Não sei como foi, não sei quando foi mas fui levado a um lugar estranho. As paredes estão pichadas com frases mórbidas e desenhos de crânios humanos, também existem garrafas de cerveja por todo espaço. Uma casa abandonada. Sério?
Ando de um lado para outro no escuro, uma vela está acesa em uma mesa de madeira com os pés tão podres que se o vento entrasse pelas janelas um incêndio se iniciaria comigo dentro. JANELAS!
Corro até a primeira janela que identifico com olhar, nada acontece. A janela parece impossível de abrir, a madeira está molhada mas ainda é resistente, eu acerto um murro forte nela. Meus dedos formigam com o maldito impacto, eu choramingo baixinho. Que droga, que inferno! Terça, apenas Terça. Eu vou morrer em um dia tão idiota como Terça?
Rory... preciso encontrar o Rory.
O desespero reacende como fogos em um feriado nacional, volto a atingir a janela e gritar o mais alto que era possível estando na minha posição mas nada acontece. Benny ainda estava desaparecido... na verdade eu nem sei quando foi que ele realmente sumiu. Ou quando ele me trouxe pra essa espelunca assustadora. E também não sei o motivo dessa loucura toda. Escorrego de joelhos no chão, as lágrimas escorrem tão cruéis que eu sinto que aquela era sensação anterior ao beijo da morte me agraciando com a mais singela tortura antes de me deixar ir.
Eu só queria ver ele de novo... eu só queria meu pequeno duende comigo. Ele e seus óculos quebrados, resultado de uma brincadeira de mal gosto entre Jesse e Erica, suas roupas amolfadinhas e seus cabelos loiros que brilham contra a luz do sol toda vez que estamos alimentando os patos na fonte do parque.
Por que deixei ele sozinho? Por que fui na maldita casa de Benny Weir?
Minha obsessão machucou o meu amigo. Meu único amigo. Eu era o único culpado por toda aquela situação, e odeio tanto sentir isso.
-Você não cansa não, idiota?
Benny surge repentinamente por trás de mim, eu me viro assustado. Seus olhos revelam diversão, e ele está encostado na parede me analisando.
-Seu filho da puta, me deixe ir embora!
Avanço contra o outro adolescente, os punhos se fecham prontamente mas a única coisa que consigo acertar é a parede. Grito com a imensa dor, a minha visão gira e eu caio no chão.
Benny, por sua vez, já não está a minha frente mas eu escuto sua risada irritante por trás de mim.
-Você não aprende, não é Bebê Chorão?! Lutar não é o seu forte, você sempre acaba chorando e sangrando.
Seus passos são audíveis ao que, provavelmente, se aproxima de mim.
-C-como... você fez isso? O que você é? Cadê o Rory? - Sinto uma dificuldade imensa ao tentar respirar, Benny se abaixa ficando frente a frente a mim. -Responda, seu idiota!
-Você não quer saber. Pessoas que sabem demais acabam mortas em Whitechapel, e eu tenho certeza que nessa altura do campeonato seu amigo imbecil sabe demais.
Por instinto eu me aproximo, meu rosto apenas alguns centímetros de distancia do seu rosto apático e irônico. Existe uma pequena mancha vermelha em sua bochecha, e suas covinhas se revelam quando ele mostra seu sorriso em resposta a minha atitude.
-Não, caralho! O Rory não sabe demais, ele é apenas um garoto inocente. Garoto que foi inocente demais para acreditar em vocês, criminosos!
- Você é tão mau agradecido assim, mesmo? Eu acabei de salvar a droga da sua vida. Você deveria está glorificando o meu nome, implorando por uma mordid-
Acerto-lhe um tapa repentino. Ele começa a gargalhar pendendo a sua cabeça para trás, a pele branca demais e sem nenhuma coloração avermelhada quando decide voltar a me olhar. Seus olhos passeiam rapidamente em direção ao meu pescoço, eu respiro fundo. Minhas lágrimas ainda estão caindo e eu sinto um gosto metálico tomar conta do meu paladar.
Benny decide se aproximar mais.
Sua respiração está gelada e seu olhar negro me analisa profundamente. Eu me afasto por puro reflexo mas ele insiste na aproximação, me fazendo deitar contra o chão sujo da sala. Eu suspiro, nervoso.
Sinto a pontinha do nariz de Benny roçar contra minha bochecha enquanto decido virar meu rosto em direção contrária ao seu rosto invasivo. Ele parecia está sentindo o cheiro da minha pele já que inspirou contra a minha bochecha tão ferozmente ao ponto de me fazer me sentir como uma presa de um animal selvagem. O que ele estava fazendo, caralho?
Não me machuque Benny...
Eu não vou te machucar... soa tão claramente na minha audição que eu sinto um arrepio atingir minha pele.
Então por que está fazendo isso? Por que está me assustando?
Eu não sei agir normal, agir dessa forma é o meu normal. Como você faz isso se não é um de nós? - Benny carrega uma curiosidade genuína em seu tom de voz.
Isso o quê?
Estamos conversando por pensamento. Eu nunca fiz isso com outra pessoa, a não ser que você também seja...não. Sem chances, pelo seu cheiro você é tão comum quanto seu amigo.
Meu amigo...salve ele. Por favor, não deixe que machuquem ele, eu preciso que traga ele de volta pra mim. Benny... faça isso por mim.
Suspiro mais uma vez, crio coragem e viro o meu rosto lentamente, resultando em uma união entre nossos rostos. Meu nariz agora está contra o seu nariz, e meu olhar está vidrado em seu olhar esmeralda. Sinto um intenso pulsar em meu peito que também está conectado ao dele. Seu olhar percorre meu corpo minuciosamente, e sua expressão está tão séria que eu poderia facilmente adivinhar o que se passava em sua cabeça. Confusão. Ele parecia tão genuinamente confuso agora, que eu poderia jurar que ele não fazia mesmo ideia do que estava acontecendo.
-Não saia daqui. Eu vou trazer ele de volta.
E de repente, estou sozinho. De novo.
(...)
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Preciso de você, Benny Weir
DragosteEthan encontrou em seu melhor amigo, Benny Weir, o apoio emocional qual tanto havia necessitado na sua infância. Transtornos e fobias sempre foram suas acompanhantes até Benny aparecer, e era perfeito. Bom, isso até Benny se afastar dele sem explica...