Rosa

4.8K 642 185
                                    


Finalmente ele conseguiu se mover.

Sentiu o rosto dolorido e a boca cortada ao abrir os olhos. A última coisa de que se lembrava era da bota pesada a milímetros do seu rosto antes de atingi-lo e depois tudo virou um breu.

Tyler sentou-se e estreitou os olhos observando a sua volta. Estava dentro de uma cela com barras de ferro preto, não, não era ferro. Era outra coisa que ele não conhecia, mas que era do mesmo material pesado e frio das correntes em seus calcanhares e da espécie de coleira em volta do pescoço. O chão e o teto da cela também eram feitos daquela coisa.

O lugar estava quieto e vazio, parecia um galpão. Havia mesas cirúrgicas enferrujadas ou sujas de sangue, ele não sabia e preferiu acreditar que estavam gastas pelo tempo. Tinha também gaiolas de ferro penduradas no teto, uma pessoa não caberia dentro, mas alguma coisa lhe dizia que era exatamente para isso que estavam ali. Prender alguém. Várias outras coisas estavam espalhadas pelo recinto. Aquilo era uma verdadeira câmara de tortura medieval.

Apavorado, aproveitou que estava sozinho e tentou se transformar, mas não conseguiu. Bufou de raiva e começou a chutar as barras com tanta força, mas elas nem se abalaram.

Gritou de raiva e frustração.

- Não perca seu tempo - disse uma voz que ele não reconheceu - Tudo é feito de obsidiana e apesar de ser vidro vulcânico, é muito resistente e com propriedades místicas. Não vai conseguir sair nem se transformar.

O homem se aproximou da cela acompanhado pelos que capturaram Tyler. O rapaz supôs que era o chefe. Ele era alto e magro, tinha cabelos loiros escuros e muito boa aparência. Usava um terno que gritava riqueza e uma gravata de seda azul. Tyler teve a impressão de já tê-lo visto em algum lugar, mas não lembrava onde.

- Sua antiga mestre me falou muito bem de você - disse o loiro vendo surpresa no rosto do rapaz - Leal e devoto a causa. Ela mandou lembranças.

Tyler cerrou a mandíbula. Ele conhecia Thornhill? Algo naquele homem não lhe passava a mínima confiança e não era somente pelo fato de ter o prendido. Ele emanava algo muito ruim.

Os olhos castanhos do homem percorreram o corpo de Tyler o avaliando como uma mercadoria a venda.

- Há muitos anos não tenho um exemplar de Hyde em minhas posses.

- Eu não sou sua posse! - exclamou o menino.

- A coleira no seu pescoço diz o contrário, meu jovem.

Tyler chutou as barras de novo para assustá-lo, mas ele não saiu do lugar. Não o amedrontaria fácil, pelo visto.

- Nós três vamos nos divertir tanto, Tyler.

Galpin franziu o cenho confuso. Três? Antes que pudesse perguntar algo, ouviu o ranger no chão ao lado. Estavam colocando outra cela feita daquela mesma porcaria preta.

- Acha que Enid vai gostar das instalações? Ou devo encher de bichos de pelúcia?

A pergunta do homem roubou a atenção do garoto.

- Talvez eu devesse pintar de rosa. Sei que ela adora essa cor.

- Nunca Mais está abarrotada de excluídos, por que esse interesse na Enid? - Tyler perguntou agarrando as barras com o rosto entre elas.

- Digamos que ela é uma excluída muito peculiar. E enquanto esperamos por sua chegada... - disse o homem apontando para uma mesa cheia de ferramentas e objetos estranhos ali no canto - Vamos nos divertir um pouco juntos.

Cores - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora