6

89 6 22
                                    

Ao entrar no escritório e ver Jackels em apuros diante de um corpo no rio, ela foi pressionada a ceder a liderança da tribo. Então, eu disse que ela precisava ser corajosa. Contudo, jamais pensei que ela usaria essa palavra contra mim.

— Quer que eu finja ser seu líder? — Indaguei, ainda no escritório de Jackels, enquanto ela me lançava um olhar desafiador.

— Acha que não é capaz? Que falta a coragem que você me instigou a ter?

Tomei um fôlego profundo e me acomodei na cadeira em frente a ela sem esperar um convite, convencida que morreria de pé se dependesse dela.

Jackes manifestava claramente sua aversão ao plano e só não o descartou porque a outra alternativa lhe parecia mais desagradável. Era evidente que a sugestão tinha origem em Carl.

Ah, Carl...

Ele sugeriu que alguém acalmasse o povo e cuidasse do corpo discretamente. Contudo, acredito que ele fugiu tanto da minha ira quanto da fúria de Jackels e não retornará tão cedo.

Se a mulher diante de mim era astuta e calculista, Carl era seu par ideal, um cínico sagaz.

— Se eu concordar, receberei os mapas e um meio seguro para deixar a ilha? — indaguei, e ela assentiu — E como pretendem me fazer passar pelo seu líder se desconheço até mesmo o modo como ele ou ela age?

— Não posso revelar nada sobre ele, a menos que você prometa não usar essas informações contra nós.

Para outros, poderia parecer exagero, mas compreendi sua cautela. Por isso, concordei enquanto ela anotava rapidamente em um papel sobre nossa conversa e, em seguida, me entregou o papel com sua adaga, e não com uma caneta.

— Vocês realmente têm o costume de extrair sangue das pessoas aqui ou é apenas um hábito peculiar seu?

Aceitei a adaga e a vi sorrir astutamente, apontando para o papel — Você ainda não faz ideia de quem somos...

É por isso que precisava ir embora.

Refletindo sobre isso e sem ouvir objeções dos céus, cortei meu dedo indicador com certa angústia, deixando o sangue pingar sobre a folha e, finalmente, coloquei minha impressão digital ali.

— Primeiro, é preciso saber que compartilhamos esta ilha com os Lacaios. Eles são frequentemente confundidos conosco pelos Reinos, já que têm raízes bárbaras. No entanto, não são reconhecidos entre nós dessa forma, pois são apenas pessoas rebeldes sob o comando de alguém que está tentando a todo custo eliminar os verdadeiros bárbaros. Somos, portanto, uma resistência — Jackels começou, guardando o documento e depois me ofereceu um curativo, que aceitei — Mas se ainda existimos e se cada um de nós desta tribo está vivo, é graças ao nosso Líder, que assumiu todos os nossos problemas e evitou que fôssemos arrastados para o inferno anos atrás, como as outras tribos extintas. Por isso, sua presença simbólica aqui deve ser suficiente. Seu nome é amado pela maioria e ainda temido pelo resto.

— Ele não é um bárbaro... — compreendi o segredo que não poderia ser revelado a qualquer um — É por isso que você o admira.

— Que ele nunca saiba que estou concordando com isso... mas é impossível ser um líder tão perfeito quanto ele.

Sorri de canto, pensando em dizer algo semelhante sobre minha mãe.

— Há pessoas que parecem ter nascido exatamente para isso, não é? Elas nem parecem sentir todo o peso que meros mortais como nós sentiriam.

Imediatamente, as duas sorriram, pensativas em seus respectivos líderes.

— Mas... — suspirei, perdendo o sorriso ao me lembrar de algo que minha tia me disse, algo que talvez ela precisasse ouvir — Essas pessoas não são perfeitas; elas não nascem assim. Então, não se cobre tanto. Seu líder acredita que você é digna, não perfeita. Acredite em você também.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora