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Quando o dia da coroação chegou, as melhores esteticistas do Sul vieram desde cedo e tentaram me embelezar, alisar e deixar impecável com os mais variados banhos de óleos que trouxeram consigo.

Além disso, não pude ir à estufa, pois não era permitido ver ninguém, exceto as mulheres que me preparavam. Sentia-me como se estivesse prestes a casar, e não a ser coroada.

Foi então que me lembrei que, de fato, deveria estar me casando naquele dia. A tradição do Reino do Sul ditava que uma princesa de fora da família real deveria ser coroada no dia de seu casamento.

E eu estava rompendo com essa tradição.

Isso fazia com que várias daquelas seis mulheres me tratassem com menos delicadeza ao aplicarem os produtos. Isso sem mencionar seus olhares desconfiados e alguns furiosos, provavelmente porque ainda acreditavam que eu era uma assassina, como muitos em Sevilha ainda pensavam.

— Qual penteado a senhora deseja?

Uma das esteticistas perguntou, quando me sentei diante da penteadeira vestindo um robe preto de cetim, observando que a minha pele estava até avermelhada pelo último banho quente que tive que tomar o dia todo, a cada uma hora por causa da tradição.

— Posso escolher dessa vez? — indaguei olhando-a pelo espelho, e ela concordou, sem desviar o olhar do meu cabelo.

— Sim, qual tipo de coque? — ela me perguntou, e eu quase ri. Claro, que eu apenas podia escolher um penteado desde que ele tivesse dentro da tradição — A Rainha Elia usou um coque baixo simples, e a sogra dela, o coque alto.

— Você estava aqui quando elas foram rainhas, ou teve que estudar isso? — perguntei, e a expressão séria dela me fez suspirar — Faça como achar melhor.

Foi então que minha tia entrou e imediatamente pediu que todas se retirassem.

— Farei o cabelo dela, vocês estão dispensadas... — disse minha tia, e, vendo que nenhuma se mexeu, bateu levemente na porta para que o soldado respondesse.

— É uma ordem do rei, senhoras.

As mulheres, hesitantes, me olharam e pareceram ficar ainda mais irritadas comigo, pensando que eu estava influenciando o rei. Mas minha tia, apressada, praticamente as empurrou para fora antes de fechar a porta.

Sorri para ela aliviada — Obrigada, tia.

Não sabia se conseguia expressar o nivel da minha gratidão, mas esperava que ela percebesse pelo meu olhar o quanto eu estava agradecida por ela ter vindo.

— Nunca te deixaria sozinha neste dia — ela beijou minha cabeca antes de franzir o nariz — Passaram alecrim aqui?

— Tradições — respondi com uma careta. Tia Amélia imediatamente estalou os dedos, e três mulheres do palácio entraram com várias maletas, que ela abriu na cama, chamando-me para olhar.

— No meu casamento, sua mãe veio me salvar com esses produtos. Por isso, trouxe-os de Bérgamo, pensando que você precisaria.

As primeiras duas malas continham de tudo, desde vários cosméticos até acessórios.

— E como o rei permitiu sua entrada?

— Eu disse que temos nossas tradições.

— Isso é realmente uma tradição? — perguntei curiosa, enquanto ela examinava os cremes que eu gostei.

— A partir de agora, será. Nunca é tarde para estabelecer uma tradição, certo? — ela piscou, provocando minha risada.

Em minutos, senti um aroma maravilhoso na minha pele com um dos cremes que escolhi, e o mesmo no meu cabelo, que foi lavado com produtos perfumados que o deixaram macio e brilhante antes de ser trançado com várias flores brancas nele.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora