Cores - Wenclair

Vaga-lumes

O barulho do enxame de abelhas pode colocar uma pessoa normal para correr morrendo de medo, mas Wednesday gostava de ouvi-lo.

O clube de apicultura era um lugar quase perfeito. Afastado da agitação da academia, cheio de insetos que podiam matar e silencioso. Abelhas não gostam de barulhos altos. Elas são atraídas por sons agudos e podem atacar. Addams não se importava em ter silêncio, mas Eugene era um falador de carteirinha. Ignorava-o a maior parte do tempo quando ele começava a falar sobre a história das abelhas e coisas que não acrescentavam nada a sua existência.

O silêncio era bom para ter ideias ou colocar os pensamentos em ordem e ela precisava disso. A conversa do outro dia com sua mãe ainda estava fresca em sua cabeça. Não tinha contado aos outros sobre Morticia estar para assumir a diretoria. Não estava a fim de responder perguntas que fariam. Além do mais, eles ficariam sabendo mais cedo ou mais tarde.

Pelo menos havia tido um momento muito, muito agradável com Enid depois que ela a pegou tentando enfiar um virote na testa. A menina estava bem mais solta depois de tudo o que aconteceu e Wednesday não sabia se sua ousadia vinha do lobo vermelho, mas estava gostando.

- Está tudo bem, Wed? - a voz de Eugene a tirou do seu devaneio - Parece meio distante. Quer dizer, mais do que o de costume.

- Tudo está perfeito, Eugene. Não se preocupe.

- Legal. Olha, terminamos por hoje.

Wednesday assentiu e começou a tirar o macacão de proteção que usava apenas para não ter o diretor enchendo seu saco.

- Isso aqui é para Enid - disse o dentuço com um potinho de mel nas mãos.

Addams trincou a mandíbula antes de responder.

- Eugene, eu sinto muito, mas a Enid não gosta de mel.

- Sente muito mesmo?

- Não, mas não queria ser mal educada com você.

O garoto ficou desapontado e largou o potinho no balcão, mas logo sua expressão mudou.

- Ela está bem? Digo, com tudo isso que aconteceu? Eu estaria muito pilhado - perguntou preocupado - É muita coisa para uma pessoa só.

- Ela está melhor. De volta as quinhentas atividades que se ocupa durante o dia.

- Já parou para pensar por que a Enid faz isso? Por que participa de tantas atividades ao mesmo tempo? - indagou Eugene tirando o macacão branco.

- Já. A explicação mais plausível é de que ela está tentando se encaixar em alguma coisa. Por que não se sente parte de algo verdadeiramente. Que não pertence a lugar algum.

Eugene empurrou os óculos no nariz e assentiu.

- Talvez agora que finalmente se transformou, ela encontre algo no que focar. Um único clube.

- Assim espero.

Os dois saíram do apiário e Eugene trancava a porta quando perguntou.

- Espera aí. A Enid não gosta mesmo de mel?

- Não.

O menino riu deixando Addams confusa, mas não perguntou o motivo da graça.

- Eu devia ter desconfiado. Ela só aceitava para não me deixar triste.

- Sim – afirmou a gótica sem rodeios.

- Tudo bem. Posso viver com isso. Ei! Quer ir comigo caçar insetos na floresta? - ele a convidou.

- Em uma outra oportunidade. Preciso escrever. Fiquei longe da escrita esses dias e preciso voltar ao meu livro. Estou bem atrasada nas páginas - explicou a gótica caminhando ao lado dele.