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A dança da política era nova para mim, apesar de observá-la desde criança em Bérgamo. Sorrisos, conversas, gentilezas, elogios e cumprimentos diversos eram trocados em nome de acordos políticos. E não me preocupei com isso enquanto minha mãe estava viva para lidar com tais questões. No entanto, após sua morte, precisei aprender, e ainda assim meu estômago não aguentava certas coisas.

Por essa razão, durante a recepção no salão central do palácio, excusei-me de um grupo de Lisboa para buscar bebida.

— Está tudo bem com você? — Grace me abordou no caminho e eu confirmei.

— Preciso apenas tomar alguma coisa agora... — informei-a, e ela prontamente solicitou que um funcionário trouxesse uma bandeja para nós com várias taças.

— Quais histórias escutou desta vez?

Ela indagou, e eu me contive para não olhar para a garrafa térmica da qual o Duque de Lisboa desfrutava, antes de tomar um gole da minha própria taça.

— Melhor nem saber. E você, ouviu algo interessante? — perguntei, seguindo seu olhar em direção aos lordes vindos de Belgrado, uma das cinco províncias do reino do Sul, provavelmente os convidados mais reservados da recepção.

— Eles não se mostraram comunicativos comigo. Mas talvez com a rainha, eles desejem expressar algumas palavras... — ela me lançou um olhar e deu de ombros — Mesmo que seja para mostrar descontentamento com os impostos.

— Perto do que já ouvi, isso é o de menos.

Belgrado, outrora Sérvia, era conhecida como uma das províncias mais frias e belas, com fama de seus habitantes serem avarentos. O comércio prosperava, assim como a nobreza e a realeza. Mas o restante da população sofria com doenças ou fome, pois ou passavam necessidades ou morriam de exaustão pelo trabalho excessivo. E isso me desagradava muito

— Majestade, estes são os Lordes Marko e Ivan, representando os seus príncipes.

Grace me apresentou aos dois homens que, ao contrário de quase todos os outros convidados, não se inclinaram para pegar minha mão, apenas curvaram a cabeça. E eu não pude deixar de apreciar essa frieza natural e sincera de Belgrado, estava cansada mesmo de tanta bajulação insincera.

— É um prazer conhecê-la e estar aqui em seu palácio após sua coroação. Nossos príncipes desejam que tenha um longo reinado, majestade — disse Ivan, um senhor de cabelos ralos, ao me olhar.

Céus, até os olhos deles eram de um azul claro como o gelo. Uma frieza até bonita.

— Obrigada, peço que transmita meus cumprimentos e agradecimentos aos príncipes. Espero que sejam prósperos.

Marko, um jovem provavelmente um pouco mais velho que eu, de cabelos negros e uma língua mais afiada que a de seu colega. Comentou me olhando.

— Com sua ajuda, talvez eles consigam. Ou melhor, talvez Belgrado consiga.

— No que eu puder ajudar, ajudarei — respondi, fazendo com que ambos trocassem olhares.

— Talvez seja melhor esperar pelo rei... — Ivan interveio ao colega, fazendo-me respirar fundo e encarar o Lorde Marko.

— Se for urgente, eu mesmo posso falar com ele. Será mais rápido e muito mais fácil, do que ter que marcar uma reunião.

Ivan pareceu refletir nas minhas palavras, mas Marko optou por não ponderar.

— Nosso comércio não está indo bem. — ele confessou, desprovido de emoção — Todos os impostos que devemos estão afundando a nossa província. Sem uma redução, a pobreza só vai aumentar.

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⏰ Última atualização: Oct 04 ⏰

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