Ayla brincou o restante da tarde com seus novos "amiguinhos" como ela havia chamado. Agora a garota dormia calmamente escorada em Cassandra. Os raios do poente sol atrás das meninas refletiam em seus pequenos cachos, fazendo com que seu cabelo ficasse mais dourado que o normal. Sua pele clara entrava em sintonia com sua calça jeans branca e sua camiseta "azul diamante" como ela chamava. Já Cassandra... usava um tênis preto, que mais parecia de skatista, uma legging preta e uma camiseta dos Simpsons com um desenho do Homer na frente, e apesar dessa "cor" o resto da camiseta era preta. O boné virado para trás em seu cabelo dava mais ênfase aos seus intensos olhos. E apesar de Alana estar se deliciando com a imagem de vê-la acariciando os cachos de sua filha, ainda sim precisavam conversar.
- Ei, precisamos conversar.
- É, eu sei. Eu juro que não queria te assediar, me desculpe por ter dado espaço para interpretações um pouco... brutas?!
Cass falou ao mesmo que a merda de um sorriso sacana se instalou em sua face. Seus olhos se intensificaram no que seria uma brincadeira. A morena sorriu, e o seu sorriso...era tão lindo pensou a ruiva que de imediato retribuiu a risada.
- Como conseguiu meu número? – Essa não era nem de longe a pergunta que Alana queria fazer por primeiro, mas ela não queria parecer uma mãe desesperada em saber por que motivos a garota precisava de antibióticos ou do porque ela os pediu logo para a sua professora.
- Ontem, peguei na secretaria. Expliquei que não tinha ido a aula por motivos urgentes e que precisava falar com você. Por ser sexta feira, e eu ser uma aluna "ótima" segundo a secretaria, ela me liberou seu número. Sinto muito que tenha sido desse jeito. – Pela primeira vez desde que começaram a falar, a morena desviou seu olhar dos azuis infinitos à sua frente.
- Oh, não precisa se desculpar..., eu só fiquei..., preocupada.
Ambas se encararam por alguns minutos até que Ayla se remexeu acabando por ficar no colo da morena. Alana percebe que as mãos da garota estava, levemente tremulas. A professora olha fixamente para elas antes de fazer a próxima pergunta.
- O que aconteceu? – Um silencio avassalador se fez presente. O céu atras de Alana estava começando a adotar uma coloração roxa. A ruiva percebeu seu desconforto no mesmo instante. Droga. – Eu me refiro aos antibióticos..., está tudo bem?
Antes de responder seus olhos voltam a fitar Alana. A intensidade que os cerca atraí a professora como um imã. Cass volta a acariciar os fios de Ayla.
- Não. Quer dizer, sim. Só fiz umas besteiras aí. Coisa de... adolescente sabe? – A morena parecia incomodada com a situação. Muito incomodada. – Eu não podia pedir mais alguma coisa lá em casa e, aquele dia da sorveteria você disse que me devia uma. Sinceramente, não espero que ache que eu cuidei dela por querer algo em troca. E eu odeio ser condescendente como eu estou sendo agora em... – Ao notar o real desconforto da jovem, Alana se estica até encontrar sua mão. Sua boca se cala ao sentir toque das macias mãos da mulher.
- Okay, eu só precisava saber porque eu te dei remédios e tem toda a situação de eu ser sua professora. – Após terminar sua fala e se dar conta do que estava falando a mais velha quebrou o contato com a mão da garota, permitindo que um silêncio constrangedor se estabelecesse.
- Bem, eu acho que já está ficando tarde. – Disse a ruiva, ao mesmo que se botou de pé, começando a guardar os alimentos dispersos pela manta na cesta de piquenique. Cassandra fez menção de levantar para ajudá-la, mas foi interrompida pela mais velha que sinalizou para Ayla que ainda cochilava no colo da morena, impedindo-a de se mexer para não acordar a menina adormecida. Após tudo organizado, Cassandra levantou cuidadosamente com a pequena em seu colo. As duas mulheres foram até o estacionamento do parque, onde logo localizaram o carro da ruiva. A morena colocou a dormente menininha em sua cadeirinha no banco de trás e depositou um suave beijo em sua testa. O sol já havia se posto, dando um ar frio ao ambiente. As duas mulheres se encolheram ao sentir a rajada de vento, enquanto Cassandra colocava a garota em seu assento, Alana guardara a cesta e a manta do piquenique no porta malas do carro, e agora ambas estavam paradas uma na frente da outra. A mais velha estava escorada na porta do carro e Cassandra olhava disfarçadamente para as curvas da professora. O silêncio dessa vez instaurado não era algo ruim. Ambas diziam mil palavras através dos seus olhares. Alana ficava intrigada em desvendar aqueles intensos castanhos, ao mesmo que a morena se sentia olhando para uma lagoa cristalina onde se sentia convidada a permanecer para sempre. Como se nem o destino aprovasse essa situação, uma forte rajada atingiu-as, fazendo com que desviassem o olhar uma da outra. Sem perceber, uma mecha do cabelo de Cassandra se desprendeu e caiu em sua face.
Alana se aproximou da mais jovem, a todo momento encarando aquela imensidão castanha a sua frente. Parou de andar ao mesmo que seus dedos foram de encontro a mecha rebelde da garota.
- Você tem como ir para casa? – Após terminar a pergunta, Alana já havia colocado a mecha para atrás da orelha da morena. O bafo quente da sua voz atingiu o rosto da mais nova, que se sentiu tentada a negar a proposta, mas... não o fez.
- Na verdade, tenho sim. – A morena quase pode palpar a decepção da ruiva que logo se afastou indo em direção ao volante.
- Boa noite senhorita Cage, até quinta-feira.
A morena apenas acenou com a cabeça, porém esperou até a ruiva sair para ir em direção a sua casa.
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Minha querida, ...
Romance"Ao despertar de meus olhos, lembro-me do olhar perverso de meu padrasto. Porém, hoje tenho um motivo para sorrir, aula de biologia com Alana Lynch."