo cavalo, certamente de raça, mas não sabia ao certo se era algum dos animais da fazenda, sua aparência era bastante peculiar. Ficou preocupada, imaginando se Fernando estivesse vindo da cidade àquela hora sozinho, montado apenas em um cavalo selado alugado. Ele subiu primeiro no animal e depois ergueu as mãos para ela, que saltou e se acomodou bem à sua frente. Passou a mão nas rédeas e ela se manteve entre seus braços, sentiu seu rosto se tocar em seu queixo de uma forma gostosa, pôde sentir o calor de Fernando. Estar perto dele fazia-a perder o fôlego. Havia tanta saudade misturada a um desejo carnal queimando dentro dela, sentimentos novos para Elisa, desde  que se entregou a ele pela primeira vez, era comum sentir uma vontade de unir seu corpo ao dele, de ter seus beijos úmidos por toda sua pele, de tê-lo dentro dela. Elisa corou com seus próprios pensamentos inapropriados. Enquanto o animal os transportava para algum lugar, ela desviou seus pensamentos.

RAZÕES PARA NÃO TE AMAR(✅COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora