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Quando reabri a porta da casa de Talles, a primeira coisa que fiz foi falar com os três que me esperavam ali. Acabaram sendo duas coisas.

— Onde e como? — perguntei, abrindo espaço para que entrassem, cada um com um suspiro aliviado, mas imediatamente pedi que parassem. — Só fiquem aliviados quando eu e Mikail voltarmos vivos e sem arranhões.

Eles acenaram obedientemente, sem entender muito bem meu mau humor, mas bastava olhar para o livro ainda aberto sobre o sofá para saber o motivo da minha irritação.

Jonas... — Talles leu o livro que estava aberto — Foi isso que te convenceu a nos ajudar?

— Você conhece a história dele? Foi mandado a uma cidade contra sua vontade, a qual achava que não merecia seu esforço... — expliquei, encarando cada um deles, que em silêncio ouviam curiosos — Mas por teimar em não ir, foi lançado ao mar durante uma tempestade e engolido por um peixe enorme, por sua desobediência.

— Que sinistro... — Killius arqueou as sobrancelhas, pensativo, e então me olhou — Mas o que isso te levou a aceitar nosso pedido de ajuda agora?

— Talvez o desejo de não ser engolida por um peixe enorme também? — Carmila fez uma careta e o cutucou, fazendo com que ele olhasse atentamente para o livro sagrado.

— E você acredita nessa história? — Killius pegou o livro sagrado e eu suspirei.

— Tudo isso é real, já aconteceu. Não é só uma história, Killius... — assegurei-lhe, querendo folhear as páginas antes de olhar para os outros dois — Além do mais, sonhei com alguém pedindo ajuda.

— Os céus se comunicam com você? — Carmila sussurrou, e eu lhe sorri.

O Senhor está acessível a todo momento... — disse eu, com um sorriso que se tornou leve e triste enquanto olhava para o livro — Foi meu tempo perdido por não escutá-lo antes.

Carmila assentiu, sorrindo encantada com algo que, acredito, ela não havia ouvido.

Por isso, apontei para o livro sagrado que Killius segurava. Mas quando ela tentou se aproximar para ler, ele fechou o livro.

Nós não acreditamos nisso... — ele me disse, como se fosse uma regra estabelecida na tribo. Antes que pudesse repreender Carmila com seu olhar, fazendo-a baixar a cabeça imediatamente.

— Mas se o seu Deus confirmou nosso pedido... — Talles interrompeu, com uma sobrancelha erguida em minha direção — Se você pedir até para nos ajoelharmos por ele, para agradecer depois, nós faremos isso, alteza.

Killian levantou as sobrancelhas, como se ponderasse sobre isso. Guardei sua promessa antes de mudar de assunto.

— Alguém vai me dizer onde e quando irei encontrar os Lacaios? — perguntei novamente.

— Ok, quanto à sua pergunta sobre o local. Eu ainda me lembro onde fica a entrada da fortaleza deles — explicou Talles — E quando? Tem que ser agora, para chegarmos a tempo do treinamento público dos soldados. É a nossa única chance, já que é um momento em que abrem as portas para estrangeiros.

— E eu pensava que as pessoas não gostavam de vir até aqui, nesta ilha.

— Elas não gostam, mas os Lacaios não são independentes — suspirou Talles — Eles são coordenados por um Reino, só não sei qual.

Inspirei fundo, lembrando-me de que isso se encaixava com o que tinha ouvido do Rei — O Leste, não é?

— Possivelmente, mas ainda tenho minhas dúvidas a respeito disso, alteza.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora