— Miles?
A voz de Yeonjun me traz de volta para a realidade. Minha cabeça ainda descansa no colo de Jungkook, e a situação não é nada favorável para nenhum dos dois. Sei disso porque minha bochecha está encostando num dos botões de sua calça jeans, e quando me mexo, ele parece tão aterrorizado quanto eu.
Tudo bem, eu posso passar por isso. Preciso de uma solução, de alguma explicação que faça essa situação parecer perfeitamente normal. Pensa rápido, Miles!
Eu poderia fingir um desmaio. Fiz aula de teatro por um mês no sétimo ano, e fui uma exímia atriz em meu papel de figurante, no qual eu desmaiava e alguém gritava que "Estou chamando uma ambulância!" enquanto meu marido, também figurante, me segurava em seus braços. Isso me lembra que ele era um nerd apaixonado por mim, e enquanto eu caía de costas, suas mãos acidentalmente encostaram em meu peito.
Er. Nada de desmaio. Vou ser honesta com Jun, não há nada pra julgar aqui, sei que ele com certeza vai entender que, de alguma maneira bizarra, acabei parando no carro do cara que odeio, e no colo dele, cara-a-cara com seu.... Romeu, e tudo isso aconteceu sem querer.
— Hã, boa noite — digo, esperando alguma resposta, mas um silêncio avassalador continua nos assombrando.
Olho de Yeonjun para Jungkook, de Jungkook para Yeonjun. Estou em pânico. Repito o processo outra vez, e enquanto nós três nos encaramos como num filme de suspense, assisto de camarote um sorriso de canto brotar nos lábios de Jungkook. O palhaço está achando graça da situação.
'Tá legal, chega de honestidade. Hora de improvisar! Estou planejando algo grande, do tipo: Yeonjun, você não vai acreditar! Fui sequestrada, e o Jungkook estava passando por perto e parou para me ajudar. Então o sequestrador o fez dirigir até o campus, fugiu com minha carteira de dignidade... digo, identidade, e me empurrou até que eu caísse aqui. De boca no... É, não vai colar.
— Nossa — digo, rindo de forma extremamente forjada. — Você me assustou. Eu acabei de perder meu brinco, acredita?
Pela sua expressão, ele não acredita nenhum pouco.
Jungkook prende um suspiro, como se fosse muito doloroso para ele não rir. Belisco-o de modo nada sutil.
— Você não acha que a virilha de alguém é um lugar meio peculiar para procurar um brinco?
Ele com certeza não acreditou.
Cansada demais para encarar seu possível julgamento, eu me retiro daquele lugar mundano e obscuro que só pessoas sem esperança e totalmente perdidas gostariam de visitar — sim, estou falando do colo de Jungkook.
— Olha só, eu me desequilibrei, 'tá legal? Por mais estranho que seja, essas coisas acontecem. Você sabe que eu não sou o tipo de garota que faz essas coisas! Você deveria estar preocupado se a Chaeyoung estivesse aqui, nesse tipo de posição, ela é uma Jungkook-Planista, não eu! — digo, totalmente na defensiva, e dessa vez parece fazer mais sentido para ele. Vejo pelas suas expressões que está voltando a si, e percebendo que eu, Song Miles, jamais pagaria um babão para o bobão do Jungkook dentro de um carro. Nem fora dele, é claro.
— O que é uma Jungkook-Planista? — questiona Jungkook, mas tanto eu quanto Yeonjun o ignoramos.
— Mas o que você está fazendo dentro do carro, de qualquer forma?
Ele volta a arquear as sobrancelhas e eu saio da defensiva imediatamente, pois me esqueci por alguns segundos deste detalhe. Não quero contar a verdade pra ele, e também não acho que minha relação — se é que podemos chamar assim — com Jungkook possa ser explicada em alguns minutos. Nos conhecemos há pouco tempo, mas muitos foram os detalhes que nos entrelaçam desde aquela fatídica batida de carro. Às vezes sinto como se estivéssemos acidentalmente algemados juntos, é assim que parece, porque não consigo me livrar dele desde o dia em que o conheci.
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Dano Colateral - JJK
FanfictionTinha um defeito enorme sobre mim: eu era péssima em seguir as metas que traçava pra minha vida. E não foi só o último acontecimento que me levou a essa indesejada, mas verdadeira conclusão. As minhas falhas em seguir meus princípios começaram bem a...