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A chave do cadeado da minha bicicleta emperra mais uma vez e eu sinto vontade de gritar. Mais uma tentativa, mais uma falha. Olho ao redor, ninguém parece me notar lutando com meu cadeado, o vento bate contra o meu rosto e um resquício de poeira atinge meus olhos.

-Droga! -  Exclamo ao que tento retirar a sujeira dos olhos, esfregando-os com as mangas do meu casaco jeans.

Se existe alguém mais infeliz em toda Whitechapel essa pessoa se chama Ethan Morgan. Parece dramático demais? talvez... mas eu tenho pontos a destacar.

Primeiro, logo pela manhãzinha, quando me levantei com uma porcaria de música dos The Smiths berrando no meu celular, precisei sair da cama em um pulo involuntário e desajeitado. Esse pulo fora responsável por um encontro saliente entre a minha testa e o chão. O sangue escorria por todo o rosto, e eu corria de um lado para outro no quarto, pisando nos dados do jogo de tabuleiro qual Jane me obrigara a jogar com ela na noite anterior. Então os primeiros minutos do dia de hoje já foram de fato infernais.

Mas tudo tem como piorar.

Benny e sua namorada loira, alta e elegante passaram por mim o dia todo. Após o intervalo fui obrigado a fazer aula de laboratório com Rory que inventou de levantar a mão para fazer perguntas idiotas para professora Devon durante TODA a aula. Para acrescentar em meu pesadelo pessoal, Benny e Erica infernizaram com xingamentos e ofensas direcionadas a Rory. Eles se sentiam tão especiais, tão inovadores. Dois idiotas!

Me recupero da breve cegueira, e forço um pouco mais o cadeado. Sucesso. O ar escapa pelos meus pulmões, finalmente posso ir embora desse inferno colossal.

-Pelo visto, você é persistente.

A voz corta o silêncio como lâmina. Não preciso olhar para saber que Benny estava em pé atrás de mim, então só permaneço focado em montar na bicicleta para fugir o mais rápido possível daquela conversa.

-Infelizmente, esse é um defeito meu.

Escuto seu riso nasalado. Reviro os olhos.

Deve ser muito engraçado para Benny me ver tentando levar a vida sem ele. Me ver passar por ele nos corredores e me segurar para não falar tudo que tenho enterrado no peito durante esses dois anos infernais. O seu riso revela mais sobre ele do que sobre mim, e eu iria aceitar isso.

-Por que você insiste em gritar na minha cabeça?

Congelo.

-Do que você está falando? - Crio coragem e o olho pela primeira vez nos olhos. Ele está apoiado na grade do pátio, um meio sorriso carrega diversão como era de costume. Seu moletom preto destaca mais sua pele pálida, e as bochechas estão opacas. A sobrancelha está arqueada, e eu preciso pender meus pés contra o chão para não perder o equilíbrio. Ele ainda era dono dos meus surtos internos, e pelo visto ele tinha noção disso.

-Qual é, você sabe. Não se faça de bobo, Bebê Chorão! - Ele vem até mim, o olhar preso ao meu. Por puro reflexo, me afasto e bato contra a minha própria bicicleta. -Benny não faça, Benny não fale, Benny isso, Benny aquilo, você sabe que isso é ridículo não sabe?

-T-talvez isso tenha outro nome.

Me atrevo a dizer.

Por baixo da franja o olhar de Benny não se intimida em momento algum, mais vívido que nunca. O perfume de Erica se torna cada vez mais perceptível e eu sinto meu estomago revirar. O que ele queria de mim? Me humilhar um pouco mais? Se divertir às minhas custas?

-E o quê seria? - Sua pergunta não parecia séria.

-Esquizofrenia . -Mostro um sorriso sínico para o garoto, que balança a cabeça aos risos. - Deixe Rory em paz. E me deixe ir pra casa antes que eu morra envenenado com o perfume da sua namorada.

 Preciso de você, Benny WeirOnde histórias criam vida. Descubra agora