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Duas horas.

Passei as últimas duas horas na recepção, ouvindo tanta gente. Que meus ouvidos zumbiam um pouco quando me sentei em um dos bancos da varanda deste palácio.

Por se tratar de um casamento político, a ordem das coisas acabou mudando. Por isso, primeiro a recepção e depois a assinatura dos papéis, onde deveria ser o fim deste meu tormento ou o começo de outro ainda pior.

— Aleksander Vahalit... — suspirei ao esticar a cabeça para o céu, lembrando que mesmo sem trocar mais nenhuma palavra com meu noivo, eu descobri quase toda a sua história baseada sobre o que os convidados, que estavam na recepção do casamento, me disseram.

Filho da Rainha Elia, a antiga princesa de Sevilha, e filho também do falecido Grande Rei Saécio, o príncipe da província de Belgrado. O nome e as características físicas de Alexander e de seu irmão Mikail eram provavelmente os de seu pai. Como ambos eram tão altos, cada um tinha uma brutalidade nos traços que em nada lembrava os convidados naturais de Sevilha que estavam sempre rindo, se não de brincadeira, pelo menos de alguém.

Inclusive os Sevilhanos gostavam tanto de fofocar sobre o Rei, que nem sequer se importaram se gostavam ou não de mim, para apenas falar dele.

— Quando você presenciar sua arte, ah, minha querida irá se encantar... — uma das marquesas convidadas me cutucou — Sem contar com aquela sua beleza, nossa!

— Ele é incrível, nunca apreciei ninguém tão encantador quanto a majestade... — A outra marquesa suspirou confessa e a sua irmã, rapidamente, negou afetada.

— Lavínia, não. Ele é mais do que incrível... — ela indicou uma direção — Olhem...

E exatamente naquele instante, no coração da cerimônia, acompanhei seu olhar e observei o rei, como de costume, caminhando entre os homens, envolvido em uma conversa fascinante, com uma bebida em sua mão. Aleksander possuía uma elegância em seus passos que, aliada à sua distinta aparência, o tornava verdadeiramente o noivo ideal e o futuro esposo dos sonhos de qualquer mulher.

Mas ainda havia algo nele que me incomodava o suficiente para apagar todo o seu charme, ao contrário das outras mulheres ao meu redor pensavam.

Ele havia subestimado a liderança e a presença das mulheres na política.

E outros podem não se importar. Mas mesmo agradecendo a todos por estarem presentes em determinado momento, percebi que meu noivo mencionou quase todos os homens que acompanhavam as mulheres, mesmo que algumas delas que fossem líderes. Contudo, não disse o nome de nenhuma mulher além de mim, por ser sua noiva, é claro. E aquilo apenas piorou, quando ele nem sequer conseguiu trocar mais que algumas palavras comigo, para sempre ter alguém entrando no meio para mais uma conversa política que nitidamente o interessava e era mais importante.

Então, ao sair dos meus devaneios e observar meu noivo novamente, notei que ele me encarava. Isso me deixou ligeiramente desconcertada, pois não podia negar que ele era um dos homens mais atraentes presentes.

Contudo, sem me sentir culpada, resisti à tentação de agir como as outras mulheres que piscavam os cílios para ele. Desviei o olhar, suspirando.

Nunca te colocarei num pedestal, Aleksander...

— Você está certa, irmã... — suspirou a marquesa, encantada, enquanto ele acenava brevemente para todas, fazendo-a abanar-se — Ele é perfeito demais!

Por um milagre, consegui evitar um rolar de olhos naquele exato momento.

— Com licença, senhoritas... — pedi em seguida, sentindo-me tão sufocada que nem consegui terminar a frase com uma desculpa plausível para minha partida.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora