Vermelhos

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Wandinha e Enid conversavam distraídas naquela típica tarde nublada em Jericó, alheias a qualquer problema que rondava suas vidas, somente uma a outra importava. Falaram sobe coisas triviais e sem importância, qualquer coisa que as deixassem longe de tramoias da academia, mas seus problemas sempre arrumavam um jeito de estar presente.

- Por que não sugeriu que fôssemos tomar um sorvete ou algo mais apropriado para jovens? - Addams perguntou sentada com sua pose corriqueiramente ereta.

Enid deu de ombros tomando um gole do seu chá servido em uma xícara elegante de porcelana.

- Você tem alma de uma velha ranzinza, Wandinha. Achei que combinava mais com sua personalidade. Além do mais, não queria você batendo em adolescentes. De novo. O que certamente aconteceria em um lugar como uma sorveteria.

- Você tem um bom argumento, Sinclair.

- Eu sei.

- Seu artefato tecnológico de comunicação está emitindo um sinal luminoso muito desconfortável e irritante - disse Wandinha com as mãos repousando na mesa.

Enid olhou de lado e viu que seu celular estava recebendo uma ligação silenciosamente. Ela deslizou o dedo desviando a chamada.

- Artefato tecnológico de comunicação - ela riu - Chama-se celular.

- Que seja - Wandinha disse sem se importar com nomes - Não vai atender?

- Não. É apenas minha mãe com provavelmente mais um sermão idiota.

- Não se falaram depois que eles te deixaram na academia? - Wandinha perguntou já presumindo a resposta.

- Não. Como deve ter percebido minha mãe não consegue passar três segundos sem me criticar. Antes era por que eu não tinha me transformado, agora é por que me transformei. Juro que não entendo.

- Talvez devesse tentar conversar com ela.

- Está mesmo me sugerindo isso? - Enid questionou incrédula - Logo você que não quis conversar com a sua mãe sobre as visões?

Wandinha fez bico erguendo o queixo.

- Quem sabe ela não pode esclarecer o que é um lobo de sangue.

Enid bufou desdenhando. Não acreditava nem por um segundo que a mãe soubesse.

- Acredite em mim, se ela apenas sonhasse que sou uma espécie diferente e rara, as cobranças seriam terrivelmente piores e eu não estaria aqui - Enid falou vendo o celular acender mais uma vez. Ela queria arremessá-lo ao longe ou pisoteá-lo até virar poeira.

Parecendo poder ler os pensamentos de Sinclair, Wandinha pegou o aparelho de sua mão e o guardou no bolso do seu casaco a surpreendendo pela atitude.

- Está explícito que temos problemas com nossas mães - disse ela tomando um gole do seu chá.

- Agradeça pela sua não poder te matar com uma mordida - comentou Enid rindo da própria bobagem.

- De fato não pode. Ela sempre foi assim?

- Sim. Só piorou com o passar dos anos - explicou a loira sem muitos detalhes.

Wandinha a observou olhar pela vidraça parecendo se esforçar para se controlar. Teve a impressão de ouvir um leve rosnado quando ela suspirou voltando seus olhos azuis para Addams.

- Irei procurar no diário de Edgar e na biblioteca algo sobre isso. Até lá, vamos nos focar em proteger a academia.

- Ok.

- Temos que ir ou vamos perder o último ônibus de volta para a academia – alertou Wandinha checando a hora em seu relógio de pulso.

Enid assentiu erguendo a mão para o garçom pedindo a conta.

Cores - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora