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Flores são uma paixão nata de Bergamo.

Minha avó possuía o maior jardim da província, e minha mãe transformou Bergamo no principal comerciante de flores do reino. Eu, por minha vez, tinha conhecimento sobre quase todas flores.

Conhecia seus nomes, aromas, aparências e a singularidade do toque de cada uma, mesmo de olhos vendados. Algumas eram difíceis e complicadas de se cultivar, mas eu amava cada uma delas, do plantio à colheita. Eu enxergava beleza em todas.

Por isso, mesmo que as orquídeas, lírios e peônias brancas estivessem esplêndidas na estufa, eu não deixava de observar e dar atenção as mudas de verbena que apresentavam um atraso significativo.

— Tem certeza que as mudas de verbena estão plantadas há mais de um mês? — perguntei a uma funcionária que me auxiliava na rega. E ela assentiu pra mim.

Cada flor tem seu tempo e a verbena não leva tanto tempo para florescer quanto a rosa, que tinha a sua muda sem flores.

— Verbenas florescem quase o ano todo... — observei a muda sem florescer — Mesmo com poda e adubo, nada deu?

A funcionária negou com a cabeça, coçando a cabeça como se estivesse prestes a revelar algo que não devesse.

— Na verdade, parece que quase nenhuma flor cresce ou se mantém bem aqui no palácio, majestade. Há quem diga que é o espírito da morte que reside aqui.

Ergui a sobrancelha cruzando os braços pensando que até ela parecia crer nisso.

— Isso explica por que a estufa estava abandonada quando nós chegamos.

Minha tia, sentada no sofá, interrompeu seu café e trocou olhares com meu tio.

— Você não acredita nisso, né? — perguntou meu tio, olhando-a de soslaio, enquanto ela, imediatamente, me encarava, ponderando a questão.

— As flores são sensíveis e muitas vezes usadas como presságios para revelar o que não vemos com os olhos. São criações de Deus e Ele pode usá-las para nos enviar mensagens.

Meu tio me observou, mas quem falou foi a funcionária — Coincidência ou não, as mudas de rosa e verbena foram um presente de casamento do príncipe antes...

Ela vacilou, referindo-se ao dia em que eu me uniria em matrimônio com o rei, e foi a última vez que ela avistou Mikail vivo.

— Eu não sabia que eram dele... — falei observando as mudas de uma maneira completamente nova. Afinal, eu havia sentido o aroma exatamente de verbena e rosas nele quando o vi pela primeira vez.

— Ele devia realmente acreditar muito na senhora em ignorar a morte presa aqui.

Olhei para ela e, com seu aceno, senti um nó na garganta que me fez engolir em seco antes de acenar de volta para ela.

— Está tarde, obrigada por tentar me ajudar. Pode ir descansar se quiser.

Ela se inclinou em minha direção e na dos meus tios antes de deixar a estufa.

E atrás dela, um outro funcionário apareceu nos trazendo uma mensagem.

— Os conselheiros desejam ter uma reunião com a senhora, Vossa Majestade.

— Já estava na hora... — minha tia suspirou, voltando a beber seu café.

Após a coroação, surpreendi a todos ao anunciar uma recepção inesperada. Com isso, coloquei os conselheiros em um dilema, pois, após realizarem uma coroação atípica e rápida, agora se viam obrigados a organizar uma recepção no mesmo molde. Em outras palavras, eles estavam ansiosos para reclamar, entender ou me confrontar na reunião que marcaram.

Coroa de Chamas e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora