BONUS: Miles é Miles

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BONUS CHAPTER.

Qual é o seu problema, garota?

Eu gosto de lembrar do dia que conheci Song Miles.

Olhando para trás agora, é cômico lembrar da sequência de acontecimentos que levaram a nossa aproximação. Não sou uma pessoa que acredita muito em destino, mas algumas coisas na vida me soam tão… canônicas, que fico com aquela sensação que essas coisas simplesmente deveriam ter acontecido. Exatamente como o dia que conheci Song Miles.

Ao mesmo tempo que é engraçado lembrar,  estranho pensar que eu não a conhecia antes. É muito estranho pensar que sua presença já faltou em minha vida. Se eu a conhecesse como a conheço agora, jamais teria feito aquela pergunta, porque saberia exatamente qual o problema dela. Miles é maluca. Totalmente maluca. Não sou médico, mas trago comigo muita certeza do meu diagnóstico.

Honestamente? Costumo aconselhar isso a todos os meus amigos, sem exceção: fuja das malucas. Não importa se você a viu parada na rua com uma perna quebrada pedindo socorro, apenas fuja. As doidas são as piores, cara. Já conheci muita gente maluca na minha vida, e não sou o tipo de cara que sai por aí espelhando frases machistas dos homens mais velhos da minha família, mas nos meus anos de Collateral, também posso dizer que conheci muitas garotas malucas. Já recebi calcinhas vermelhas no meu armário de escola, números de telefone anotados em papéis com um batom que foram tirados diretamente do sutiã de algumas moças que me entregaram, e até um te amo no meio do sexo com uma garota que conhecia há cerca de duas horas - cara, isso foi estranho. Mas, de alguma forma isso não tem muito a ver com o gênero, é mais como se a pessoa em si fosse maluca. É por isso que eu sempre fugi de pessoas assim. Isso tudo, é claro, antes de conhecer Song Miles.

Hoje é madrugada de domingo, estou com os cabelos molhados e minha camisa favorita de Arcane. Olho para o relógio e ainda é 01:40 da manhã. O tempo não passou rápido como sempre passa depois que cheguei em casa, e também não sinto sono, o que é estranho, porque acabei de me apresentar por mais de uma hora para um público de seiscentas pessoas na HongStage. Eu deveria estar podre, e dormir assim que meu corpo tocou no colchão, mas minha mente não me deixa dormir, porque está me atormentando com a imagem de Miles naquele corredor escuro, com seus olhos grandes e castanhos molhados, chorando por outro cara.

Quero me dizer para não fazer isso, mas me reviro na cama em busca do meu celular e abro o aplicativo do Instagram, meus dedos travando por alguns segundos enquanto acesso o perfil de Yeonjun à procura de um rosto familiar nos perfis que ele segue. Não é tão difícil, consigo identificar seu rosto com facilidade segurando um gato gorducho, com manchas pretas em seus pelos brancos e sem nenhuma vontade de estar ali. De novo, sinto vontade de não fazer aquilo, como se algo importante e que vai mudar minha vida fosse ser desbloqueado ao acessar o perfil de Miles, mas ignoro tudo aquilo, porque não acredito em coisas desse tipo, e lá estou eu, revirando seu perfil como um verdadeiro perseguidor.

Procuro em todos os seus contatos, e não é tão difícil achá-lo também. Sua foto de perfil é ele correndo num campo de futebol, e as fotos do feed são todas semelhantes. Reviro meus olhos para sua falta de criatividade, então percebo que estou com raiva de uma pessoa que sequer conheço.

— Foi por essa droga que você se apaixonou, Miles? — Franzo meu cenho. — Esse cara não é mais bonito que eu nem a pau.

Estou encarando uma foto de seu rosto, seu topete perfeitamente alinhado e seus olhos verdes enquanto procuro por defeitos. Sempre gostei de malhar, mas seu porte atlético me faz pensar que estou fazendo algo errado. Percebo que meu rosto está enfezado há minutos, mas ele só se tranquiliza quando vê uma foto daquele perna de pau em meio ao seu time. O cara é um anão. Fala sério, não adianta nada ter tudo que ele tem e parecer um anão da Branca de Neve no meio de outros caras. Eu realmente não acredito que Miles está sofrendo por esse cara.

— Por que você se importa, Jungkook? — pergunto a mim mesmo, não entendendo os sentimentos que me tomaram. Eu não sou assim.

Volto então para o perfil de Miles, e então entendo a minha frustração. É ter feito de tudo para que o primeiro show da Collateral cativasse Miles, e no final, vê-la com os olhos marejados e se depreciando por causa de um babaca.

Olhando para ela através de algumas fotos, dou zoom em seu rosto. Miles é bonita, mas não é isso que a torna quem ela é. São suas piadas, sua forma de enxergar o mundo de uma maneira estranha, seu nariz franzido toda vez que me vê, determinada a tirar da cartola milhões de frases criativas e improvisadas para me ofender, suas mentiras inusitadas e desculpas esfarrapadas toda vez que alguém a contraria. Ela é como um gênio do mal, que consegue pensar em dezenas de coisas apocalípticas em um minuto, mas usa sua mente parcialmente para o bem. Não sei explicar porque isso acontece, mas de uma coisa tenho certeza: Miles é Miles. Posso passar a noite acordado, procurando milhões de definições para descrevê-la, mas nenhuma vai explicar realmente como ela é.

Eu não fazia ideia, quando a conheci, que ela se tornaria para mim quem é agora. Não é como se eu não tivesse pensado em Miles outras vezes, veja bem, sou um cara que sempre adorou me divertir às custas dos outros, e o ódio de Miles por mim e pelas coisas que digo sempre me serviram como um prato cheio. Já pensei em Miles outras vezes, mas é a primeira vez que paro para refletir sobre o que ela significa agora na minha vida. A relação estranha de amizade que tenho é tão natural que só agora me dou conta de que isso aconteceu, de que está acontecendo.  

Olho novamente para sua foto. Não pega seu rosto inteiro, seu apenas seus olhos gigantes e redondos na frente do espelho enquanto o celular em suas mãos me impede de ver seu nariz e sua boca. Suas unhas estão pintadas de um glitter, meio desorganizado e bagunçado como tudo que envolve ela.

Então, simplesmente faço, sigo seu perfil e curto sua foto. E há um sorriso encabulado no meu rosto quando decido, movido pelas emoções da madrugada, comentar também:

jungkook.97: 😊

Dano Colateral - JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora