53 | Little Bird.

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HACKER

Eu gostaria de poder dizer que um agente de elite só entrava em trabalho quando se tratava de atividade em campo. Mas além de meus frequentes e solos trabalhos sujos, havia certa administração para se fazer também. Casos para investigar, dispositivos para invadir, sistemas governamentais e arquivos confidenciais para hackear e etc.

Mesmo que não fosse diariamente como os demais agentes especiais, por ser um militar das forças armadas eu tinha o privilégio de não precisar adormecer a bunda numa cadeira o dia todo. Mas de qualquer forma, uma vez ou outra eu acabava confinado em minha sala com trabalhos gerais, ou até mesmo individuais. Mesmo que o último eu costumava fazer sozinho, e não no departamento.

Eliminando a criptografia do último arquivo, o copiando, e por fim o dispensando de todos demais dispositivos que tinham seu acesso, como uma fumaça que se dissipara sem deixar qualquer rastro para até o mais inteligente do mundo conseguir rastrea-la novamente, estiquei os dedos tensionados e virei o último gole do copo grande de café, suspirando quando pude acomodar o corpo na poltrona. Tudo isto era entediante e desgastante, mas uma vez que concordei com isto, não poderia somente torturar e matar pessoas por aí. Infelizmente.

Eu queria mesmo poder dizer que as vezes não sentia falta da certa liberdade dos velhos tempos. Era monstruoso, mas pelo menos não precisava me preocupar de andar na linha cem por cento de meu tempo.

Eu era apenas um demônio à solta, e que se dane sistemas do governo para serem hackeados. Que se dane o governo. As vezes eu me pegava debochando de mim mesmo quando me lembrava de que trabalhava para ele agora, como um idiota corretinho e inocente.

Eu sentia raiva em pensar que realmente existia pessoas que me olhavam assim, um soldado defensor da bandeira, um homem que servia à seu governo e fazia o bem. Era tão injusto. Tão contraditório com a sujeira de minhas mãos. Tão errado que me enxergassem assim...

Todos os dias me perguntava o que aconteceria à mim se quem eu era fosse conscientizado por todos aqueles que apoiavam minha presença em sua volta, seu trabalho, sua vida.

Certamente por isto minha identidade, meu passado, minha pessoa, era um completo e rigoroso sigilo dos últimos oito anos em que eu me registrei com um novo nome. Em que passei de o diabo que pisava na terra para um militar ridículo que servia à um país que nem se pertencia.

O quão drástico era isto?

Estalei meu pescoço uma vez de cada lado, procurando aliviar a tensão acumulada em meus ombros. Me sentia rígido demais, como se meu corpo precisasse de movimento. Não corri nesta manhã ou fiz exercícios, e isto era como uma rotina indispensável para mim, era uma preparação para o dia como pessoas se preparam para qualquer outra batalha.

Se eu parasse para racionar, na verdade, estava já há um tempo considerável muito desfocado de distrações ou qualquer coisa que queimasse calorias. As atividades físicas não foram dispensadas nesta semana, mas também fora meu único meio de derramar suor. Por alguma razão, não fui mandado para qualquer outro trabalho de campo desde que voltei de Moscou. Acho que isto já tinha uma semana, e era certamente um raro acontecimento. Richard não costumava me privilegiar com tanto tempo de folga dessa forma.

Moscou... Talvez eu simplesmente não quisesse aceitar que ainda estava me recuperando.

Talvez eu ainda estivesse com sequelas.

Talvez o reencontro com Margot não me permitiu dormir essa noite com a insuficiência daquele beijo, apenas um beijo, apenas um abraço, apenas minutos que jamais chegariam perto de compensar os quase 5 meses.

MISSÃO IMPOSSÍVELOnde histórias criam vida. Descubra agora