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A Catedral de Sevilha era magnífica.

Eu sabia que ela estava entre as maiores do mundo, uma joia da arquitetura gótica preservada por séculos que ainda impressionava. No entanto, não esperava que fosse tão deslumbrante.

Ela hospedava diversas capelas, os túmulos da realeza de Sevilha e as reuniões dos conselheiros quando estes não estavam com o rei.

E em uma dessas capelas, na maior delas, ocorreria a minha coroação.

De longe, pude ver o quão imponente ela era. Imensa, com seus belos vitrais na janela em tons de azul e verde, formando figuras geométricas que simbolizavam as terras, o céu e o mar do Reino do Sul. Era impossível não se encantar.

Enquanto percorríamos a catedral, funcionários, conselheiros e membros da igreja, ao avistarem o rei, prontamente baixavam suas cabeças em sinal de respeito. Mas, ao nos aproximarmos da entrada da capela e uma dessas pessoas se colocar diante de mim, presenciei pela primeira vez uma reverência não só ao rei, mas também a mim, antes da funcionária me instruir sobre o procedimento da cerimônia, enquanto o rei iniciava uma conversa com Gavin.

Ela tinha um bloco de notas com muitas anotações e estava tentando achar a mais importante, enquanto tentava segurar alguns outros objetos debaixo do braço.

— Há três momentos. O primeiro é o juramento à coroa, à igreja e aos céus. No segundo, você será ungida e abençoada pelo reverendo. Por fim, coroada pelo rei.

— Entendi, será só isso então... — falei, observando a funcionária, que sorriu ao perceber meu interesse sobre seu nome.

— Perdão, me chamo Nádia, é um prazer e uma honra ser sua cerimonialista. E será apenas isso mesmo. Fique tranquila.

Subitamente, alguém a chamou tão alto por trás dela, que ela quase tropeçou e caiu sobre mim. Por sorte, Gavin foi mais rápido e prontamente a segurou antes.

— Mil desculpas, peço mil desculpas... — ela disse, ajustando os seus óculos. E eu estava prestes a tranquilizar ela disso, quando o conselheiro que a chamou se aproximou estalando a língua irritado.

— Se fosse um casamento real, teríamos controle total da celebração. Saberíamos exatamente o que fazer. Mas ao quebrar a tradição, com uma coroação onde a princesa não é coroada no casamento... o risco de desastres é imenso. Saibam disso.

— Algum problema, conselheiro?— o chefe da guarda real perguntou e ele então ao me avaliar de cima a baixo, desistiu e seguiu seu caminho andando.

— Parece até que ele deseja que aconteça alguma coisa, não é? — Grace sussurrou atrás de mim. E eu concordei com ela.

Contudo, o que me surpreendeu foi a expressão do rei. Ele engoliu em seco, como se estivesse realmente preocupado com a ameaça velada do conselheiro, antes de pedir algo ao Gavin, que me lançou um olhar e em seguida se retirou.

— O conselheiro Almir está um pouco nervoso, mas tudo vai ocorrer bem! — Nádia comentou com um riso forçado, antes de sermos interrompidos pelo som de instrumentos clássicos, fazendo-a me olhar agitada — É hora da sua entrada!

O rei Alek me encarou e eu assenti, assegurando que estava tudo bem. Grace então apertou minha mão, sorrindo, antes de Nádia soltar quase um grito, fazendo-nos olhar para ela assustados.

— Ah, meu Deus... — ela exclamou em terror, apontando para a mão do rei, que ao tirar do bolso não parava de sangrar.

Olhei para ele, assustada, enquanto Nádia trêmula, lhe ofereceu um pano para estancar o sangue. No entanto, o sangue não cessava. E o pano azul claro rapidamente se tingiu de rosa.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora