O general apaixonado ( Finalizado)

Capítulo 3: sobre kebabs e reencontros

 Andar sem seu capacete o fazia sentir-se despido, era horrível! E as pessoas continuavam a encará-lo do mesmo jeito que faziam antes... tudo bem, ele estava se precipitando, todo progresso é obtido por uma sucessão de pequenos passos que por vezes eram imperceptíveis para o principal envolvido, mas no final a soma de todos  eles dava um resultado gigantesco. O simples ato de andar pela rua com sem seu acessório cerimonial era o começo de sua jornada. 

  Tentou sorrir para aliviar sua própria tensão mas seus músculos faciais não respondiam a seu comando, estava nervoso demais para fazer qualquer outra coisa que não fosse dar um passo depois do outro. Nem se lembrava de quando foi a última vez que se sentiu assim, talvez nunca.  

  Era péssimo.

  Queria comer algo mas sentia que se tentasse falar só conseguiria gaguejar... o que pensando bem era até que bom, pois iria dar um quê de humanidade na figura dele. Suspirou fundo e foi até o vendedor de kebab perto do balcão da Guilda dos Aventureiros, o lanche em questão não era seu favorito mas era rápido de se fazer e mataria sua fome tanto quando um prato mais elaborado, se bem que um curry sempre era muito bem vindo. 

   Não, não,  e não, tinha se decidido por kebab, então iria comer kebab!

  Foi até o fim da fila - como qualquer cidadão consciente faria- só que isso causou uma comoção nas pessoas que lá estavam. Não se passando nem um segundo sem que houvesse alguém falando para ele passar na frente, que o tempo do general Mahamatra era precioso demais, dentre outros argumentos igualmente furados. Todos queriam que ele fosse embora e falavam as primeiras coisas que lhes vinham a cabeça para tentar o convencer, só que se esqueciam que ele era mais do que um general, era um sacerdote da justiça! Não iria furar fila.

  O próprio dono da barraquinha tentou convence-lo a pegar seu kebab antes de servir aos outros, a única resposta de Cyno foi negar com um simples gesto  de cabeça. Assim ele esperou lá como qualquer outra pessoa esperaria. Depois da batalha pela espera do kebab, as pessoas começaram a ficar mais e mais agitadas, chegando ao ponto de alguns temerem até respirar para não irritar ainda mais o general.

  Nunca kebabs foram feitos tão rápido! Cyno ficou até com medo de comer o seu, pois era de frango e não parecia estar assim tão bem assado quanto deveria, vai que o lanche vinha com salmonela de brinde? Andou até uma área que tinha uns bancos - um pouco acima do porto- e se sentou ainda ponderando se era ou não seguro comer o kebab. Com a coragem superior a de qualquer herói, deu a primeira mordida e... estava delicioso.

  Comeu feito uma criança,  ficando com as mãos e a boca engordurados e sem condições de se limpar por não ter sequer um guardanapo consigo. Não tinha outro jeito, teria que sujar o véu de seu capacete. Claro que  foi exatamente nesse segundo que ela apareceu. Lá estava ela, Nilou com uma  roupa causal de cor azul andando com uma jovem de aparência muito rica, e com... Dehya? Como é que ela conhecia a mercenária? Não! Isso não fazia sentido, ela conhecia a jovem rica que por sua vez deveria ter contratado Dehya como sua segurança.

  Sim, aquilo fazia mais sentido. O mundo entrou em equilíbrio novamente assim como a balança da justiça.

  Devia estar encarando muito fixamente o grupo de amigas e contratada, pois todas viraram suas cabeças simultaneamente para o olhar. Era vergonhoso ser observado tão diretamente por mulheres tão belas, e ainda por cima estando todo coberto de gordura do kebab. Por sorte sua vergonha não o paralisou, assim pode se limpar o mais rápido possível e aproveitar a chance que o acaso lhe deu para se desculpar com a dançarina.

    Estando "limpo", se levantou e caminhou em direção ao grupo. Uma parte dele temeu que elas fossem tentar fugir dele, e era isso mesmo que duas delas iriam fazer se não tivessem sido detidas pela mercenária. Dehya tomou a dianteira e foi ela quem fez contato com ele.