CORES

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A academia inteira estava do lado de fora dos portões de Nunca Mais reunidos à espera do desenrolar dos acontecimentos com o maluco que queria matá-los. Pareciam assustados e ansiosos. Ela não os julgou daquela vez.

Em meio à neblina rasteira, Wandinha caminhou na direção deles tendo Eugene e Bianca ao seu lado. Avistou de longe alguns rostos conhecidos como Yoko, Kent e Xavier. Na penumbra da noite vasculhou por entre alunos e professores um rosto em especial e encontrou apenas Ajax com seu gorro ridículo parecendo não acreditar que ela tinha saído viva daquele embate. Na paleta cinzenta que era aquela cena, não achou a única cor que lhe era importante.

Enid.

Conforme se aproximavam, as pessoas os cumprimentavam com sorrisos e acenos em agradecimento. Ela não estava nenhum pouco interessada neles. Parecia que ninguém sentia a falta da menina lobo como ela sentiu. Entretanto as Beladonas demonstraram que sabiam haver alguém faltando e antes que abrissem a boca para perguntar, Wandinha viu Mãozinha correndo para si fazendo sinais para que o seguisse. Não pensou nem por um milésimo e saiu correndo deixando a todos curiosos. Teve a impressão de ouvir Bianca gritando seu nome. A ignorou e entrou na floresta que era iluminada pela luz da lua cheia.

- Para onde? - gritou por entre as árvores e Mãozinha apontou a direção.

Não lembrava direito do último lugar em que viu Enid. Onde a menina a salvou das garras do monstro.

Correu o mais rápido que pôde. Não queria pensar na possibilidade do que Tyler poderia ter feito a Enid. Ela nunca havia se transformado antes, não deveria saber como usar direito o corpo de um lobisomem.

Sentiu-se uma estúpida e uma decepção total por não descobrir quem o Hyde era de verdade. Poderia ter evitado aquela situação.

Enxergou de longe a figura no chão coberta com aquele casaco inconfundivelmente rosa. O coração de Wandinha afundou no peito. Um enjoo lhe atingiu como um soco no estômago e não era do jeito bom.

- Não, não, não - suplicava enquanto corria com um nó se formando na garganta.

Nunca tinha desejado tanto que alguém estivesse vivo como naquele momento. O medo devorava suas entranhas de um jeito tão anormal e incomum. Por quê? Por que tinha tanto receio em perder Enid?

Pessoas eram dispensáveis, não eram? Não! Não Enid!

Uma montanha de sentimentos fazia confusão dentro de Wandinha. Por isso odiava dar espaço para eles. Odiava se sentir assim. Odiava sentir amor e se importar.

Espere ai, ela se importava com Enid a ponto de amá-la? Essa era a resposta? Empurrou seus questionamentos para o fundo da mente. Naquele instante sua preocupação era outra.

Não se deu ao trabalho de verificar se Tyler ainda estava por perto quando se abaixou de joelhos ao lado de Enid.

Mãozinha explicou rápido que a vestiu no casaco de qualquer maneira apenas para não deixá-la exposta.

- Fez bem - Wandinha murmurou sentindo os lábios trêmulos - Enid? - a chamou observando os cortes abertos no rosto, pescoço e pelo corpo da menina – Enid! Enid! – a sacolejou pelos ombros – Por favor, não morra. Não ouse morrer.

Os olhos queimavam lutando para segurar as lágrimas. Não ia chorar. Chorar não resolvia nada, certo? Mas estava impossível se controlar.

Puxou a garota no colo com cuidado não se importando com todo aquele sangue. Tocou o rosto dela com carinho, arrumando seus cabelos coloridos manchados de vermelho. Aquilo era sua culpa. Se Enid morresse... E se Tyler ainda estivesse vivo por aí, o desmembraria pedaço por pedaço, mas não antes de esfolá-lo bem lentamente.

Cores - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora