18- A fuga

23 4 4
                                    


Fernando não conseguiu pregar o olho durante a madrugada, a revolta lhe invadia ao se recordar das marcas no corpo de Elisa. Altas horas, ele ergueu-se da cama, seu corpo estava encharcado pelo suor. Já em pé, chutou qualquer coisa que estivesse à sua frente num sentimento de impotência, mas sabia que ao se encontrar com Manuel não teria controle algum, partiria a cara dele para lhe ensinar a nunca mais erguer a mão para uma dama. Várias vezes seguidas, precisou sair do quarto numa angústia devastadora. Desejava falar com Elisa, entretanto, não podia invadir seus aposentos, ainda mais pela madrugada. Chegou a pensar que, se encontrasse Manuel no leito de Elisa, seria capaz de cometer um crime. Por isso, aquela foi a pior noite que ele viveu em toda sua vida.

Quando os primeiros raios de sol finalmente surgiram, timidamente entre as nuvens, Fernando se ergueu da cama, ordenou a um servo que lhe preparasse um banho. Seu estado estava deplorável, o rosto marcado pela exaustão de uma noite sem dormir e cheio de olheiras. Quando o servo entrou no quarto, Fernando aproveitou para se informar, então descobriu que Manuel não havia passado a noite em casa. Fernando tomou um banho apressado, estava decidido a invadir o quarto de Elisa e ter uma conversa com ela. Diria o quanto estava apaixonado e que, desde o primeiro momento em que a viu, ela estava impregnada em sua mente, em seus sonhos e em seus desejos mais íntimos. Diria que estava disposto a salvá-la daquele inferno em que estava vivendo, e que faria o que fosse possível e impossível para tê-la, para protegê-la, ainda que sua vida dependesse disso.

Já vestido, barbeado e penteado, Fernando não perdeu tempo. A leve claridade do amanhecer já iluminava os corredores silenciosos da casa, certamente as meninas e Edna ainda dormiam. Ele seguiu ansioso em direção ao quarto que tanto desejava, deu batidas de leve e, ao notar que não seria recebido, chamou o nome que soava tão bem em seus lábios num sussurro.

— Elisa, sou eu, Fernando. Por favor, abra.

Mas o silêncio permaneceu e ele bateu mais duas vezes de leve. Ansioso para resolver aquela situação, Fernando olhou para os lados conferindo se alguém se aproximava, e ao notar que estava só naquele corredor vazio e frio, levou a mão à maçaneta de bronze e abriu a porta devagar, temeu que ela estivesse dormindo e se assustasse. Então, Fernando notou que o ambiente ainda estava com as cortinas fechadas, e ficou ainda mais surpreso ao ver que o quarto estava vazio.

Fernando procurou por cada canto numa angústia ainda maior, afinal, aquele não era um horário em que as mulheres costumavam se ausentar de seu leito. Logo notou que havia roupas pelo chão e a cama estava desarrumada. Respirou fundo e passou a mão pelo rosto pensativo, tentando descobrir o que tinha acontecido. Ao perceber que ali não encontraria respostas, saiu do quarto, desceu as escadas passando pelo enorme arco da sala principal e se dirigiu à saída. Naquele momento, avistou a senhora Mazé, que carregava  alguns lençóis, e lhe abordou. A mulher, que o tratava com desconfiança desde  que notara algo entre ele e Elisa, o encarou com ar de julgamento quando lhe perguntou sobre Elisa. No entanto, ela disse que ela permanecia dormindo, não foi  vista. Então, preocupado, Fernando não disse nada e saiu do campo de visão da serva.

Ainda na entrada da casa, sobre as escadas, se com um servo que parecia preocupado.

— Bom dia, senhor Valença! — disse, fazendo um cumprimento.

Fernando correspondeu e logo o homem foi dizendo, aflito:

— O que houve, André?

Ele o encarou receoso, parecia alguém que cometera algum erro grave.

— Eu precisava falar com o senhor Manuel, mas ele não está, então acho que eu deveria falar com a senhora Edna.

RAZÕES PARA NÃO TE AMAR(✅COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora