57 | The King Is In Check.

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Consumindo todo o ar dos meus pulmões
Arrancando toda a pele dos meus ossos
Estou preparado para sacrificar a minha vida
Eu faria isso duas vezes, com prazer

Oh, por favor, tenha piedade de mim
Pegue leve com meu coração
Mesmo que não seja sua intenção me machucar
Você continua acabando comigo.

Mercy - Shawn Mendes

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MARGOT

— O que tá pegando moren...?

Marcos parou no batente da porta da sala, refazendo a frase pendente na ponta da língua com uma expressão meramente confusa ao me olhar.

Loira?

— É lace. — expliquei. — Acabei de vir de um trabalho.

Sua boca se formou um "Ah..." de compreensão quando assentiu, antes de puxar a cadeira do outro lado da mesa de mármore e ouro da qual eu estava sentada, se acomodando em minha frente.

Em silêncio, observou minha quietude. Postura desnecessáriamente rígida e olhos gélidos, mas concentrados no tabuleiro de xadrez em minha frente. Meu antebraço esquerdo se deitava sob a mesa com comodismo, em frente à minha barriga, enquanto minha mão direita suspendia no ar, segurando o bispo de madeira escura com cautela. Ainda não havia decidido qual seria sua posição, mesmo que toda jogada do oponente eu mesma quem comandei enquanto estive aqui sozinha, à espera do meu carrasco.

— Diga logo. — suspirando impaciente, ergui o olhar ríspido para ele, que permanecia me encarando após tempo demais. Eu não gostava que me encarassem por tempo demais, especialmente quando tinham algo para falar e evitavam isso, e evitar para dizer algo nunca significava que o que tinha para dizer era bom.

Eu estava aguardando o dia inteiro por suas notícias.

— Você parece péssima. — Mas isto foi tudo que falou.

Encarando-o por um instante a mais, abaixei o olhar, subitamente sabendo a casa exata onde o bispo seria posicionado.

— Meus medicamentos acabaram, e ainda não tive tempo de retornar ao psiquiatra. — analisando a jogada formada no tabuleiro, pousei o antebraço direito acima do esquerdo e permaneci neutra, mesmo quando devia estar suspirando. — Tive uma noite péssima.

Não que as outras fossem boas. Mas essa, em questão, estava acompanhada pelas reações químicas afetadas em meu organismo por conta da abstinência aos medicamentos. Aparentemente, eu não poderia viver sem eles agora.

— Isso é um grande sinal vermelho. — ele observou, suspirando enquanto erguia as mãos em rendição, mas encarava o tabuleiro invés de mim.

Olhei para ele, relaxei a postura, forcei um sorriso em meus lábios.

— Estou bem. — Ele arqueou a sobrancelha, mesmo sem me encarar. Agora se concentrava em tomar o controle da cavalaria clara do xadrez, e parecia considerar minha afirmação uma piada que nem mesmo valia a pena ser ouvida. — Mesmo. Voltei a ler livros, tenho frequentado bastante a academia, diariamente, e também me regrei à uma alimentação 100% saudável. Vincent faz massagem em mim todas as noites antes de dormir, tenho cantado para ele todas as manhãs, e convenci William a diminuir minha carga horária. Tenho certeza de que isso me faz bem. Estou ótima. — olhando para mim, ele analisou meu sorriso difícil, especialmente quando meu dedo mindinho estremeceu em espasmos musculares involuntários quando agarrei um peão. Ignorei-o, forçando-me ampliar o sorriso, mesmo que causasse dor interna em minhas bochechas. — Estou perfeitamente bem. Talvez nem mesmo precise mais dos remédios, posso me adaptar sem eles. Tenho certeza de que posso.

MISSÃO IMPOSSÍVELOnde histórias criam vida. Descubra agora