Sem cor

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Vincent supervisionava os caçadores jogarem Enid de volta na cela e acorrentarem-na com as obsidianas provadas serem inúteis contra ela. O celular vibrou no bolso assim que ele trocou passos para entrar na prisão da menina.

- Saudades de mim, La Fonte? - atendeu a ligação com zombaria.

- Você tem duas horas para devolver a menina ou o Conselho e seus amados fãs vão saber que Vincent Thorpe é o maior filho da puta desse país. Vende informações de crianças inocentes para os caçadores - Darius o ameaçou.

Vincent ouviu tudo sorrindo indo até Enid caída no chão da cela. Ele acariciou o rosto dela e afagou seus cabelos.

- Pode provar o que diz?

- Posso saber que está mentido.

- Sabe, Darius. Sempre achei esse seu poder uma merda.

- Melhor do que ser um doente manipulador - Darius rebateu ofendido - Entregue a Enid. O que seu filho vai pensar quando souber que o papai está envolvido no sumiço de uma amiga?

O médium ponderou sua resposta enrolando os dedos nas mechas azuis de Enid.

- Um dia ele vai entender que deixei o mundo mais seguro.

- Mais seguro? Você sequestrou uma adolescente!

- Não. Eu capturei um monstro – e vou domá-lo. Deixou essa parte de fora.

Darius suspirou do outro lado da linha, no fundo, ele sabia que era verdade, o gatilho certo e puft! Teriam que lidar com um monte de corpos.

- Meus guardas irão te achar e trazer a menina de volta.

- Se eu fosse você não faria isso.

- Eu vou te pegar Vincent!

- Você vai ter uma recepção muito calorosa... E sangrenta - disse Thorpe desligando a ligação - Vamos nos certificar disso - sussurrou para a menina.

Vincent já havia mergulhado em todos os tipos de mentes. Das mais barulhentas às mais calmas, mas nunca tinha encontrado uma tão colorida e feliz. Estar na mente de Enid era como pular em baldes de tintas que se multiplicavam e formavam mais e mais cores diferentes. Era um círculo infinito.

Ao contrário da ciência, na mente de Enid a mistura de todas as cores não levava ao branco.

Ali, a fusão das cores resultava no preto, na ausência de cor e de luz, na escuridão. E era lá que ele encontraria o que estava buscando.

Não precisou mergulhar muita a fundo para achar. Ali na penumbra seus olhos vermelhos brilhavam como brasas ardentes. Seu rosnar com dentes afiados, mesmo baixo causava arrepios. Ele era tão escuro que se confundia com a falta de cor do lugar. Havia marcas de garras por toda parte, ele estava louco para fugir dali. Precisava libertá-lo, mas havia um corvo vigiando no alto.

Wednesday.

O pássaro observou o viajante de mentes com atenção. Vincent vez ou outra encontrava uma espécie de guardião que perambulava nas mentes das pessoas. Funcionavam como uma espécie de âncora, de porto seguro, de ponto de chegada. De farol para aqueles que se perdiam.

Enid tinha um. Wednesday.

Addams era a proteção da garota e guardava o lobo vermelho.

Precisava acabar com a ligação entre as garotas se quisesse soltar o animal. Concentrou-se no corvo e usando seus dons, destruiu o pássaro como quem desfia um tecido. O bicho gritou e desapareceu.

- Ela é sua. Traga-a para mim – disse Vincent sorrindo vendo o lobo se erguer para logo em seguida sumir.

Enid havia sido sugada para aquela escuridão de novo. Ainda sentia o ombro queimando. Não sabia com o que a tinha atingido, mas não era nada bom. Abriu os olhos e estava sentada em um lugar muito colorido. Sorriu sentindo a paz que habitava ali. Ficou de pé observando curiosa. Só podia ser um sonho.

Cores - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora